Quando deixar a Chucha?!

A resposta que tenho para si é, NUNCA! Vá… talvez ‘NUNCA’ seja um bocadinho exagerado. Vamos apontar lá para os 25 anos, ou para quando os seus filhos saírem de casa. E mesmo que eles vos digam que estão preparados para largarem a chucha vocês não cedam. Ao fim ao cabo os pais são vocês e mais do que ninguém sabem o que é melhor para eles (ou para vocês…).

A minha filha deixou a chucha no fim-de-semana passado (e vou poupá-lo de ir até as minhas primeiras crónicas para fazer contas, calcular ângulos, hipotenusas, catetos e o camandro e digo-lhe já a idade da criança: 3 anos, 2 meses e 9 dias. Agora descubra quando é que eu escrevi isto e facilmente chega ao dia de aniversário dela!) Pois bem, foi exactamente aos 3 anos, 2 meses e uma meia dúzia de horas que achámos que estava na altura de a convencermos a deixar a sua amiga de borracha cor de rosa ir à vida dela.

Falámos com ela explicámos que já era crescida e que estava na hora de entregar a chucha à árvore das chuchas (Para quem não sabe a árvore das chuchas é uma árvore, mórbida, carregada de chuchas velhas, que está situada na Quinta Pedagógica dos Olivais) mas ela não estava para aí voltada…

  • “E depois, o que é que acontece à minha chucha?!”;

  • “E os outros meninos não ficam com ela?!”;

  • “E os animais vão usar a minha chucha?!”

  • “E se eu quiser a chucha de volta, posso ir lá buscá-la?!” perguntava-me ela todas as noites…

Percebi que não ia funcionar. Deixar a chucha num local onde facilmente ela sabia que a conseguiríamos ir buscar era coisa para correr mal. E foi nesse preciso instante que tive uma epifania – que é como quem diz, uma ideia brilhante no epifanio!

  • Filha lembras-te que no fim-de-semana passado estiveste na Decathlon a andar numa bicicleta muito gira?”, disse-lhe eu.

  • Sim! Sim! Eu quero…”, Trau… Ela tinha acabado de morder o isco… Agora era só puxar a linha, muito devagar, sem que ela percebesse que estava a ser levada para fora da água.

  • Pois filha… Mas sabes, aquela bicicleta é dos crescidos. E as bicicletas dos crescidos são muito caras… Os pais não têm dinheiro para a comprar.”;

  • Mas eu quero…”;

  • Queres filha?! Queres mesmo? É que, sabes, a senhora da loja disse-me que se não a pudéssemos pagar ela dava-te a bicicleta em troca da tua chucha. O que te parece?! Damos a chucha à senhora em troca da bicicleta?!”;

  • Sim! Sim! SIM! Eu queroooo.”

E assim foi, sem que ela tivesse dado conta tínhamos acabado de a convencer a largar a chucha, de uma vez por todas, para todo o sempre (se bem que, em defesa dela, tenho de lhe dizer que ela só a usava mesmo para dormir. E mesmo assim pouco depois caía da boca.).

Nessa noite ela dormiu bem, sem chucha, sem nos chamar uma única vez (bom… Não foi perfeitamente bem. Tivemos que nos deitar com ela até adormecer. Mas coitadinha, ser crescida custa, caramba! Deitarmo-nos ao pé dela 15m era o mínimo que podíamos fazer depois desta enorme decisão…)

Na segunda noite a coisa já foi um bocadinho mais complicada, acordou a meio da noite, chamou-nos e lá tivemos de ir lá para a cama dela outra vez… Na terceira foi mais do mesmo. Se bem que já não foi às 2h da manhã mas sim às 5h. E na 4ª noite foi igual… Mas em vez das 5h já eram 6h30 e estava quase na hora dela se levantar (e por isso em vez de irmos para junto dela gritámos só da nossa cama: “DORME FILHAAAAA! DORME MAIS UM BOCADINHO QUE OS PAIS JÁ VÃO!” Claro que não dormiu e passado 5m tivemos de nos levantar. Mas ao menos pudemos ficar mais 5 minutos na cama. Uma espécie de snooze de um despertador humano).

