A Teoria da Pixar de John Negroni – Parte 2 – Bruno Neves

Na semana passada apresentei-vos à primeira parte da extensa, detalhada e complexa “Teoria da Pixar”. Basicamente esta é uma teoria desenvolvida pelo John Negroni que interliga todos os filmes da Pixar num universo paralelo ao nosso. Parece de loucos, eu sei, mas acreditem que, estranhamente, tudo faz sentido.

Esta teoria inclui os seguintes filmes: “Toy Story”, “A Bug’s Life”, “Toy Story 2”, “Monsters Inc.”, “Finding Nemo”, “The Incredibles”, “Cars”, “Ratatouille”, “Wall-E”, “Up”, “Toy Story 3”, “Cars 2”, “Brave”, “Monsters University” e por último mas não menos importante “Planes” (a sua inclusão na teoria será devidamente justificada).

Tempo para uma nota prévia. Se não leu a primeira parte desta teoria é obrigatório fazê-lo antes de se aventurar no artigo desta semana (para tal basta seguir este link: https://maisopiniao.com/teoria-da-pixar-de-john-negroni-parte-1/). A Teoria da Pixar vai, sensivelmente, a meio e como tal entrar neste ponto da “história” pode ser confuso.

Vamos então à segunda parte da Teoria da Pixar, da autoria de John Negroni!

Começamos precisamente por fazer uma pausa na Teoria da Pixar para introduzir um filme que foi lançado depois da teoria ter sido formada. Falo de “Planes”. Este filme não foi desenvolvido pela Disney Pixar mas sim pela DisneyToon Studios (ou seja, uma produtora pertencente à Disney onde os filmes são lançados directamente em DVD). É, portanto, verdade que este não é um filme da Pixar, contudo ele foi escrito por uma pessoa muito importante: John Lasseter. E porque é ele tão importante? Porque é ele a mente por detrás de toda a parte criativa de todas as histórias da Pixar. E é este o motivo para “Planes” ter sido, posteriormente, incluído na Teoria da Pixar.

Eu acredito, plenamente, que os acontecimentos de “Planes” têm lugar muito tempo depois de “Cars 2”. Um dos principais elementos da história de “Planes” é que o personagem principal, Dusty, aprende a correr sob os ensinamentos do seu mentor, Skipper. Aprendemos que Skipper lutou numa guerra que ocorreu no Pacífico, o que nos lembra imediatamente a Segunda Guerra Mundial.

Durante um filme é mostrado um mapa relativo às etapas da Corrida Mundial onde aparecem os sete continentes. Um continente falta no mapa: a Europa. A Ásia ocupa o território outrora pertencente à Europa, mas sabemos que a Europa ainda existe.

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Uma das provas de que a Europa ainda existe é o facto de a certo ponto sermos apresentados a um avião britânico, que competiu na “European Cup”. E dito isto é mais do que óbvio que a Europa ainda tem de existir.

Contudo é estranho o facto de este ser o único avião proveniente da Europa dado que existem diversos aviões da América, e da Ásia, a competir nas corridas (o que pode ser confirmado pelas bandeiras presentes nos aviões). Tudo aponta para um cenário que nos pode explicar como desapareceram as máquinas antes dos acontecimentos de “Wall-E”.

Eu acredito que este filme nos sugere uma combinação de poluição e escassez de recursos, que resultou num interminável combate entre as máquinas até não haver mais nada para destruir.

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“Planes” terá mais duas sequelas, uma das quais já este ano. “Planes: Fire & Rescue” será sobre um incêndio que está a ser combatido por Dusty e, bem, mais aviões. O meu palpite é que esta sequela vai lançar mais luz sobre a forma como o ambiente foi dizimado enquanto as máquinas dominaram o planeta.

Voltemos então ao curso normal da Teoria da Pixar e ao “Wall-E”. Alguma vez pensaram na razão para o Wall-E ser a única máquina que sobrevive? Sabemos que o filme começa 800 anos depois dos humanos terem partido rumo a Axiom (que por sua vez é governado por AutoPilot, ou seja, outra referência à Inteligência Artificial).

