Volta.
Afronto o sono. Permito-me a tentar dormir. Apenas eu, nesta saudade que a cama vai tornando maior. Deito-me, despido de forças minhas. Estendo-me ao comprido, despojado de uma violência arrebatadora. Afasto o mundo e todas as palavras por dizer. Por todas as ruas existentes, há candeeiros que queimam a luz do teu rosto todo. Só por esta noite. Fico aqui, sem me mexer. Eu e esta urgência de ti.
Os meus olhos. Os meus olhos, sinto-os apertarem-se. Não de gargalhadas, mas de choros enlouquecidos. Uma loucura semelhante à minha.
Aqui, neste romance escrito e contado, sofre todo o mistério que envolve a tua ausência. E o sofrimento é um ato impremeditado, um episódio caraterístico da vida. A morte tranquiliza a dor dos mortos; estupidez absoluta. Sinto falta de querer estar morto, e estar morto não significa amar-te menos. Porque os desmedidos amores imperam além da cessação.
Fingir é um ato recreativo. A vontade de vomitar, o fastio, incitados pela probidade do prejuízo como particular aptidão, acercam Fernando Pessoa, Teófilo Braga, Antero de Quental, Jorge de Sena, Florbela Espanca, e todos os movimentos que encerro.
Viver é dividir paredes com os outros. A intenção é livre, com que posso contar contigo. Uma preocupação horrível de emoções morais. Gosto de te dizer. Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia de te dizer. E afirmar-te é cair no abismo, em que o trejeito da entrega transporta para o papel as imagens, as ideias, as tremuras, como cores esbatidas, onde um céu qualquer corrobora, confuso.
O romantismo que não se fez ainda. A verdade pelo interior humano. A certeza dos exageros, os diversos poderes resididos na imensidão da alma. A ossatura exposta nas mãos do destino.
Mulher que teimas ser. Fatalidade escapada. Peito metido na cadeia do esquecimento. O teu descuido, por mim.
Incorre o sublime sentimento de êxtase. A sombra de um movimento que interfere na verdade do nosso corpo. Trago-te rosas vermelhas, um copo de vinho possante, para que o teu beijo não pronuncie uma única palavra, apenas encete, consinta e abrace o meu sentido.
Começa em mim, todos os dias infinitos, a carne do teu chão e a representação perfeita de tudo. Mentir não custa. O que causa trabalho é ser feliz sem ti.
Volta.
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