O Idiota da Aldeia – Manifesto Pró-Flato

Vivemos em pleno século XXI, uma altura em que já despenalizámos o aborto e aceitámos o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas em que continuamos a ignorar uma prática comum apenas por ser desconfortável para a maioria: o flato. Nos tempos que correm, o flato é ainda encarado como um fenómeno que afecta apenas os estratos sociais mais baixos, as pessoas com menos higiene e educação. Obviamente, esta ideia está longe da realidade. Todas as pessoas emitem gases: novos e velhos, ricos e pobres, homens e mulheres. Sim, mulheres. Sei que esta afirmação é polémica, mas um estudo científico recente veio provar que as mulheres também dão traques. Para além do mais, ao longo da história, podem ser encontradas referências que revelam que muitas figuras ilustres eram adeptas da bufa, figuras como Isaac Newton, Albert Einstein ou Pinto da Costa.

Ora se as ventosidades fazem parte de um processo fisiológico natural, então porque  continuamos a fingir que não existem? E porque é que sempre que soltamos um flato num local público, as pessoas nos olham de lado e nos tratam como autênticos criminosos? Chega de negarmos a realidade. Basta de reprovação social cega e infundada. É preciso descriminalizar o flato!

Calma leitor, não defendo a descriminalização de todos os traques, só dos leves. Sim, porque eu também não quero andar na rua e ser vítima de uma daquelas minas olfactivas capazes de afugentar animais selvagens. Eu defendo apenas que possamos soltar, ocasionalmente, aquele pequeno pum que se encontra enclausurado e manifesta vontade de sair à rua, sem que sejamos linchados em praça pública.

Até porque a discriminalização do flato traria inúmeras vantagens. Em primeiro lugar, se o peido fosse uma prática socialmente aceite, reduzir-se-ia o número de pessoas que apenas passam gases para provocarem os outros e se afirmarem. Muito provavelmente, cessariam alguns rituais decadentes perpetuados hoje em dia, como as difundidas competições de traques, o célebre “puxa o meu dedo” ou mesmo a créme de la créme das invenções escatológicas: o infame “bafo do dragão”.

Outra vantagem seria a expansão da mente. A acumulação de ventosidades dentro de nós não só é contra-natura, como exige um elevado grau de esforço, controlo e concentração. Por outro lado, quando libertamos um traque, existe uma sensação de alívio supremo, quase um nirvana, que liberta a nossa mente para pensarmos nos problemas verdadeiramente importantes da vida. Sem a presença de ventosidades a consumir os nossos recursos cognitivos, arrisco a afirmar que poderíamos, finalmente, conseguir a paz mundial.

Por tudo isto, peço que se junte a mim e a tantos outros nesta batalha. Ajude-nos a criar um mundo onde as pessoas não sejam julgadas pela sua flatulência. Como fazê-lo? Simples. Junte-se a nós na marcha de sensibilização que está a ser organizada contra esta injustiça social. Apesar da marcha ainda não ter data nem local definidos, se o leitor quiser participar, poderá encontrar-nos seguindo o distinto “cheiro da liberdade.”

NOTA: A descriminalização do flato defendida neste manifesto não inclui os flatos vaginais. Isso não é natural, é só nojento.

Crónica de Amílcar Monteiro
O idiota da Aldeia