E se foi o fascínio de Wall-E com a cultura humana e a sua amizade com uma barata que lhe permitiu manter-se realizado e manter a sua personalidade? É precisamente por isso que ele era especial acabando por libertar os seres humanos. Ou seja, basicamente ele lembrou-se dos momentos em que humanos e máquinas viviam em paz, longe de toda a poluição causada por ambos os lados.

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O que acontece então após Wall-E libertar os humanos, e juntos reconstruírem a sociedade no Planeta Terra? Durante os créditos finais de “Wall-E”, vemos que a última planta existente se encontra num sapato, tornando-se posteriormente numa poderosa árvore. Uma árvore que possui muitas semelhanças à árvore central do filme “A Bug’s Life”.

Isso mesmo. A razão pela qual os seres humanos não existem em “A Bug’s Life” é porque não sobreviveram muitos. Sabemos, por causa da barata, que alguns dos insectos sobreviveram, o que significa que eles recuperaram um pouco mais rápido, embora o filme tenha que ser longe o suficiente na linha do tempo para que os pássaros tenham também já voltado.

Mas há mais. Há algo de muito diferente em “A Bug’s Life”, quando comparado a outros filmes da Pixar onde entram animais. Ao contrário de “Ratatouille”, “Up” e “Finding Nemo”, os insectos têm muitas actividades semelhantes às humanas (um pouco à imagem do que acontecia aos ratos em “Ratatouille”), ou seja, estavam apenas a experimentá-las. Os insectos têm cidades, bares, sabem o que é um “bloody mary” e têm até um circo itinerante. Tudo isto pressupõe que o filme está num período de tempo diferente dos restantes.

Outra das razões que separa “A Bug’s Life” dos restantes filmes da Pixar é o facto de ser o único (a par de “Cars”, “Cars 2” e “Planes”) onde a acção não gira, ou sequer inclui, humanos.

Então e o que acontece depois? Humanos, máquinas e animais crescem em harmonia até ao ponto em que nasce uma nova “super-espécie”: monstros. A civilização dos monstros é, na verdade, o Planeta Terra mas num futuro incrivelmente distante.

Então mas e de onde é que eles vêm? É possível que os monstros sejam uma mutação dos animais, após o repovoamento do Planeta Terra e às radiações de que esta foi vítima durante 800 anos. (Eu diria que levou centenas de anos depois de “Wall-E” para que os animais se tornassem monstros.) A alternativa é que os seres humanos e os animais para se salvarem tenham tido de cruzar ambas as espécies. É nojento, eu sei, mas plausível já que as linhas entre animais e seres humanos estão constantemente em debate nas obras da Pixar.

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Seja qual for a razão, a verdade é que os monstros parecem-se com uma versão mutante dos animais, só que maiores e civilizados. Eles têm cidades, e até universidades, como de resto podemos ver no “Monsters University”.

É verdade que não está bem explicado o que acontece aos humanos. Mas acontece que eu ainda não consegui definir uma teoria que me agrade. Contudo, tenho duas opções que acho viáveis. Uma é que os monstros e as máquinas se tenham, eventualmente, esquecido de que precisavam dos humanos, livrando-se novamente deles, não percebendo o seu erro a tempo e dando origem à necessidade de viagens no tempo para resolver o seu problema. A outra explicação é que os humanos simplesmente não conseguiram sobreviver no Planeta Terra, extinguindo-se.

Em “Monsters Inc.” existe uma crise energética, porque no futuro distante em que eles se encontram o Planeta Terra não tem seres humanos. Os humanos acabam por ser a fonte de energia, porque mais uma vez graças às máquinas eles encontram uma solução: através de portas que viajam no tempo podem voltar atrás no tempo para roubar energia evitando assim a sua própria extinção.

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As máquinas e os monstros criaram as portas que lhes permitem viajar no tempo, mas perceberam que mexer com o tempo pode apagar a sua existência e mudar a história. Então eles treinaram, erradamente, os monstros para que estes acreditassem que os seres humanos são tóxicos e de outra dimensão, tornando-se assim suicídio para um monstro a mínima interacção com o seu mundo.

