O salário mínimo

Dos países que têm salário mínimo, consta que somos dos países com o salário mínimo mais baixo. E seria óptimo aumentá-lo porque haveria mais dinheiro nos bolsos dos portugueses, animaria a economia. Depende. Temos de ponderar os prós e os contras.

Sim, mais dinheiro nos bolsos dos portugueses pode significar mercado interno mais animado, se os portugueses gastarem o dinheiro nos produtos nacionais, nas lojas nacionais. Aí as empresas sobem vendas, mantêm funcionários e muitas evitam fechar.
E se não gastarem? E se o usarem para a poupança? A maior parte dos portugueses aforra usando o seu banco. Muitos optam pelos depósitos a prazo, que geram mais juros. Aí os principais beneficiários são os bancos, que ficam com mais liquidez.

E do ponto de vista das empresas? Uma empresa que tem 20 funcionários a ganhar o salário mínimo, se o mesmo subir 15€ como propõe a UGT, vão ter mais 4200€/ano de custos em salários ou cerca de 8400€, se subir para os 515€, como pede a CGTP. Imaginem se for uma média empresa, com mais de 100 funcionários… Se não existirem vendas que cubram essa despesa extra, acabam por ter de despedir pessoas na mesma, quiçá até fechar.

Por tudo isto, creio que sim, devemos aumentar o salário mínimo, mas devemos ter em consideração também os empregadores, pois são eles que mantêm os postos de trabalho e, se o mercado permitir, têm a capacidade de criar mais emprego. Por isso, a meu ver, o salário mínimo deve subir sim, mas de forma gradual. E apostar-se cada vez mais no incentivo ao consumo de produtos portugueses devia ser outra prioridade. Só assim faz sentido, para o dinheiro circular, mas no nosso país.

Outra coisa que toda a gente fala mas tem sido difícil alguém colocar em prática é a meritocracia. Isto é, cada qual ganhar pelo que faz, pela sua produtividade, pelo que o seu trabalho representa no sucesso da empresa e não por cunhas ou favores. E todos nós sabemos que em todas as legislaturas (especialmente nos anos de governo do Prof Cavaco Silva), muita gente entrou para a função pública não porque eram necessários mais funcionários, não por mérito próprio, mas porque conheciam alguém que lhes garantia esse emprego, num contrato sem termo. E nós todos a pagar por isso, com os nossos impostos.

Em suma, para mim, subida do ordenado mínimo de forma progressiva, campanhas activas e intensivas de promoção dos produtos nacionais e pagar consoante o mérito de cada um. Seria um grande avanço para ultrapassar as dificuldades actuais e, por que não, um grande avanço civilizacional. Não seria solução em si, mas já seria muito bom.

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…