Onda triste

Por mais indignação que tenha sentido e sempre o senti, desde que o tema se começou a falar, eu era para não escrever sobre isso, pois acho que existem pessoas com maior capacidade para o fazer. Acontece que eles falam e não param, como se tivessem toda a razão do mundo e não têm nenhuma! Porque por mais ângulos que se olhe para o assunto, não há uma ponta onde eles podem pegar, a não ser com falsidades ou na sua fé podre. Estou a falar da onda amarela que invadiu as nossas televisões no horário das notícias e olhar para aquilo é como olhar para um circo dos horrores da mentalidade humana e se ainda não descobriu do que estou a falar, é sobre o estado pagar a alguns pais para porém os filhos numa escola privada quando há uma pública por ali. Pois é, parece uma anedota, mas não é! Que os pais queiram o melhor para os filhos é legítimo, agora que o queiram a custa de outros pais que põe os seus filhos na escola pública, por não terem dinheiro para os pôr na privada e paguem para os dos outros andarem numa privada, é imoral, para não dizer outra coisa… depois veem com os seus argumentos, sem base nenhuma a não ser nos privilégios, mas quem os quer que os pague! Afinal não é isso que todos nós fazemos? Vivemos uma altura em que até o pudor se perdeu em tirar o que é de todos para seu próprio bem e lutam por isso, como se fosse um direito deles, porque os filhos deles são mais do que os nossos e por isso não podem andar numa escola pública e temos nós os que têm os filhos menos dignos a pagar. Esses tempos já lá vão, pensava eu! Mas não nos enganamos, há muita gente dessa por aí escondida.

Uns dos argumentos é a distância da casa a escola, isso é para mim o argumento mais triste de todos, senão vamos ver falando dos nossos filhos, os filhos dos que vivem nas aldeias onde as escolas fecharam, quer por um modelo assim ser insustentável, quer segundo os governos por uma maior qualidade de ensino. Seja como for, a verdade é que aqui na minha aldeia as crianças tinham a escola pertinho de casa, vinham almoçar a casa com os pais e já para não falar na segurança que tinham, pois toda a gente se conhece e toda a gente vê tudo. Agora vão a escola a 18 km daqui, acordam mais cedo e vão num autocarro, muitas vezes de inverno sem aquecimento. Apesar de muitas aldeias terem protestado, na minha não houve nada e aceitamos, é a escola pública e estamos sujeitos aos governos que passam pelo poder que deviam proteger e tratar as crianças de todos de igual forma, mas nós vemos como na verdade funcionam as coisas e infelizmente o povo português, ainda não luta muito por um estado mais para todos. Agora chegamos ao cúmulo de essa gente dos privilégios virem a rua lutarem…

Os meios de comunicação foram e são, a favor de essa gente. Mais uma vez ficar ao lado dos que têm privilégios, com uma cobertura ao pormenor, com debates falaciosos e por aí a fora! A tirarem areia para os olhos dos que pagam, como se tudo isso fosse a luta de um povo, algo que nunca foi. A televisão, nossa boa companhia de outros tempos, quando criança para dizer que algo era verdade, bastava dizer dou na televisão para ser a verdade absoluta! Mas sempre nos enganou, nos lavou os cérebros e nos drogava com novelas, futebol e religião. Com muitas mentiras na informação sempre a favor dos direitos de quem já tem muito.

Uns dos pais disse numa dessas manifestações a uma câmara da televisão “o meu filho não tinha notas boas na escola pública, foi para a privada e tirou melhores notas. pergunta o jornalista: onde está o seu filho agora? O pai tão indignado respondeu: a trabalhar na suíça ele não tinha jeito para aquilo” sem comentários…

A pergunta que ficou por fazer: quantas escolas das aldeias tiveram de fechar para o estado pagar as escolas privadas para alguns?