Podem os homens ser lamechas?

A pergunta pode parecer disparatada, ou desprovida de sentido, contudo acreditem que tem a sua razão de ser: podem os homens ser lamechas? “Mas porque raio vem esta questão agora?”. Boa pergunta caríssimos leitores. Vem esta minha interrogação a propósito de eu ser aquilo que, na gíria, é denominado como um “lamechas”. Mas calma, não o sou perante todas as facetas da minha vida! Não, nada disso. Apenas o sou no que diz respeito ao amor e à relação que mantenho com a minha namorada. Portanto esta semana o “Desnecessariamente Complicado” fala de homens e mulheres, de lamechice, de amor e, no fundo, da vida em geral!

A sociedade encarregou-se de definir as regras pelas quais nos regemos. E como a sociedade é boa samaritana não só fez as “oficiais” (a que chamamos leis) como fez as “clandestinas” (aquelas que todos sabemos que existem embora não estejam escritas em lado nenhum). Por exemplo: a sociedade em geral não aceita que alguns homens sejam lamechas. Ou melhor: eu quero acreditar que actualmente este paradigma se alterou e as coisas actualmente já não se processam assim, mas será que mudaram mesmo?

Antes de mais vamos ao cerne da questão: o que é, afinal, ser lamechas? Como a sua definição pode mudar de pessoa para pessoa recorri ao objecto mais fiável de todos: o dicionário! E segundo o dicionário (façamos agora uma breve pausa para todos os pré-adolescentes e adolescentes que estejam a ler esta crónica possam ir ao Google pesquisar o significado de “dicionário”….já está? Boa, continuemos então) lamechas significa: a) quem demonstra demasiado a sua sensibilidade ou as suas emoções; b) quem se lamenta demasiado; c) quem se mostra muito apaixonado; d) quem contém lamechice ou excesso de sentimentalismo.

Ou seja, ser lamechas não tem de ser, obrigatoriamente, algo mau. Pelo menos se levarmos a definição da palavra à letra. Agora o que acontece é que ninguém quer saber da sua definição. Na gíria ser “lamechas” é ser um “mariquinhas”, um pinga-amor ou mesmo um romântico incurável. Para os nossos amigos é quase como se os tivéssemos abandonado e fôssemos agora uma rapariga! Para eles um homem é…um homem, logo não tem demonstrações públicas de afecto (a não ser que ele queira e lhe apeteça, claro), nem partilha na redes sociais fotografias apaixonado (a não ser que se queira desculpar por algo que disse/fez à pessoa amada, aí a justificação é plausível) e muito menos a ajuda nas tarefas de casa, por exemplo (sendo que tratar de tudo o que diga respeito ao carro ou resolver o problema da box da televisão da sala não é considerado “tarefa de casa”, atenção)!

Pegando neste último exemplo: num casal é esperado que seja a mulher a fazer as tarefas da casa e que o homem apenas ajude….a desarrumar e a sujar. Se, por alguma razão, os dois membros do casal dividem tarefas (e nem é preciso que seja em metades iguais!) é garantido que alguns dos familiares e amigos dele vão dizer: “Eish, olha bem o que ela te fez! Ela mudou-te! Já não és o mesmo! Antes não mexias uma palha, e agora é ver-te a colocar a loiça toda na máquina de lavar que nem um betinho de classe média!”. Parece ridículo mas de certeza que todos já presenciámos cenas muito semelhantes a esta.

Mas será que afirmações como a anterior ainda fazem sentido em pleno século XXI? Qualquer um de nós dará como resposta um redondo “não” em meros segundos. Contudo, a verdade é que é provável que junto do nosso grupo de amigos façamos o oposto. Até pode ser na brincadeira, mas o que interessa é que fazemos. Porque raio é que a mulher tem a obrigação de fazer tudo em casa? Os machistas aproveitarão a oportunidade para responder: “porque são mulheres”. A escravatura já acabou há muito tempo, e estas pessoas têm de se aperceberem disso! Se também estamos em casa, e sujamos tanto quanto ela, porque razão não devemos ajudar a limpar? É apenas uma questão de lógica (já para não falar que, de certa forma, é uma questão de respeito e amor pela nossa namorada/mulher obviamente).

