Política Selvática

É desinteressante observar. Verificar como o objeto soundbyte se sobrepõe à ideia da resolução da problemática, e como a problemática ideológica se sobrepõe à existência incongruente da vertente humana.

Juro que, vezes mais frequentes do que tudo, a Terra é um planeta selvagem, onde a espécie humana é mais rara do que os ursos polares. Não reparando na ironia que esta comparação constitui, tal elege a metáfora perfeita para o discurso da adjudicação social da intencionalidade sobre natureza, e a simultânea, mas muito mais importante, reviravolta técnica e financeira sobre o princípio biológico e ético.

Faz-me lembrar as grandes caminhadas rumo ao desconhecido. A exploração de uma qualquer montanha impossível de ser escalada, cujo mérito é reconhecido ao recurso, sobre o feito, até que muito tempo depois, quando a memória necessita de Memofante para a sua capacidade de reconhecimento, a verdade se encontra muito para lá da capacidade do conhecimento.

Confesso ter muita dificuldade. Tenho dificuldades com muitas coisas, mas tenho ainda mais quando se trata de subvalorizar a vida e o bem-estar em prol de princípios subjetivos e sublevantes. Vejo a atual luta como uma política selvática. Como se de leões se tratassem, cantando o “Círculo da Vida” e observando, copiosamente, as gazelas, 5 níveis inferiores na cadeia alimentar, com a vontade económica, que levará à manietação dos quatro membros, mamilos (porque o leite humano não chega), dos órgãos sexuais (óvulos e esperma), da pele (porque as malinhas e carteiras são tão fundamentais), da gordura (para cremes, condimentos e óleos), da carne (os seus queridos bifinhos) e dos ossos (para que as mezinhas não deixem de guarnecer os homens de 80 anos com problemas de ereção), sustentando uma necessária economia, que se aguenta na exploração da sua cadeia alimentar.

Irónico irónico é perceber que, por muito selvática que seja a política (governativa), esta não deixa de ser encarada como a subserviente ama da economia de ativos tóxicos.

Tudo isto leva a uma simples conclusão: a continuação de valorização tóxica leva a que todas as medidas, austeras ou não, não passam de um penso rápido em cima de uma ferida na barriga esquartejada por César.