Será o fim do “5 Para a Meia Noite”?

A televisão em Portugal parece não ser capaz de produzir ideias originais, “fora da caixa” e que sejam uma “lufada de ar fresco” para os espectadores. E, quando por algum milagre, isso acontece as audiências nem sempre correspondem ao esperado. Ou seja? Os projectos acabam por ter uma esperança média de vida, e uma taxa de sucesso, relativamente curta. Mas este problema não é de agora (muito pelo contrário, acho sinceramente que sempre o tivemos), apenas se nota mais. Ora quando todos os canais estão cheios de reality shows e telenovelas não é preciso descobrir novamente a pólvora para se destacar dos restantes. E a 22 de Junho de 2009 estreou um dos programas mais inovadores de sempre em Portugal. Falo, evidentemente, do “5 Para a Meia Noite”. Qual é o balanço de seis anos de emissões? Com é que o final da presente temporada e o anúncio da saída de três dos cinco apresentadores pode afectar o futuro? Tudo isto e muito mais no regresso do “Desnecessariamente Complicado”!

Quando o conceito nos foi apresentado todos ficámos num misto de emoções: entusiasmados e ansiosos mas também confusos e ligeiramente baralhados. Ok, era um talk show de segunda a sexta-feira, até aí nós percebíamos. Mas porquê cinco apresentadores diferentes? Quem eram, e de onde saíram, uns tais de Pedro Fernandes e Luís Filipe Borges? Os dias em que cada um apresentava eram fixos ou iam rodando com o passar do tempo? O programa seria exactamente às “cinco para a meia-noite” ou o nome era apenas uma graçola? E porque raio havia um “verbo da semana”? Bem, eram demasiadas interrogações de uma só vez. Felizmente todas as perguntas e dúvidas se dissiparam quando o programa estreou.

A RTP2 parecia demasiado pequena para o programa, o cenário parecia demasiado pequeno para os apresentadores, actores e convidados e alguns dos apresentadores pareciam demasiado inexperientes para o cargo (nomeadamente os citados acima). No entanto a verdade é que tudo funcionou. O caminho foi longo, mas os passos foram firmes. Os experientes Fernando Alvim e Nilton foram a âncora perfeita para os novatos e a doce (mas mordaz) Filomena Cautela era a cereja no topo do bolo. As interrogações deram assim, naturalmente, lugar à excitação colectiva.

Portugal tinha, finalmente, um late night show diferente, inovador, que arriscava em todas as parcelas da equação sem medo de falhar e sem ter as audiências como principal objectivo. Ok, era transmitido pelo canal menos visto em Portugal, a RTP2 (e atenção, isto não é uma crítica, são factos…), mas isso até jogava a favor do programa. Havendo menos expectativas e pressão a margem de crescimento aumentava (e a garantia que o programa tinha uma vida “longa” era também ela maior).

Fernando Alvim
Fernando Alvim

Durante quatro temporadas (e uma série de programas especiais, dedicados ás eleições) tudo se manteve, mais ou menos, estável. Fernando Alvim trocaria as terças pelas quintas com Pedro Fernandes no Especial Eleições, mas tudo o resto se manteve exactamente igual. Com a quinta temporada chegam mudanças significativas: Alvim abandona de vez o programa deixando novamente as quintas-feiras para Pedro Fernandes; Filomena Cautela abandona, também ela, o programa dando lugar à surpreendente Carla Vasconcelos (popularizada pelas séries “Morangos com Açúcar” e “Contemporâneos”, na TVI e RTP1 respectivamente); Luís Filipe Borges passou para as terças e Luísa Barbosa surge para as sextas (ela que tinha acabado de sair da MTV Portugal, onde era VJ).

Mas o tempo demonstrou que as apostas femininas foram um completo fracasso. Ou seja? No final da quinta temporada (em meados de Outubro de 2011) ocorreram mais mudanças: Carla Vasconcelos abandona o programa, deixando as segundas para Luís Filipe Borges (já então mais conhecido como “Boinas”); José Pedro Vasconcelos surge para o lugar de Boinas nas terças; Nilton migra para as sextas ocupando assim o lugar de Luísa Barbosa e deixando as quartas para o recém-chegado (contudo muito experiente) Nuno Markl e Pedro Fernandes mantém-se nas quintas-feiras.

Confuso? Sim. Mas necessário. A quinta temporada havia demonstrado que o formato estava tão perto da genialidade quanto do abismo. E dado que os convidados (de conversa e/ou musicais) mudavam todos os dias eram os apresentadores quem fazia verdadeiramente a diferença. Por exemplo: não é que a Carla Vasconcelos ou a Luísa Barbosa fossem más no que faziam, a questão é que os restantes apresentadores eram mesmo muito bons. O que criava uma discrepância muito grande de dia para dia (ou, neste caso, de noite para noite). E não nos esqueçamos que, por esta altura, o “5 Para a Meia Noite” já era a principal âncora da RTP2 (as audiências eram estratosféricas para a realidade do canal e originaram um surpreendente crescimento do horário nocturno), logo essas discrepâncias tinham consequências.