Para este tipo de pessoas sabem o que é que eu digo? O seguinte: é dos lamechas e românticos que elas gostam mais. Claro que cada um é como cada qual, e há gostos para tudo. Estou apenas a generalizar. E, generalizando, o que procuram as mulheres? Procuram um homem que seja romântico, carinhoso, atencioso, que repare nos pequenos detalhes (dela e da relação que possuem), que as mime tanto quanto precisam sabendo perceber os limites que não devem ultrapassar, alguém que perceba o que elas gostam e não gostam e, acima de tudo, alguém que não se esqueça das pequenas-grandes datas do casal. E sabem quem, quase de certeza, que não será assim? Qualquer tipo de homem que não seja um romântico incurável e um lamechas q.b (obviamente que tudo o que é demais enjoa, logo em doses extremas pode ter o efeito oposto).amor

E, como o leitor já deve ter percebido, eu sou um desses homens. Sou romântico, e lamechas, e com orgulho. E sabem o que eu sou também? Sabem sim: cronista. E todos sabemos que isto é um jackpot, não é verdade? Por mim escrevia sobre amor todas as semanas (no entanto tal poderia tornar-se um pouco maçador…até para mim), mas não o faço porque tudo tem o seu peso e medida (lembrem-se que o exagero leva ao enjoo).

E sendo eu um romântico, e um apaixonado, pela minha namorada partilho nas redes sociais diversas fotos nossas assim como “posto” músicas no mural dela (destacando certas partes da letra). E qual é a consequência? Leva a que oiça milhares de vezes comentários depreciativos: “vocês são tão amorosos que até enjoa”; “tanto mel que vai para os vossos lados, não se aguenta”; “bolas, só partilhas coisas amorosas!”. E isto é só uma amostra porque o leque de piadas e brincadeiras é muito mais vasto.

Ora isto leva-me á minha pergunta seguinte: porque razão os casais que demonstram ser felizes são vistos como “alvo” por parte dos restantes? Querem a verdade, nua a crua, querem? Porque todos procuram a namorada (ou namorado, dependendo dos casos) perfeita e a relação perfeita, mas poucos a encontram verdadeiramente. Sim, porque ter namorada e amar essa pessoa não significa que a queiramos amar para sempre (ou pelo menos a “longo prazo” vá). E ter alguém na nossa vida não quer dizer que seja a “tal”, aquela que nós idealizámos ao nosso lado no altar, por exemplo. E quando olhamos para o lado e vemos alguém feliz, a amar e ser amado de forma inequívoca, e a demonstrar que encontraram a “tal” é impossível ficarmos 100% contentes. Ficamos felizes pelo nosso amigo, obviamente que sim! Mas pensamos: “bolas, era algo assim que eu queria!”. E não me refiro à rapariga em causa nem aos seus atributos físicos, mas sim à relação, à química e cumplicidade do casal e aos objectivos e visões que partilham. E deste estado mental aos comentários acima descritos vai apenas um pequeno passo.

Sim, sou romântico. Sim, sou lamechas. Sim, amo a minha namorada com todas as forças que tenho. E sim, sinto mesmo tudo o que digo que sinto. E sou feliz assim. E sei que a minha namorada também o é, felizmente. Não me esqueço de datas importantes e envio mensagens amorosas a qualquer hora do dia (sem que para isso seja preciso que tenha feito asneira e tenha que pedir desculpa). E a maioria dos homens também deviam de ser assim. Sabem porquê? Porque ser assim não só não significa que sejamos mais femininos como acaba por ser a maior demonstração de amor, confiança, segurança, cavalheirismo e respeito pelas mulheres que podemos ter.

O verdadeiro segredo das relações felizes é um, e só um: uma relação é algo que exige muito de nós, é a tempo inteiro e não em part-time. Se derem o vosso melhor e derem atenção a todos os detalhes, surpreendendo sempre que possível a pessoa que têm ao vosso lado, podem ter a certeza que o universo vos recompensará mais cedo ou mais tarde.

Por isso voltando ao título da crónica….um homem não só pode como deve de ter a sua quota parte de lamechice. Deixemos o machismo de lado e aceitemos o romantismo como algo normal nas nossas vidas. Românticos e lamechas de Portugal…uni-vos! (Sim, a frase original é um pouco diferente desta, mas centremo-nos na mensagem que realmente interessa aqui, ok? Obrigado).

Boa semana.
Boas leituras.
E não se esqueçam de demonstrar à (ao) vossa (o) namorada (o) o quanto a (o) amam!