Sobre a Campanha e sobre a rentrée televisiva

Sobre a Campanha

Esta campanha continua a ser o que todas costumam ser: um lavar de roupa suja. Falta só uma semana e pouco sei dos programas de cada um dos partidos, mas sei o que cada um deles disse ou fez há 4 anos atrás. Mas o que pretendem fazer no futuro? Muito pouco. O ditado diz que quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras aos outros. Todos eles têm telhados de vidro (desde a esquerda que no poder não conseguiu reagir bem à crise enquanto governava, à esquerda na oposição que ajudou a derrubar um governo de esquerda por uma questão de valores, sem olhar a consequências e depois nem foi falar com a troika, a uma direita que, quer com Barroso, Santana e Portas, quer com Passos e Portas, fez no governo completamente diferente do que prometeu nas eleições, sendo fiel à ideologia de direita, vendendo mal e, como diria o Passos Coelho de 2011, “como quem vende os anéis para ter dinheiro rápido”, para reduzir o poder de intervenção no mercado) e todos andam a atirar pedras.

Sobre a rentrée televisiva

A TVI aposta tudo novamente em reality TV. Vem aí “A Quinta” e “Temos Negócio!” e já está no ar “Pequenos Gigantes”. Este último, uma espécie de talent show com crianças, deu que falar ainda antes de começar. A TVI e a produtora decidiram inicialmente que o programa, apresentado por Fátima Lopes, iria ser gravado e chegaram a gravar a primeira temporada. Entretanto, a TVI mudou de ideias e quis fazer o programa em directo, pelo que começaram pela exibição da segunda temporada, deixando as crianças que participaram na primeira temporada (e os pais delas) desiludidos e zangados com a estação de Queluz de Baixo.
“A Quinta” é o regresso do formato Quinta das Celebridades, programa que deu a conhecer José Castelo Branco em 2004 e continuará a ser apresentado por Teresa Guilherme, como a última temporada. Quem ficou a perder foi a MEO que tinha, até aqui, um canal exclusivo para os “reality shows” deste género (por exemplo, o canal exclusivo da “Casa dos Segredos”) e agora viu a NOS ficar com o canal exclusivo 24 horas de “A Quinta”. Os clientes do MEO já manifestaram a sua raiva nas redes sociais e ameaçam mudar de operador.
“Temos Negócio!” é um novo formato que procura os portugueses mais empreendedores, com jeito para o negócio, que consigam trabalhar em equipa e fazer dinheiro em vendas online. O formato tem a parceria do OLX – afinal, o objectivo é comprar e vender online -, é apresentado por Leonor Poeiras e produzido pela Shine Ibéria.
Honestamente, nenhum destes formatos me atraí, pelo que me são completamente indiferentes e não conto ver nenhum. E acho exagerado clientes que querem mudar de serviço de TV porque não têm um canal em que possam ver, 24 horas por dia, o que outros fazem fechados numa casa ou numa quinta. Parece que afinal Portugal tem mais “mirones” do que se pensava. Mas cada qual sabe de si.

A SIC voltou ao formato “Peso Pesado”, mas agora na versão “Teens”. Segundo a comunicação social, esta vai ser a grande aposta da SIC para esta temporada televisiva. Fora esta estreia, os sites da especialidade só falam em novos formatos de ficção (vulgo novelas) de produção nacional, brasileira ou conjunta, com autores e equipas de produção de ambos os países.
Não me espanta a questão das novelas. Há muito que já vejo a SIC como uma subsidiária da Globo em termo de novelas. E o acordo deles com a própria Globo para a produção de novelas nacionais só vem confirmar isso mesmo. Quando ao formato “Peso Pesado”, não gostei do dos adultos, não vi, pelo que também não vou ver este.

