Referendo na Catalunha: Rajoy devia ter vergonha

Acordei, vi o noticiário na RTP3 e fiquei perplexo ao ver nas imagens sobre o referendo na Catalunha. Vi pessoas, sem oferecer qualquer resistência, a serem jogadas como se fossem lixo pelo equivalente na Guardia Civil ao nosso corpo de intervenção da PSP ou GNR, vulgo policia de choque. Mais ainda quando reportam que havia um cidadão a ser operado de urgência naquele momento por ter sido atingido num olho por uma bala de borracha.

Num dia de eleições autárquicas em Portugal – já foi votar, não foi? – saber que as pessoas no país vizinho não podem expressar livremente a sua vontade, é muito mau. Mas saber que, para além de não o puderem fazer, são escorraçados pela policia como um objecto sem interesse, à bastonada, aos empurrões violentos e com balas de borracha como vi nas imagens, é muito pior.

Muitos dirão que o referendo é ilegal. Mas também será ilegal a forma desumana e desproporcional como a Guardia Civil trata as pessoas. Qual é o medo do governo de Madrid, liderado por Rajoy? Que o sim à independência ganhe em larga escala – embora na prática não dê direito à independência pois a Lei espanhola não o reconhece – e dê origem a novos tumultos? Se assim é, porquê permitir que seja a Guardia Civil a provocá-los? Devem ter a noção que muitos daqueles, dentro e fora de fronteiras espanholas, que nem eram simpatizantes da causa da independência catalã, tornam-se agora adeptos da mesma, por força da repressão desmedida ordenada por Rajoy.

Já se esqueceram dos actos terroristas dos anos 90 por parte da ETA (muito mais violentos e mortíferos que os que temos presenciado nos últimos anos por outras organizações), organização separatista do País Basco? Rajoy prefere que a Catalunha, em vez de um processo pacifico e sereno de debate sobre a independência, opte pelo caminho da violência? Porque só assim se entende a acção da Guardia Civil a mando do governo central de Madrid. Rajoy devia ter vergonha.

Crónica de João Cerveira
Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990