Até que chegou o grande dia! O dia em que iria trocar a chucha pela bicicleta. Entrou na loja toda decidida, escolheu a bicicleta (depois de ter dado 5 ou 7 voltas, pela loja toda, em bicicletas diferentes…), dirigiu-se à caixa, deu a chucha à senhora e foi-se embora com a bicicleta! Claro que depois dela dar a chucha à senhora eu tive de ir pagar a dita cuja (raios… não podia ter sido uma troca-por-troca?!).

Mas antes de eu chegar à caixa para pagar pude constatar o ar de pânico da funcionária.  Ela não sabia se ria, se chorava ou se chamava a segurança… Tinha acabado de receber uma chucha em troca de uma bicicleta, e a criança  tinha saído pela porta fora, com a mãe, toda contente. Ah! Ah! Ah! Mas depois eu apareci, paguei e evitei que a funcionária fosse despedida e a minha filha fosse mandada parar por um segurança todo bombado com ar de mau ou dois PSP.

(Mas pronto, avancemos que já nos estamos a afastar do título deste artigo/crónica/texto/coiso…)

Essa tarde foi espectacular. Fartou-se de andar de bicicleta. Dizia a toda a gente que já não usava chucha. Para ajudar à festa tinha ainda a companhia dos primos que iam dormir lá em casa (sim, porque eu percebendo que isto era coisa para correr mal chamei os meus sobrinhos todos para irem lá passar o fim-de-semana. Assim ou dormía toda a gente ou não dormia ninguém!)

Até que chegou a hora de deitar… Não queria! Fez birra, chorou, gritou, esperneou, empurrou, eu sei lá… Parecia que a miúda do filme Exorcista tinha encarnado nela. Mas a palavra “chucha” não saiu uma única vez da sua boca. O facto de saber que tinha sido ela a fazer a troca (o que naquele preciso instante certamente lhe parecia a pior troca da vida dela) fez com que não me pedisse, mas claro que todos nós sabíamos o que ela queria… Estava nitidamente diante de uma agarrada em chuchas prestes a largar o seu vicio da pior forma possível.

Como eu sou um pai bué fofinho (e porque percebi que caso contrário a hipótese de dormirmos seria próxima dos 0%) levei-a para a nossa cama de modo a que eu e a mãe a tentássemos acalmar, mas nem assim. Ela estava irritada com ela própria. Acreditamos que só naquela altura é que lhe caiu a ficha que tinha dado a chucha para poder andar de bicicleta e agora nunca, nunca mais teria a chucha de volta.

Por esta altura já os meus sobrinhos tinham todos acordado (e possivelmente agarrado nos telemóveis e ido para as redes sociais… Sim, porque os putos de hoje em dia não fazem mais nada da vida. Irra!! Os 3 miúdos passaram o fim-de-semana todo agarrados a Facebook, Whatsapp, Messenger, Instagram, Snapchat, what ever… só me deu vontade de lhes sacar os telemóveis e fazer o mesmo que tinha acabado de fazer com a chucha da minha filha….ERRR! Peço desculpa pelo desabafo.) Onde é que eu ia?… Ah! Já sei.

Nem junto de nós ela se acalmou. A pobre criança já tossia de tanto gritar e chorar. Foram precisos mais de 30m até se acalmar e dormir. Ou melhor, foram precisos mais de 30m para ela se cansar, deitar e dormir. Mas foi sol de pouca dura…

«Epá, já chega que já estou cansado. Tanto tempo sem escrever e agora logo um texto tão grande…

Por hoje ficamos por aqui, para a semana há mais, boa?! Sim?! Porreiro pá!»

Continua…

«Sim, isto vai ser o regresso do PAI SOFRE! Comecei com este tema porque sei que é algo que preocupa muitos pais mas, futuramente, teremos muitos, muitos mais textos com situações preocupantes e caricatas que todos nós, pais, sabemos muito bem o que é! Até para a semana,»