O dia-a-dia de Sócrates na choldra…

Olá, querido e estonteante leitor. Hoje decidi abordar um tema que tem sido tão pouco discutido pela comunicação social nos últimos dias, que já me estava a fazer alguma comichão e uma ou outra borbulha em zonas do corpo que prefiro não revelar para não estragar o que pode estar a ser, até esta altura, um bom dia para o leitor. Falo obviamente do caso Sócrates.

Então o Shôr Sócrates é detido durante três dias para interrogatório, e a comunicação social nada relata sobre o caso? Nem aparecem no Campus da Justiça, em Lisboa, para fazerem directos, e nem sequer para tirarem umas fotografias aos carros onde o ex-primeiro-ministro é transportado. E nem vasculham todos os passos que os juízes, advogados e outros que mais, fazem durante esses três dias em que o pseudo-engenheiro foi alvo de interrogatório. Nem se importaram em vasculhar o que o homem comeu ao pequeno-almoço, em que cela dormiu, e nem sequer se ele dormiu numa cama confortável. E nem se ocuparam em saber se tiveram o cuidado de hidratar convenientemente o Sócrates – porque toda a gente sabe que um homem que pratica jogging, tem obrigatoriamente de se hidratar como “manda a lei” (Eish, viram o que acabei de fazer aqui?). Nem mesmo quando ele acabou detido no Estabelecimento Prisional de Évora, a comunicação social teve o cuidado de enviar equipas de reportagem para o local, nem colocar os helicópteros do trânsito a sobrevoarem a prisão, com o intuito de apanharem José Sócrates a brincar aos legos no pátio com os seus novos colegas.

E é com base nesta falta de profissionalismo por parte dos vários elementos que compõem a comunicação social deste país, que eu decidi arregaçar as mangas e informar os portugueses sobre como têm sido estes dias de José Sócrates no Estabelecimento Prisional de Évora. Para isso falei com um amigo meu que, por mera coincidência, tem um primo que tem um irmão que tem um avó que tem um amigo que serviu com ele no ultramar, que tem um bisneto que se encontra preso juntamente com José Sócrates. E que, gentilmente, se propôs a contar-me (enviando-me um pequeno relatório via email) como têm sido os dias do pseudo-engenheiro-ex-primeiro-ministro-e-intruja-mas-que-claramente-todo-o-ser-humano-é-inocente-até-prova-em-contrário, no Estabelecimento Prisional de Évora.

O relato do bisneto do amigo do avô do irmão do primo dum amigo meu: 

7H30: Alvorada na choldra. Todos nós acordamos com o som do despertador do menino Sócas, a tocar uma música em francês com uma gaja com uma voz toda esganiçada, mais o caraças. Vim a saber mais tarde que era uma tal de Piaf, ou lá o raio…

8H00: Todos nos reunimos no refeitório para o pequeno-almoço. O menino Sócas, desata numa choradeira horrível como se fosse uma criança a fazer birra por ter sido deixado pelos pais num infantário, pela primeira vez. Tudo por causa que o gajo queria um croissant, em vez de uma carcaça com manteiga. Deve ter a mania que é franciu, deve…

9h00: O gajo vai para o pátio, e senta-se a ler o seu livro. Um dos presos foi ter com ele, pediu-lhe um cigarro, mas ele disse que não tinha. Acabou a levar com o próprio livro nas fuças e ainda foi obrigado a comer 3 ou 4 páginas do seu livro. Passou as 3 horas seguintes a falar sobre filosofia, Platão, Aristóteles e sei lá mais o quê. Devem ser amigos do gajo, se calhar, e ele deve estar cheio de saudades deles. Ou então foi das páginas do livro que ingeriu. Sei lá…

12H00: Hora do almoço, e o menino voltou a fazer birra. Ah e tal, que não queria comer o feijão com arroz, e que só comia se lhe trouxessem um La croque-monsieur. Mas não era um qualquer: tinha de ser um de Paris. O gajo é meio totó, não é?

15H30: Depois de umas horinhas na cela a fazer a digestão, fomos até ao pátio. E lá estava ele, de calções e t-shirt a correr à volta do recinto. Ao princípio o gajo ia nas calmas, mas após 2 voltas parecia o Usain Bolt a fugir dos outros reclusos que corriam atrás dele e gritavam: “Ai, que rabiosque mai lindo, mai gostoso! Anda cá, não fujas!”

19H00: Hora de jantar. Então não é que o menino Sócas voltou a rejeitar a comida, dizendo que só comia se fosse um prato francês. O Cozinheiro sabendo que ele iria voltar a fazer birra, espetou-lhe uma francesinha no prato e disse-lhe que não ia ter direito a sobremesa, se não comesse tudo o que estava no prato. Às duas por três, estavam dois reclusos a fazer o “aviãozinho” para o Sócas comer tudo, e depois fanarem-lhe a sobremesa…

21H00: Balneários. Após alguma resistência em retirar a roupa para tomar banho, o gajo lá ganhou coragem. Logo 2 reclusos se dispuseram a ajudar o Sócas a tomar banho, dizendo que costumavam “fazer um jogo muito giro, que consistia em deixar cair o sabonete para o chão, para depois o noviço apanhar, mas sem se agachar e com as pernas afastadas.” Ele no principio não queria alinhar na brincadeira, mas depois disseram-lhe que era um jogo que o ia ajudar a descontrair e dormir mais relaxado, e ele lá aceitou jogar…

23h00: Hora de deitar. Adormeci com o Sócas a ouvir uma música muito estranha, que parecia ser um misto de choro e de pequenos gritos “Ai, arde! Arde tanto‼”. Preguei-lhe dois berros: “Está calado! O que arde cura! DORME!” Adormeci logo de seguida. Mas antes disso, decidi que no dia a seguir seria a minha vez de jogar àquele jogo do sabonete com ele…

(De referir que, quando esta crónica foi escrita, o autor estava sobre os efeitos de duas poderosas drogas de seu nome “Sarcasmo” e “Ironia”…)

 

Até para a semana, malta catita…