Pesadelo bem Real assola por completo Madrid.

Problemas no paraíso. É este o eufemismo mais correcto para encarar o que se tem passado nos últimos meses no maior clube do mundo, o Real Madrid. Os merengues estão a viver um autêntico pesadelo que parece tardar em acabar. Ninguém quer acordar. Desde supostas declarações incendiárias do presidente, desde o discurso castigador e massacrante do treinador, às picardias entre jogadores, a festas privadas, a baixos rendimentos de jogadores que deviam estar entre os melhores do mundo, aos adeptos estarem furiosos e deslocarem-se propositadamente para criticar a equipa, entre muitos outras coisas, que fazem o colosso espanhol, estar à deriva. Será apenas uma má fase prolongada? Terá este pesadelo efeitos prácticos no resto da temporada?

O vencedor da última edição da Liga dos Campeões até começou bem a época, com vitória atrás de vitória, com recordes estabelecidos, com Cristiano Ronaldo numa forma extraordinária e com o resto da equipa a ser esmagadora e a golear tudo e todos os que lhe apareciam à frente. Tudo parecia andar sobre rodas, os adeptos estavam aos pés da equipa, Ronaldo ganhava mais uma bola de ouro e o Barcelona saíra vergado do confronto entre ambos. No entanto, o que parecia ser um passeio madrileno, acabou por se revelar o incio de um pesadelo. O marco, ou o ponto de referência, é o Mundial de Clubes. A competição, que os de Madrid até acabariam por ganhar com alguma facilidade, veio-se a revelar a última réstia de bom futebol praticado pelos “blancos”. Foi a 20 de Dezembro. Desde então tem sido sempre a descer, piorando de jogo para jogo.

A passagem de ano surtiu um efeito nefasto no clube da capita espanhola. Com a entrada em 2015, tudo piorou. Tudo começou a desmoronar-se e, se não fossem os pontos conquistados até então, as coisas poderiam estar pior, muito pior. Os 12 desejos não surtiram efeito. A equipa, logo a partir de Janeiro, começou a descarrilar. Os adeptos merengues nem queriam acreditar quando, a 15 de Janeiro de 2015, após uma primeira mão desastrosa, foram eliminados da Taça do Rei pelos rivais de Madrid, o Atlético. O descalabro continuou. Os vultos começaram a surgir e os egos a enfrentarem-se uns aos outros. Era certo e sabido que algo tinha de ser feito, os acontecimentos negativos estavam a acumular-se e ninguém parecia saber controlá-los. Cristiano Ronaldo estava a cair em desgraça, sem ter marcado nos primeiros jogos, tendo perdido a namorada e culminando tudo numa agressão a um jogador adversário, que lhe valeu alguns jogos de suspensão. Com o seu melhor jogador pelas ruas da amargura, a restante equipa ressentiu-se e, feliz ou infelizmente, seguiu-lhe o exemplo. Desse momento para cá, o Real Madrid tem feito tudo menos jogar futebol, sendo vulgarizado por toda e qualquer equipa e não causando tremores a clube nenhum. Já quase que foi apanhado na classificação pelo Barcelona, já foi eliminado da Taça do Rei e ia sendo eliminado da Champions pelo Schalke 04, após ter perdido em casa com os alemães. Tudo anda à deriva. Ninguém parece saber o porquê, ou ter uma solução para a hecatombe.

A casa está arder. O melhor clube do mundo está em apuros. O que fazer? Distanciar-se, relegar a culpa para os outros e fazer declarações provocatórias, pois claro. Se não é assim que se resolve uma crise, pelo menos é a forma que o Real escolheu para o fazer. A começar no presidente, que em pleno momento de aflição, decide começar a pensar em vender jogadores, em arranjar problemas com os mesmos, ou simplesmente em culpar tudo e todos menos o próprio. Descendo hierarquicamente na cadeia alimentar madridista, encontramos Carlo Ancelotti. O experiente treinador viu-se numa situação que nunca presenciou: uma equipa destroçada, jogadores milionários com egos condizentes, o pêndulo da equipa completamente destroçado e um presidente pouco presente e participativo. Tudo isto aliado à ira dos adeptos. O técnico italiano não passa pelos pingos da chuva, não. Ancelotti tinha – e tem – obrigação de fazer melhor. Obrigação de, com os anos de carreira que tem, conseguir controlar um balneário cheio de egos e em constante disputa interna. Isso e a vertente práctica, uma equipa que custa mais do que 300 milhões, tem a obrigação de jogar mais. Muito mais. O treinador tem de saber quem por a jogar, que estratégia montar e que plano seguir. O seu desnorte não é condizente com a vasta experiência que tem. É uma pena. Descendo um pouco mais na estrutura dos merengues, encontramos os principais visados; os jogadores. O plantel do Real Madrid está com os índices motivacionais a níveis negativos. A equipa não sabe o que fazer à bola, parece que todos desaprenderam, que todos estão noutro mundo, o certo é que ninguém está apto para jogar na Liga BBVA, muito menos para representar o vencedor da Champions. Não correm, são individualistas, picam-se uns aos outros, festejam sozinhos, viram-se aos adeptos e muito mais. Um sem número de atitudes que são repudiáveis e que só dão razão à comunicação social para os criticar e esmiuçar os seus defeitos, e à “affición”, que tem todo o direito do mundo de os contestar, de se fazer ouvir e de se manifestar contra tão medonhas exibições. Isto quando cada jogador do plantel “blanco” recebe milhões. É ultrajante e só mostra o lado negro do futebol. Jogadores contra adeptos, adeptos contra jogadores, treinador contra os jogadores e o presidente que lava as mãos. É assim a triste realidade do colosso espanhol. É nesta encruzilhada, que só pode ter explicação com razões extra-futebol, que todos se encontram. Ninguém desaprende a tratar uma bola assim. Ninguém se esquece do quão importante são os adeptos em 3 meses e, muito menos, se pode bater tão no fundo quando se auto-intitulam como “o maior clube do mundo”. Algo está errado. Porém, não existem sinais de melhorias, pelo menos, a curto prazo. E, como é óbvio, mais uns passos em falso e podem deitar tudo a perder.

Os tempos não são os melhores. O reino merengue mete água por todos os lados, o problema é que nem todos sabem nadar. Nesse caso, uns simplesmente abandonarão o barco mal cheguem a alguma terra firme, outros, deixarão o barco afundar salvando a sua pele e outros, nunca mais saberão navegar, marcando o fim da sua expedição. Nisto tudo, quem sofre são os que esperam que a tripulação leve o barco Real a bom porto. As ondas não abrandam, os trovões vão chocando cada vez mais e a madeira está prestes a ruir. Ou aproveitam a próxima paragem, que será fulcral, para voltar à rota, ou afundarão de vez em Camp Nou. O capitão Ronaldo está longe da terra firme, se não voltar a centrar atenções nas coordenadas marítimas, pode muito bem ir de vela. Sobre Madrid, paira um Real pesadelo, que só acabará quando os egos se acalmarem e se focarem no que realmente interessa: o futebol.