Da sexta à décima temporada a formação de apresentadores manteve-se, mas o mais importante foi a mudança definitiva para a RTP1. A verdade é que o “5 Para a Meia Noite” tinha surpreendido tudo e todos a nível de audiências (acho que ninguém pensou que pudesse crescer tanto em tão “pouco” tempo). Em apenas três anos tinham passado de completamente desconhecidos no canal menos visto em Portugal a referência televisiva e âncora da RTP2. Tinham, portanto, merecido outro destaque e outro tratamento. E tudo isso chegou a 9 de Abril de 2012. Foi nessa data que estreou a sexta temporada, na RTP1. O estúdio era incomparavelmente maior do que os anteriores, o espaço para o público que assistia ao vivo triplicou, o orçamento aumentou (sendo que até os próprios apresentadores brincavam com isso) e o horário passou a ser mais vezes respeitado (ainda que, por diversas vezes, os programas tenham sido “empurrados” madrugada adentro).

E a prova de que todas estas apostas tinham sido acertadas foi o crescimento das audiências. Novamente o quinteto batia recordes de audiência dia após dia e tornava-se numa das âncoras do canal a que pertenciam. A máquina havia sido melhorada e estava, finalmente, a trabalhar a 100%. Mas tudo na vida é feito de ciclos. E no final do passado mês de Agosto o “5 Para a Meia Noite” viu terminar mais uma fase.

Luís Filipe Borges
Luís Filipe Borges

No início de Agosto Luís Filipe Borges anunciou que iria abandonar o programa. A notícia caiu que nem uma bomba. Luís (que entretanto se desvinculou da sua imagem de marca, a boina) afirmou, entre muitas outras coisas, no seu perfil oficial de Facebook (https://www.facebook.com/LuisFilipeBorges/timeline): Dei tudo durante todo este tempo, mas preciso de tempo para dar o mesmo noutras paixões. Como diria o filósofo do quotidiano Mister Jaime Pacheco, “é uma faca de dois legumes”. Junte-se a esta sensação pessoal a vontade dos actuais administradores de remodelar profundamente o “5” e temos o círculo perfeito. Saio sem quaisquer mágoas e desejando o melhor a quem ficar e a quem vier”. Nunca se saberá até que ponto a vontade pessoal foi maior do que a pressão da administração para remodelar o programa. O que sabemos é que o eterno Boinas tinha acabado de anunciar a sua saída do “5”.

Apesar de Borges ter dito, e cito, “Junte-se a esta sensação pessoal a vontade dos actuais administradores de remodelar profundamente o “5”, a verdade é que ninguém pensou que assistíssemos a mais saídas. Mas assistimos.

Nuno Markl
Nuno Markl

Poucas semanas depois foi a vez de Nuno Markl anunciar o adeus ao “5PMN”. No seu blogue pessoal (https://acavedomarkl.pt/) confessou o extremo cansaço que experienciou ao manter vários “empregos” ao mesmo tempo: (…)  muito sinceramente, porque ia dando cabo da minha sanidade física e mental – e essa parece-me uma excelente razão para parar de fazer alguma coisa, já que o masoquismo nunca foi a minha cena. Ter 44 anos não é ter 24, e fazer um late night a meio da semana, quando acordo todos os dias às 6 da manhã para fazer rádio, começava perigosamente a entrar no domínio do masoquismo. A sério. Sem exageros, é demolidor. Não tenho grandes dúvidas que parte considerável dos meus mais recentes cabelos brancos foi a última temporada do 5 que os provocou, pelo que saio com um misto de alívio (as saudades que eu já tinha de ter as noites de quarta-feira para mim e a família!) e, ao mesmo tempo, uma certa sensação de missão cumprida”. Do nada o “5 Para a Meia Noite” perde dois dos seus mais carismáticos apresentadores e uma parte considerável dos obreiros de tantos sucessos. Os espectadores mais fiéis ficaram de rastos com tais notícias.

Mas o pior ainda está para vir. A imprensa tem avançado com insistência que também José Pedro Vasconcelos está de saída da jóia da coroa da RTP1. Para já nada é oficial, mas a imprensa tem avançado esta hipótese há demasiado tempo para se pensar que não tem um fundo de verdade. É que a justificação para a sua saída é bastante plausível: José Pedro vai assumir, com a “sua” Tânia Ribas de Oliveira, a apresentação do “Agora Nós” nas tardes da estação pública. E, graças ao testemunho de Nuno Markl, já sabemos os efeitos da excessiva acumulação de trabalho, não é verdade?

José Pedro Vasconcelos
José Pedro Vasconcelos

Passamos assim para três saídas: um apresentador que lá estava desde o início do projecto e dois que, embora tendo chegado mais tarde, provaram merecer o lugar que ocupavam. A questão é inevitável: será este o fim do “5 Para a Meia Noite”? Talvez sim. Talvez não. Só o tempo o dirá. Mas os indicadores parecem ser positivos.

