Será Guardiola um Manel… Manchester dar-nos-á a resposta!

O Bayern de Munique esteve presente em três finais da Champions nos quatro anos antes de Guardiola. O Barcelona foi campeão europeu antes com Rijkaard e com Luis Enrique depois de Guardiola. Será que Guardiola é igual ao Manel? É que Rijkaard e Luis Enrique são.

Senão vejamos, o que é feito do campeão europeu Rijkaard? Eu digo-vos, um terceiro lugar no Galatasary a mais de dez pontos do primeiro, seguido duma passagem falhada pela grande seleção da Arábia Saudita. E não mais foi visto a treinar. Ainda me recordo, quando a discussão mais incidente entre os adeptos era: qual o melhor, Rijkaard ou Mourinho?

E Luis Enrique, o que é que o espanhol fez na sua carreira antes de ser campeão europeu no Barcelona? Um 7º lugar com a Roma, a Roma que figura entre as melhores equipas italianas dos últimos largos anos. Mais um 9º lugar com o Celta de Vigo, que diga-se, melhorou a sua classificação no ano seguinte.

Portanto, ganhar onde outros Manéis ganharam, ganham, não será, não pode ser, O indicador supremo da valia dum treinador. Mesmo que essa valia extra exista.

Isto acontece porque o Barcelona é o clube com melhor gestão desportiva do mundo. Um clube que depende menos do treinador da equipa principal que qualquer outro. Claro está, convém que o Manel saiba pelo menos ler e escrever futebol. Porque a qualquer Manel que por lá passe, o Barcelona coloca-lhe à disposição um jogar de anos, uma estrutura feita de jogadores com esse ADN, com essa escola.

Se Guardiola acrescentou, claro que sim. Guardiola teve o mérito de retirar um jogador de classe mundial para colocar um puto como Iniesta, muito mais capaz de interpretar aquele estilo Barça do que Deco. Teve o mérito de acrescentar qualquer coisa àquilo que já existia. Mas não nos enganemos, o jogo de posse de bola já existia com Cruyff, só que num estilo mais largo de jogo, o famoso carrossel do Dream-team. Guardiola  encolheu-o e deu-lhe maior intensidade na pressão. Ainda assim, Enrique fez uma época sensacional com outras ideias, mas com o modelo de posse presente na mesma. Mesmo com a melhor dupla de construtores de jogo da história do mesmo já não com tanto fulgor, garantiu resultados idênticos.

Por isso, sim, Guardiola foi muito bom naquela realidade, mas aquela também foi uma muito boa realidade para Rijkaard e Enrique. Isto também tem que ser relevado, o contexto também conta.

Falemos então do contexto alemão que  Guardiola encontrou.

Van Gaal iniciou, Heinkes melhorou, e o Bayern tinha-se tornado num rolo compressor que esmagava os adversários. Baseado numa estratégia de velocidade e força, onde a técnica estava ao serviço destas duas componentes, o Bayern conseguiu as tais 3 finais da Champions em 4 anos.

Quando Guardiola chega, herda esta equipa após uma época em que tudo ganhou, e na altura em que o projecto financeiro do Bayern atingiu a maturidade. Num Bayern de Munique sem dívidas, o dinheiro para investir na equipa sobrava, permitindo-lhe enfraquecer ainda mais a concorrência interna contratando Goetze e Lewandoski ao Dortmund.

Percebia-se a ideia dos dirigentes do Bayern, seria a ideia de dominar por completo o futebol europeu nos próximos anos, seria por isso que demoraram mais de uma década a prepararem-se, o insólito é que eles já estavam nesse caminho…

Pois bem, após três anos, Guardiola tem três Ligas para mostrar, o mesmo que qualquer Manel teria, e nenhuma final da Champions. Isto, porque nunca ele abdicou do seu estilo de jogo, um estilo que sempre deixou lacunas contra adversários com capacidade para explorar as costas do Bayern. O resto, o resto foi uma imensidão de trocas táticas, de posições, mas não de estratégia, parecendo que o treinador privilegiava mais demonstrar toda a sua inteligência que simplesmente ganhar.

E assim, foi goleado pelo Real de Madrid, goleado pelo Barcelona, e eliminado por um Atlético de Madrid com muito menor orçamento. Não acredito que se tivessem deixado lá o outro Manel, aquele que foi despedido para se contratar este, isto tivesse acontecido, mas aconteceu com Guardiola.

Analisem esta performance, mas retirem o nome Guardiola da equação. O que diríamos da passagem deste Manel pelo Bayern de Munique? Provavelmente, que foi um relativo fracasso, que não foi para isto que se despediu um treinador que tudo ganhou, que ainda teria algo a provar, talvez até chegássemos ao ponto de classificar algumas das suas escolhas como incompreensíveis.

Senão vejamos, 40M€ gasto no médio Martinez, e onde é que está o central de classe mundial deste Bayern? Adaptações e mais adaptações. O melhor lateral esquerdo do mundo a jogar como central. Um dos melhores laterais direitos do mundo, Lahm, a jogar no meio campo. E no entanto, só em Thiago e Martinez foram 65M€. Mais, Ribery e Robben lesionam-se, quem havia para dar velocidade ao jogar da equipa? Ninguém. Porque a pessoa que toma decisões optou por dispensar, no meio do ano, o único suplente com velocidade e experiência para substituir aqueles dois. Sim, Shaqiri não é um jogador de classe mundial, mas quando não há mais ninguém, quando não se contratou ninguém por opção, dispensá-lo foi algo de surreal.

Mas ele não se chama Manel, e como se chama Guardiola e não Manel, ainda se ouvem elogios ao trabalho alemão do espanhol, como: “perdeu, mas manteve a sua estratégia até ao fim”.

Não é por nada, mas os mesmos que proferem frases como esta, são aqueles que criticam qualquer indício de vitórias morais à antiga portuguesa.

O futuro dirá se Guardiola será mais que um Manel, um Manel mais inteligente que o habitual, ou se é realmente especial, a cidade de Manchester dar-nos-á a resposta.

Até lá, só podemos dizer que na Alemanha: Guardiola foi igual ao Manel.