Já a RTP “baralhou” bastante as coisas como, de resto, acontece de cada vez que a estação pública muda a direcção de programas e de informação. O “quartel general” da RTP2 continua no Centro de Produção do Porto (situado no Monte da Virgem em Gaia), mas o programa “Sociedade Civil” regressa a Lisboa e tem como novo apresentador Luís Castro. Luís Castro tem estado “nas bocas do mundo” nos últimos tempos pois é o presidente da Casa do Pessoal da RTP, entidade que promove as corridas tauromáquicas na estação pública, contestadas por largas centenas (talvez milhares) de pessoas, incluindo o Provedor do Telespectador, que acham que este tipo de conteúdo não devia passar na estação pública. Alguns acham que nem devia existir. Eu concordo.
Mas a RTP não ficou por aqui e acabou (a pedido de Herman José) com o programa da tarde (o “Há Tarde”, nome mais original não havia), moveu o “Agora Nós” (com Tânia Ribas de Oliveira e José Pedro Vasconcelos) para a tarde e trouxe de novo às manhãs a dupla Jorge Gabriel e Sónia Araújo numa renovada “A Praça”. Enquanto o “Cook Off” está quase no fim, a mesma produtora, a Shine Ibéria, prepara-se para iniciar a nova temporada do “The Voice”, desta vez com Áurea em vez de Rui Reininho. Gosto bastante da Áurea. Talvez isso me leve a espreitar o programa.
A direcção de programas decidiu mexer também no late talk show “5 para a meia noite”. Para além das saídas (supostamente) voluntárias de Luís Filipe Borges e Nuno Markl (que vai ter programa semanal sobre animais com a mulher, Ana Galvão), a RTP decidiu afastar José Pedro Vasconcelos, que durante o Verão esteve no “Verão Total” e viu passar no horário nobre dos sábados na RTP1 o seu “Tem um Minuto”. Primeiro pensei que Daniel Deusdado (director de programas) queria o apresentador concentrado apenas no “Agora Nós”, mas desde que ele foi anunciado pela comunicação social como um dos apresentadores que vai apresentar rotativamente o “Aqui Portugal” aos sábados à tarde (anteriormente apresentado por Jorge Gabriel e Sónia Araújo), talvez tenha pensado que daytime todos os dias e late night às terças (ou outro dia qualquer) não funcionavam. Pelo que diz a comunicação social, Nilton e Pedro “Pacheco” Fernandes permanecem e os novos apresentadores são Filomena Cautela e Fernando Alvim, que assim regressam, tendo apresentado a primeira temporada do programa, ainda na RTP2. Fala-se que o quinto apresentador será Rui Unas, mas o próprio ainda não o confirmou. Mesmo a Filomena só confirmou hoje. Os meus horários de trabalho não me permitem ver este programa em directo, mas vejo bastantes vezes os videos no site oficial ou mesmo programas completos no RTP Play, especialmente os do Pedro Fernandes, o meu preferido. Mas com a direcção de programas da RTP a “meter o bedelho”, não sei como será o “5” daqui para a frente.
Ainda na RTP, muito se fala que a RTP Informação vai sofrer reestruturação e passar a RTP3, mantendo-se ainda assim como o canal de informação da televisão pública. Vi bastantes comentários dispares e, a meu ver, estranhos, por serem contraditórios. Diziam que não fazia sentido o nome e que se o canal não tinha boas audiências mais valia acabar com ele. Acho descabidos. Primeiro, porque acho que um canal de informação faz falta à RTP. Depois porque a RTP partilha a redacção de informação com os canais de TV e de rádio, pelo que é qualidade ao quadrado. E quanto ao nome, as rádios chamam-se Antena 1, Antena 2 e Antena 3 (as principais, porque há mais) e duas delas são temáticas e nunca ninguém achou estranho. No Reino Unido a BBC também numera os seus canais. Não sei que problema pode ter mudar o nome ao canal que até começou por ser RTPN antes de mudar para RTP Informação.

No meio disto tudo, quem ganha é a produtora Shine Ibéria que tem “O Homem do Saco” e o “Cook Off” em exibição na RTP, o “Peso Pesado Teens” e o “Portugal em Festa” em exibição na SIC e vai produzir o “The Voice” na RTP e o “Temos Negócio!” na TVI.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990