Nós até vemos uma conexão entre “A Bug’s Life” e “Monsters Inc.” através da caravana que está presente em ambos os filmes. Como podem ver através da imagem abaixo, a caravana é exactamente a mesma, excepto o facto de que em “A Bug’s Life” é visivelmente mais velha enquanto que a de “Monsters Inc.” (para onde Randall é enviado através de uma porta) tem os seres humanos e parece mais nova.

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Dito isto torna-se assim claro que “Monsters Inc.” é o filme mais futurista da Pixar!

E depois há a Boo. O que acham que lhe aconteceu? Lembrem-se que ela viu tudo acontecer no futuro, onde o “gatinho” era capaz de falar. Ela acabou por tornar-se obcecada em descobrir o que aconteceu com seu amigo Sully, e o porquê de os animais do seu tempo não serem tão inteligentes quanto os que ela tinha visto no futuro. Ela lembra-se que foi através das “portas” que encontrou Sully, e acaba por se tornar…

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UMA BRUXA!!!

Sim, a Boo é a bruxa do “Brave”. Ela descobre como viajar no tempo para encontrar Sully, e volta à fonte: ao “will-of-the-wisps” (nota: para perceber a referência é preponderante ler a primeira parte e ver as imagens que acompanham o texto). Foram eles que começaram tudo, e como bruxa, ela cultiva esta magia numa tentativa de encontrar Sully, criando portas e indo para trás e para frente no tempo. Só para esclarecer: a teoria é que Boo descobriu uma forma de usar as portas para viajar no tempo por conta própria, ou seja foi ela mesma que desenvolveu a magia. Provavelmente voltou para a Idade das Trevas para obter mais magia através do “will-of-the-wisps”.

Como é que eu sei tudo isto? No “Brave” podemos encontrar uma madeira com uma figura esculpida. É o Sully (como podem confirmar pela imagem que se encontra abaixo).

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Outra prova é o facto de também encontrarmos em “Brave” a carrinha do Pizza Planet esculpida em madeira na “loja” da bruxa. O que obviamente não faz qualquer sentido…a não ser que ela já tenha visto uma anteriormente (e de certeza que ela viu uma antes, dado que a carrinha está presente em, literalmente, todos os filmes da Pixar).

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Lembram-se do facto de Mérida abrir portas que desaparecem constantemente? Isso acontece porque as referidas portas são iguais ás do “Monsters Inc.”. Elas transportam a bruxa através do tempo e é por isso que a Mérida nunca a consegue encontrar.

Mas sendo assim como se explicam os “easter eggs” que estão espalhados por todos os filmes da Pixar? Os “easter eggs” são plantados, intencionalmente ou acidentalmente, pela Boo quando ela viaja no tempo para encontrar Sully.

Será que a Boo alguma vez encontra o Sully? Eu gosto de acreditar que sim. É certo que no final de “Monsters Inc.” Sully visita Boo uma última vez, era ela criança, mas certamente que mais cedo ou mais tarde ele teve de parar de a visitar.

Mas feitas as contas é o amor de Boo por Sully o ponto crucial de todo o Universo da Pixar. O amor entre diferentes pessoas, de diferentes idades e até de diferentes espécies que tentam encontrar uma forma de viver no Planeta Terra sem o destruírem.

E é esta a Teoria da Pixar. É extensa, detalhada e complexa, mas para os verdadeiros amantes de filmes de animação em geral (e dos filmes da Pixar em particular) certamente que valeu a pena. No final desta segunda parte volto a repetir algo muito importante: toda a “Teoria da Pixar” não é da minha autoria! O seu autor dá pelo nome de Jon Negroni e divulgou esta teoria no seu blogue pessoal, tornando-se rapidamente num sucesso mundial! Portanto o seu, a seu dono.

Para a semana o “Desnecessariamente Complicado” estará de volta para a sua centésima (sim, leu bem, centésima) edição!

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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