Somos feitos de betão!

Paredes. Geometricamente desenhadas pelo homem: 4 linhas, alguma viga de suporte, uns quilos de tijolo, gotas de árduo suor de um alguém cujo trabalho é pouco dignificado, uma qualquer massa pastosa e tchanan … Ali se edifica, em argamassa e betão uma parede.

“Não vamos falar aqui, as paredes têm ouvidos”; “Se estas paredes falassem, tantas eram as histórias que contavam”; “Falar contigo ou com uma parede é igual”; “Nem às paredes me confesso”.

Sufocam-nos, cortam-nos e rasgam-nos quando há um grito interior demasiado audível até para caber em silêncios; impiedosas funcionam como um amplificador em que os decibéis da nossa dor crescem e aumentam a cada segundo que passa dentro de quatro paredes. Angustiantes, obrigam-nos a engolir cada gota salgada do nosso céu da boca quando, a única companhia de alguns de nós, passa apenas por quatro rígidas e imperativas telas brancas, frias, opacas que forçosamente escondem o brilho do Sol e a liberdade do vento a varrer o nosso espírito e, com elas, ficamos reduzidos a suspiros, profundas respirações, compactadas ali, naquele cubículo.
Protetoras, são aquela segurança que desvalorizamos; a importância que, inconscientemente, damos  àquele cantinho , o nosso porto seguro, o espaço onde podemos divagar pelos mais íntimos sonhos, dar asas a cada devaneio que nos alimenta a capacidade de sonhar e de lutar; aqueles pensamentos que escondemos uns dos outros com medo de serem motivo de chacota, de não encaixarem nas expetativas que detém sobre nos, por terem uma fragilidade imensa e incapaz de resistir ao gozo alheio, por correrem o risco de se esfumarem. Só aquelas quatro paredes protegem, verdadeiramente, a nossa essência.
Calmantes e apaziguadoras, são o nosso hastear de bandeira branca, quando todo um sem fim de acontecimentos parecem implodir a nossa alma no fim do dia e quando a vida que temos, até então explode; há sempre um sítio, um lugar onde, sozinhos, a sós com elas, paramos, respiramos fundo, recarregamos baterias e enfrentamos todas as marés que nos atingiram.
Sábias conselheiras, sem falsos moralismos nem pseudo superioridades – a cada virar de esquina, em todo o enquadramento perfeito de cruzamentos citadinos há uma mensagem, um pensamento, uma confissão, ignorados e criticados por alguns espíritos tacanhos e mentes fechadas. Apelidados de sujidade e vandalismo, ostracizados por quem os vê e por quem, num critico e ignorante revirar de olhos, prossegue o seu caminho sem sequer olhar para trás, nem questionar o porquê daquela frase ali colocada, no objetivo daquela tinta ali estampada, sem interrogar a natureza de recalcados sentimentos alheios. As paredes não rebaixam, não apontam o dedo, não menosprezam emoções e adjacente a tudo o que se pode ler nessas ruas fora está um ser humano que não foi capaz de escutar outro.

Não quero acreditar que só somos todos Charlie quando isso nos é conveniente! A parede da fotografia é-vos familiar ? Sim, é a estação de Metro do Marquês de Pombal. I see Humans but no Humanity.