Preso por delito de opinião? – Não, obrigado!

Hoje, apeteceu-me, nesta rudimentar crónica, escrever asperamente sobre o que penso a respeito de temas polémicos da atualidade. Apeteceu-me, mas não vou fazê-lo! Sou um mero mortal. Não me atrevo a correr o risco de poder vir a ser condenado pelo crime de delito de opinião.

Ainda recentemente, uma mulher foi condenada e poderá não ser um caso isolado. Recebeu ordem de detenção por ter ousado criticar publicamente medidas de um governo para a eleição do qual tão-pouco sei se contribuiu com a deposição do voto nas urnas.

Dir-me-ão que a pena é acertada. Que o protesto não foi feito nos moldes tradicionais, nem no local apropriado, que ela violou alguma norma da constituição. Que os termos empregados foram excessivos e ofensivos da integridade moral de alguns políticos.

E eu, simplesmente responderei que acho positivo e valioso num regime democrático, que haja opiniões diversas da minha, mesmo que eu próprio não concorde com elas. E se não era aquele o lugar certo para o protesto daquela mulher, que era também o de outras pessoas, se fazer ouvir, melhor fora que à entrada da galeria para onde foi gritar lhe tivessem barrado a entrada, pois considero que não é legítimo alguns políticos continuarem à espera de que, a respeito de assuntos que mexem diretamente com as suas vidas, as pessoas assistam em silêncio às decisões que são tomadas, como se essa mudez fosse sinal de respeito por esses decisores que nem sempre primam por serem justos.

Apetecia-me dissertar sobre as medidas do novo orçamento com que não concordo. Sobre o consentimento dado pelas ditas forças de esquerda para os aumentos irrisórios das pensões mais baixas. Sobre a não compreensão por parte de gestores públicos da obrigatoriedade de apresentação das respetivas declarações de rendimentos. Sobre as diversas interpretações da lei que alguns juristas fazem, à luz da que melhor serve os seus reles interesses. Enfim, sobre mil e uma coisas de que tanto se tem falado, embora dizendo o mesmo, mas usando palavras diferentes.

Já com certeza perceberam a que mulher me referia anteriormente. Essa mulher de quem, por meio de frases dissimuladas tenho estado a falar. É que, ainda assim, o meu discurso é mais óbvio do que o de alguns políticos e decisores neste país. Só não falo abertamente, livre, sem rodeios, por medo de retaliações! E já agora, podem apelidar-me de mentiroso, mesquinho ou cobardolas. O que não sou é hipócrita, ao ponto de cometer o erro que aqui critico e cair no mesmo de quem julgou aquela mulher por crime de delito de opinião, ofensivo ao bom nome de quem não está imune ao julgamento popular.

Por isso, descansem os críticos que não defendem os meus pontos de vista. Não corro a processá-los, como alguns parecem não perder tempo em fazer, porque reconheço o direito à diferença e à manifestação das suas opiniões. Como entendo que deve ser num lugar onde se apregoa a democracia e se afirma que não vive com medo do regresso dos fantasmas do passado.