Para que raio serve a Catequese para os miúdos?

Quando era miúda frequentei a Catequese, a minha mãe deve ter visto algum filme sobre a salvação do mundo e achado que, eu me salvaria na arca de Noé se frequentasse a igreja católica. Fiz a primeira comunhão com onze anos, mas com esta idade devia fazer a segunda comunhão e não a primeira, o que significa que era mais sabichona que os meus colegas da catequese.

A  verdade é que, achava uma real seca aos Sábados de tarde ir para a catequese aprender sobre Jesus e a sua vida sofrida na Terra, mas ainda achava mais descabido acordar cedo aos Domingos para ir à missa das dez horas.

Depois de ter feito a primeira comunhão, fui convidada para ser catequista…não se riam leitores, o que eu escrevo é a mais pura das verdades! Fui convidada e além de não ter aceite, não frequentei mais a igreja. Nem missas, nem segundas comunhões, nem casamentos,nem baptizados.

Eu não quero causar nenhum estigma sobre este assunto, só estou a dar a minha opinião sobre a inutilidade da catequese para  a vida presente e futura de uma criança.

Eu  não me tornei melhor nem pior pessoa por ter aprendido sobre a vida de Jesus, continuo a batalhar nos meus dois lados da personalidade, o bom e o mau, como todas as pessoas. Frequentar a catequese não me curou as carências de infância nem as magoas da adolescência. Ir à missa todos os Domingos não me despertou maior ou menor fé. A Confissão ao padre é uma estupidez, porque o padre é uma pessoa exactamente igual a nós, e tomar a hóstia é um ritual completamente desnecessário.

Os pais colocam os filhos na catequese mas esquecem-se de lhes transmitir a fé em casa. Gabam-se que os anjinhos andam na catequese, mas não lhes perguntaram o que eles realmente queriam fazer aos Sábados de tarde.

Não acredito na historia de Arca de Noé, nem na crucificação e ressuscitação de Jesus, nem em nenhuma dessas historias cristãs. O que acredito piamente é que existe uma entidade superior a nós, que nós orienta ao longo da nossa vida, se a entidade se chama Jesus ou Deus ou Josefino, isso pouco importa. Acredito que existe outra vida para além da morte, até porque falo com a minha avó muitas vezes e ela faleceu quando eu tinha dois anos ( é nesta parte que contactam o manicómio para me levarem numas ferias sem regresso previsto).

O ser humano tem de acreditar em algo sobrenatural, algo para além do óbvio, do plausível, do palpável, se não aí sim, ficaríamos loucos. Agora os pais estarem com aquelas tangas: Se te portares mal, Jesus ralha contigo! Estas a ouvir a trovoada? É Jesus zangado connosco. Queres muito isso filho? Reza a Jesus. Ah, por favor, que sacrilégio para os miúdos! O meu filho de sete anos tem a sua fé, fala com Jesus quando lhe apetece, não tem hora nem dia para rezar, e quando se porta mal, não é Jesus que ralha, sou eu mesmo, que estou ali e sou bem palpável nas palavras e nos castigos! Não sabe o pai-nosso nem a ave-maria, mas isso não lhe acrescentaria nada de positivo na sua vida. O que lhe enriquece a vida é ter pais conscientes, sábios e realistas. É tão feliz e preenchido espiritualmente como um miúdo que frequente a catequese.

Querem actividades para as crianças aos Sábados de tarde? Ver um filme em casa, aulas de natação, dar uma volta de bicicleta até à Marginal, ir ao cinema, aulas de dança, aulas de artes marciais, aulas de línguas…tantas actividades lúdicas que podemos fazer com os nosso filhos.  Confesso que tenho alunas minhas que vão a correr da catequese para o ensaio de dança aos Sábados à tarde. Eu não ensino o pai-nosso nem a rezar, mas eles brincam, pulam, riem, dançam, fazem birras, exercitam os músculos, a expressão facial e corporal…sabem porquê? Porque são crianças!

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense