O triplete inédito com o travo amargo a Turim

Já diz o ditado, tudo está bem quando acaba bem. Porém, se o final feliz não for o desejado? Se tiver servido apenas como aqueles comprimidos para as dores de cabeça que, apesar de as atenuarem, não as eliminam por completo? Pois bem, foi isso que significou a conquista da Taça de Portugal e o triplete inédito. Em jogo de despedidas, a mais dolorosa havia sido feita na passada quarta-feira, quando os encarnados se despediram de, mais uma, conquista europeia.

Não há como negar, o Benfica conquistou o primeiro triplete da história do futebol português – muito por culpa do facto da Taça da Liga existir há poucos anos – e fez assim história no nosso país. No entanto, a história feita pelo Benfica teve um travo amargo. Em qualquer outra altura, se se perguntasse aos adeptos quantos deles desejavam acabar o ano com 3 troféus em caixa, a percentagem dos que diria que não roçaria os 0%. Contudo, a história acabou por ser diferente. Nos dias de hoje haveria certamente mais adeptos que se lamentariam pela final perdida da Liga Europa do que os que se congratulariam pelo triplete.

Por mais que se tente inverter, que se desvie o assunto ou que se diga que não com um sorriso amarelo, a verdade é que perder uma final europeia nos penaltys abate qualquer um, qualquer adepto, qualquer jogador, qualquer equipa. Se tivermos em conta que foi a segunda seguida, é mesmo caso de depressão crónica. Beto, o guarda-redes internacional português, fechou a sua baliza a sete chaves e forçou novo desaire europeu, a oitava final perdida. O que é certo é que por mais ênfase que se te tente dar às outras conquistas, este foi o grande momento da época, era aqui que todas as esperanças estavam depositadas e todos os sonhos guardados. Não passaria pela cabeça de ninguém perder novamente, muito menos da forma como foi.

Este Domingo, porém, a equipa encarnada entrou em campo determinada a provar que o falhanço de quarta-feira em nada os teria afectado, que estava mais fortes que nunca e que só conquistar o inédito lhes interessava. Não conseguiram. É facto que ganharam bem, mas sem o brilhantismo de outrora e com um semblante mais pesado que o habitual. Por mais importante que fosse a conquista da Taça de Portugal, a verdade é que o maior sonho se havia desvanecido e tal hecatombe não se cura em 5 dias. Jorge Jesus só se poderá dar por satisfeito por ter chegado o fim da época, caso contrário, não se saberia os danos que a final de Turim causaria.

Duas finais ganhas em três disputadas, além do campeonato conquistado. É este o resumo da época do Sport Lisboa e Benfica. Depois de uma época em que perdeu tudo, Jesus mostrou que é possível dar a volta por cima e vencer as adversidades e acabou com um registo bastante positivo. No entanto, após as mãos de Beto perpetuarem a maldição de Béla Guttman, a equipa acabou por falhar aquele que seria o grande objectivo e aquele para o qual Jesus se havia predisposto a conquistar. Agora, terminada a temporada, é tempo de balanços. Será que mesmo tendo feito história, conquistando o triplete e levando a equipa, quase, ao topo da Europa, Jorge Jesus vai ficar? Tendo falhado o seu grande objectivo, será que é mais uma “desculpa” para ficar e tentá-lo de novo para o ano? Ou será que o sentimento de dever cumprido se apoderou do técnico do Benfica e teremos novo timoneiro em breve? Tudo questões que serão resolvidas nos próximos tempos. Como tal, não percam o próximo episódio, porque nós, também não.

AntónioBarradasLogoCrónica de António Barradas
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