Falemos então das três entradas para os lugares que ficaram vazios. A imprensa nacional afirma que Filomena Cautela regressará ao talk show na próxima temporada. Mais uma vez esta notícia não está confirmada, mas parece-me que é uma questão de tempo até tal acontecer. “Mena” nunca escondeu o carinho pelo programa e pelo formato, e sempre o utilizou de uma forma tão pessoal e única que mais ninguém conseguiu, até hoje, replicar (embora José Pedro Vasconcelos tenha estado, a espaços, perto de o conseguir).

A segunda vaga pode ser preenchida por…Rui Unas. Mais uma vez tudo não passa de especulação da imprensa, mas segundo consta o convite já foi feito e o “LOOORDD” (referência apenas acessível para os fãs do mítico “Curto Circuito” da SIC Radical) encontra-se a ponderar seriamente o convite. Assim que se falou da saída de Borges a minha aposta pessoal foi Rui Unas. Primeiro porque o acompanho há muitos anos e é uma das minhas referências. Segundo porque acho, sinceramente, que a sua carreira precisa de uma revitalização, podendo o “5 Para a Meia Noite” ser o estímulo que lhe falta.

A terceira vaga parece estar completamente em aberto (e se já está preenchida desconhecemos por completo essa informação). A verdade é que o lugar é tão apetecível quanto fatal (que o digam a Carla Vasconcelos e a Luísa Barbosa…) não sendo por isso fácil de preencher. Permitam-me, portanto, que dê alguns palpites.

Veria com bons olhos a aposta em nomes como João Manzarra (embora a sua ligação contractual à SIC mate este sonho logo à partida), César Mourão (já merece uma oportunidade a solo e teria aqui um palco perfeito para brilhar), Salvador Martinha (tem, sem dúvida alguma, um estilo único que poderia sobressair no “5 Para a Meia Noite”), Vasco Palmeirim (embora se coloque novamente o problema do acumular de trabalho – relembro que também ele faz parte das Manhãs da Rádio Comercial) ou um dos novos humoristas mais promissores como Carlos Pereira (que pode encontrar aqui: https://www.facebook.com/Eutueopreto) ou Guilherme Fonseca (esta seria, sem dúvida, uma aposta de risco, contudo se se confirmar a entrada de Rui Unas e o regresso de Filomena Cautela tal ajudaria a manter o espírito e a irreverência do programa).

Atenção, não devemos excluir completamente nomes que (não sendo óbvios) podem perfeitamente assumir o lugar, como Eduardo Madeira (seria muito interessante vê-lo num papel diferente, mais “sério” e de mais destaque, do que é habitual), Manuel Marques (já fez quase tudo o que há para fazer em Portugal e este poderia ser um bom desafio), Joana Marques (é uma das vozes da Antena 3 e uma das caras do Canal Q e esta poderia ser a oportunidade perfeita para reclamar um lugar, que é seu por direito, no topo da apresentação e humor a nível nacional) ou Daniel Leitão (não só também colabora com a Antena 3 e o Canal Q como é marido de Joana Marques, tem muito talento, uma piada natural impossível de ignorar e acho sinceramente que esta oportunidade seria perfeita para se “mostrar” aos portugueses).

O “5 Para a Meia Noite” ajudou a revelar alguns dos maiores talentos nacionais. Provou ser o palco ideal para deixar talento puro à solta. É graças a ele que hoje temos o gigante (em altura e talento) António Raminhos, o génio das imitações que é Bruno Ferreira (já tinha tido espaço na SIC Radical, mas teve no “5” uma verdadeira montra), o versátil Hélio Arcanjo, o sempre engraçado Miguel 7 Estacas e o seu “Sr. Limpinho” (menção especial para ele que passa actualmente por uma situação de saúde muito delicada, depois de um acidente), o surpreendente Pedro Miguel Ribeiro, a banda residente de Pedro Fernandes, David Antunes & The Midnight Band, e tantos outros nomes que compõem uma lista tão extensa que é impossível de reproduzir na totalidade.

O “5 Para a Meia Noite” percorreu um longo caminho até chegar ao sucesso que é hoje. Vi o primeiro episódio e soube logo que era uma questão de tempo até ser um grande sucesso (podem não acreditar mas é a mais pura das verdades). Acompanhei todas as mudanças com um misto de receio e entusiasmo. A saída de Fernando Alvim (um dos meus ídolos) deixou-me muito abalado, contudo a entrada de Nuno Markl (outra das minhas maiores referências) acabou por compensar a tristeza inicial. Agora foi a vez de saírem Luís Filipe Borges e Nuno Markl, mas se os substitutos forem Filomena Cautela e Rui Unas por mim tudo bem.

Filomena Cautela
Filomena Cautela

Apenas o tempo dirá se os boatos se confirmam e se o “5 Para a Meia Noite” continuará o seu rumo de sucessos, vitórias e records ou se a queda no abismo é inevitável. Seria uma pena ver desaparecer um programa que já é uma verdadeira “instituição” em Portugal e que consegue inovar semana após semana.

Que regresse a Filomena Cautela e que venha o Rui Unas. E a terceira vaga? Ficaria extremamente feliz se acertasse em algum dos meus palpites (principalmente se for César Mourão, Salvador Martinha ou Carlos Pereira).

Boa semana.
Boas leituras.