O meu pequeno Jardim – parte 1

Acordei julgando que o mundo não era mais que o meu jardim de brincadeiras. Jardim esse onde, sentado, corria, jogava, saltava. Era sentado que eu corria, jogava, marcava. Era também sentado que eu deambulava, sonhava, adormecia. Chorava e sorria com a cadência de uma criança recém-nascida, mas uma adulta inconstância.

Era a ciência que me movia, a Física que me impelia e a frágil biologia, que temia.

Medo. A minha perpétua analogia, pronta a cair perante a infalível lógica dos meus silogismos, impensável certeza de uma equação (pensava eu) acabada.

Pensava eu amar a verdade, a razão, o sonho de uma Universalidade. Pensava eu que sonhar era o mesmo que lutar. Que era a lutar que o Mundo iria salvar. Que o meu jardim… O meu pequeno, lindo e azul jardim era a estima do Homem, a Vida, o seu estimável amor, a sua paixão.

Eis que as portas se abrem e a cinza invade o meu jardim… Estou cego. Não sou capaz de ver o verde da minha roseira e o azul do meu lago.

Levantei-me e chorei. Pesadas lágrimas, rolando como safiras pela minha (imagino eu) elucidativa face.

De seguida, caí, gritei e parei. Julguei estar só. Só, no meu pequeno e cinzento jardim, cheio de vozes. Mas a contradição não se perde em si mesma. Perguntei a mim mesmo: “quais vozes?”

Vozes que não percebia. Vozes que a minha racionalidade não entendia, palavra, única palavra, que não apreendia: subentendia. Tanto que a reação, fiel a uma qualquer lei molecular, se resumiu a uma simples ação: fugi.

Fugi para longe. Longe do tempo e do vento, onde a minha adolescente mente julgava poder esconder, refundir, eliminar a questão.

A conclusão… Estava longe de iluminar os pequenos neurónios em exercício deste indivíduo que hoje vos escreve. Longe, no país onde as águas são cinzentas, eu fiquei.

Não sei quando voltei.

Continua…

ViriatoQueirogaLogoCrónica de Viriato Queiroga
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