Cara Felicidade,
É com um sentimento de raiva, desapego e extremo desapreço que te escrevo para declarar a minha extrema insatisfação com as tuas atitudes perante a Humanidade (também conhecida e constituída, somente, pela minha pessoa).
Imagino que te perguntes, pese embora o teu metafísico ser, acerca da razão desta mesma carta aberta, nesta iniciativa online opinativa. Não que com questões relacionadas com privacidade estejas propriamente preocupada… O que me leva ao primeiro ponto da listagem de críticas e sugestões que tenho a realizar à tua ajurídica personalidade:
- Demonstrações públicas de afeto – Como podes tu permitir, no teu dia Internacional, similares coisas que tem uma tendência a desanimar as pessoas que vivem, todos os dias, envoltas nas suas inseguranças próprias, e que, consequentemente tem que consentir tais enormidades, não adequadas ao profissionalismo próprio da via pública (ou sequer à assunção da distância de segurança e respeito às liberdades religiosas no contexto da vida privada). É uma questão de princípio!
- Contato físico – Ah, a minha crítica preferida: como podemos nós viver numa sociedade onde, apesar das doenças, enormidades dadas pelo desrespeito dos mútuos físicos de quem orbita em volta de movimentos liberais, punição a quem as Entidades Superiores submetem as suas Bênçãos, se prospera na subsistência do que insiste em não existir?
- Consequências económicas – Porque tanta proximidade física desaproxima estas criaturas daquilo que realmente importa: a capacidade de produzir algo realmente útil para quem as rodeia, vis a vis, dinheiro. Bens. Matéria que compõe o Mundo.
- Sentimentos – sobrevalorizados. Como é possível vermos quem os rodeia desta forma, não atentando ao ponto anterior, mas sim aos seus egos?
- Egoísmo – extremo. Como podem querer partilhar essas suas experiências com os outros, nomeadamente, eu, quando luto incessantemente todos os dias para realizar aquilo que tem substância para todos nós?
- …
- …
- …
- …
- …
…
…
…
Escrevia ele, sem parar até que um pequeno pensamento invadiu a sua mente:
“Quando foi que me tornei amargo ao ponto de escrever uma carta a uma abstração humana, apenas para exprimir o quão infeliz me sinto?”
Pensou ele, enquanto observava, por cima dos seus óculos e do seu Tablet, as crianças que corriam em volta de seus pais, reclamando a sua atenção, conseguindo-a, em última instância. Os amantes que se abraçavam, nesse romântico cliché, que por muito repetido que fosse, continuava a enternecer os corações de quem tinha ângulo para conseguir observar por entre os arcos de água que brotavam da fonte. Todas elas… Demonstrações. Afeto igual a felicidade. Realização, numa perspetiva que muito pouco tinha que ver com feitos. Eram tão-somente as pessoas a serem pessoas. Ele não sabia como classificar tal coisa.
Levantou-se, furiosamente, caminhando com a raiva de quem necessita de fugir de uma realidade que não era a sua. Mas que a desejava.
Mas… Por vezes… O corpo humano trai os próprios princípios perseguidos pelo indivíduo. Ao caminhar, cada vez mais lenta e inconscientemente, os seus lábios expressavam um ligeiro, mas verdadeiro, sorriso.
Talvez não fosse a felicidade que ele desdenhava, mas sim a possibilidade de vir, ele mesmo, a ser feliz.
Mais crónicas
EU PROCRASTINO, E TU?
As mulheres merecem um amor feliz
O MEU MUNDO INVERTIDO