Pensar na morte da bezerra!

Muitas são as expressões que usamos e não sabemos a sua origem, neste sentido, vou deliciar-vos com mais algumas!


Naquela manhã, estava V(B)era (bera – significava jóias falsas, hoje em dia, quando se diz que uma pessoa é bera significa que é uma pessoa falsa) a passear pelo imenso campo. A enorme área de erva, cobria aquela terra seca e torrada do sol.

Mais à frente, estava um agricultor a pastar o seu gado. No meio daqueles animais estava uma bezerra a tremer. Uma esquelética bezerra refogiava-se por trás do seu dono. De repente, e sem ninguém esperar, apareceu um militar com a sua espingarda de ouro sobre azul e matou-a a sangue frio. (ouro sobre azul – era usado nas espingardarias, as armas eram azuis e tinham gravações a ouro. Hoje é usado quando nos referimos a algo que corre bem.) O agricultor assustado pôs as mãos à cabeça e sentou-se, debruçando-se sobre a bezerra, chorando. V(B)era aproximou-se consolando o agricultor. Colocando a sua mão nas suas costas frias, disse-lhe:
– Não podes pensar na morte da bezerra!( hoje significa que estamos distantes ou pensativos e antigamente os bezerros eram sacrificados como forma de redenção de pecados!)

O homem levantou o olhar e agradeceu as suas pequenas palavras. Foram poucas, mas pareciam sentidas ou ela era bera?Como um azar nunca vem só, o homem deslocou-se até casa para contar à sua esposa o que se tinha passado.

Contudo, algo estranho tinha acontecido, as malas estavam à porta e esta estava trancada. Desesperado, pegou no telemóvel e tentou ligar à sua mulher para pedir-lhe explicações. Sem resposta, dirigiu-se ao café mais perto. Sentou-se, cabisbaixo, e pediu uma bebida. Vários foram os copos que bebeu e saiu de lá com uma dor de cotovelo enorme, pois passou o tempo todo com o cotovelo apoiado no balcão. (hoje é uma expressão usada para designar a inveja)

Doía tanto e resolveu pedir à Joana para ir lá dormir, uma vez que, ela tinha uma casa onde qualquer pessoa podia entrar, mandar e onde se podia fazer um pouco de tudo. Como já não ia sóbrio, foi ter com a V(B)era. Esta, ao vê-lo naquele estado, afirmou que aquela não era a casa da Joana! (hoje significa lugar de desordem e bagunça.) Contudo o homem não concordou e gritou, chamando-lhe de BERA! E ela irritou-se, negando o que ele disse. Continuando o diálogo, ele defendeu-se exclamando que eram todos farinha do mesmo saco! Pouco convencida, perguntou-lhe o que é que ele queria dizer com aquilo e ele explicou-lhe de forma sucinta.

-A farinha que é boa é separada para um saco diferente daquela que é menos boa. E tu entras neste último saco. Ajudaste-me no inicio e eu fiquei-te grato, mas apercebi-me que isto trazia água no bico. Foste tu que insinuaste à minha mulher que eu andava contigo? Tenho a certeza que sim. Sua BERA!
Dito isto, o homem virou costas e seguiu seu caminho. Nem tudo podia correr mal e algo de bom podia acontecer. No decorrer do seu trajeto, encontrou um objeto fantástico. Nunca tinha visto nada assim. Pegou nele e viu que se tratava de um roscofe! Fascinado com o que encontrou disse que ia guardá-lo no seu baú a quatro chaves! Sim a quatro chaves porque eram nos baús das cortes, que tinham quatro fechaduras, onde era guardado as jóias. E este é um relógio. E, também é uma jóia!

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