Perguntas estúpidas merecem respostas parvas…

Olá, caro leitor. Hoje, por mais impressionante e inacreditável que seja, decidi apresentar-lhe uma crónica piquena. Chamemos-lhe, vá, uma «crónica à Marques Mendes»! Ah! Ah! Percebeu a piada? Crónica pequena… Marques Mendes… Ah! Ah! Foi muita boa, esta, não foi? (Vá, não adianta soltar um «Pff… Que estupidez da grossa!», porque eu sei que a piada foi uma verdadeira bosta. Mas, como bom leitor que é, faça esta alma solitária feliz e finja que se divertiu à brava com a piada… Solte um «Ah! Ah! Esta está boa! Este Ricardo, pá… É cá um engraçadão…» sem qualquer receio… Isso, você consegue! Isso! Nã… deixe lá isso, porque está a soar demasiado falso… Se o caro leitor pretende seguir uma carreira sólida na interpretação, aconselho-o vivamente a tentar outra área, porque a interpretar é muito fraquinho…)

Quantos de nós — pessoas mentalmente sãs — não lidam diariamente com pessoas que idolatram a retórica? Seja no trabalho, em casa, ou entre os amigos, existe sempre alguém que se acha no direito de nos importunar a vida com perguntas básicas, sobre pequenas observações do nosso quotidiano. Fazem perguntas simples, mas igualmente de uma qualidade de tal forma absurda, que quase nos leva a perder a paciência e desatar à pancada sem dó nem piedade. Tive a liberdade de elaborar alguns exemplos, para que o leitor (Que diga-se de passagem, está extremamente esbelto hoje!) entenda o que estou a falar…

 1º Exemplo: 

Chegamos ao trabalho, e um colega dispara a seguinte e absurda pergunta:

«Então, estás cá hoje?!»

Ora, o que será que devemos responder perante uma interrogação deste calibre quando todos os dias – de segunda a sexta-feira – nos encontramos lá, no trabalho, ao seu lado, a laborar que nem uns doidos…? Isto:

«Não, pá! Isto que tu estás a ver, não sou eu. É um holograma! Sabes, é que  fui uma vez assistir às gravações de um dos filmes da saga Star Wars, e fanei a traquitana dos hologramas ao R2D2, porque sabia que um dia iria dar-me jeito para não vir trabalhar…»

 2º Exemplo:

Encontramo-nos em plena hora de almoço e, no refeitório do trabalho, sentamo-nos à mesa com o tabuleiro preenchido não só com comida, mas igualmente com uma garrafa de água. E eis que um colega faz a seguinte observação:

«Olha, olha… Vais beber água, hoje?»

Uma observação desta envergadura, merece uma resposta robusta:

«Ah, a água? Não, eu não a vou beber. Eu trouxe a garrafa de água, sim, mas é para espantar as moscas que passam a hora de almoço a zumbir nos meus ouvidos…»

 3º Exemplo:

Entramos numa sapataria com o simples — e óbvio! — objectivo de adquirir um par de sapatos, e à entrada surge um funcionário da loja que nos interpela com a seguinte pergunta:

«Ora, muito boa tarde! Então, o meu caro amigo vem à procura de sapatos?»

Visto que nos encontramos no interior de uma sapataria, acho que a resposta adequada seria algo do género:

«O quê? Sapatos? Ai, que disparate! Eu vinha era à procura de batatas, porque hoje vou fazer um belo empadão de carne para o jantar. E ouvi dizer que aqui, nesta SAPATARIA, se vendem batatas da melhor qualidade que existe, para se fazer puré… A quanto está o quilo?»

 4º Exemplo (E último, porra! Que eu disse que a crónica ia ser piquena!): 

Depois de termos cortado o cabelo a pente zero, encontramo-nos com amigos no café. E um dos amigos vomita a seguinte observação:

«Olha quem é ele! Ah, rapaste o cabelo?!»

E nós, obviamente que temos de responder civilizadamente, porque se trata de um amigo de infância:

«Não, minha besta! Eu não rapei o cabelo! Sabes, isto é um penteado novo que está na moda, onde se aplica bastante gel, banha de porco, manteiga de amendoim, vaselina e um pouco de orégão, para ficar assim com este aspecto de quem acabou de rapar o cabelo… No final do dia, basta enxaguar o cabelo com um pouco de lixívia e sabão macaco, para voltar tudo ao normal…»

E pronto. Ficamos por aqui, porque está-se-me a dar uma forte picada na medula óssea que, por sua vez, provoca como efeito secundário uma valente vontade de correr nu pela rua, gritando: «Ai, o que eu gosto tanto de migas com entrecosto!» Por isso, o melhor é ir tratar deste pormenor… Só espero é que não estejam crianças na rua… Porque incentivá-los a comer migas com entrecosto logo de petizes, é coisa para provocar-me verdadeiras cólicas renais…

(Não ligue, caro leitor… é que eu hoje dei uma «bafada» num cigarro electrónico, e parece que não me caiu lá muito bem…)

 Até para a semana, malta catita!


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
Visite o blog do autor: aqui