Trump?

Trump já é oficialmente o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Tomou posse no passado dia 20 de Janeiro, após ter vencido Hillary Clinton nas eleições Presidenciais norte americanas.

A minha última crónica data de antes dessas eleições, ocorridas a 8 de Novembro do ano passado. Trump venceu, apesar de ter tido menos votos. Venceu em Estados que, todos somados, deram o número de votos suficiente em colégio eleitoral para ganhar a disputa.

Eu não pensava que Trump pudesse vencer. Achava que Hillary ia vencer, por pouco (é certo), mas que seria a primeira mulher a presidir os EUA. Assim não foi. Trump ganhou na Flórida e esse foi o estado-chave para o desfecho vitorioso.

Afirmei: Trump tem políticas proto-fascistas. Mantenho. Mais: Trump em menos de uma semana de presidência, já retirou a tradução em espanhol da página web da Casa Branca, e apresentou alterações nesse mesmo site que são indicadores simbólicos de uma viragem de rumo. Em direcção à intolerância e à xenofobia.

A energia limpa, direitos básicos de acesso a água potável, o respeito pelos tratados internacionais? Fim. Direitos dos LGBTQ, obamacare, boas relações com a China? É passado.

Trump assume ser nacionalista. E proteccionista. Na Europa, o seu discurso passaria por fascista. Nos EUA, diz ser “salvador da pátria”. Já ouvimos essa expressão há quarenta e tal anos atrás, e as políticas do novo presidente norte americano datam de há oitenta anos atrás. Algo aqui está profundamente errado…

Isentar fiscalmente a classe média norte americana e conceder autorizações de laboração às empresas que invistam em solo do “Tio Sam” parecem constituir medidas de fomento ao crescimento económico, a única via por onde Trump poderá “dar cartas”. Ele, um investidor respeitado em Wall Street, almeja taxar produtos vindos de fora dos EUA, por forma a dar um novo ímpeto à produção norte americana e assim dinamizar o mercado e procura interna. Por isso mesmo, rompeu com o Tratado de Livre Comércio do Pacífico (que apesar de excluir a China, e incluir países responsáveis por 40% do comércio da zona do sudeste asiático, não satisfazia aparentemente os anseios do novo presidente norte americano).

Trump, Marine Le Pen, Theresa May, Geert Wilders, Orban, Mark Rutte, Nigel Farage, Beata Szydlo, entre outros, são a face de algo novo, assim como sombrio e pouco claro: um novo tipo de nacionalismo. A intenção de, paradoxalmente, interligar esses nacionalismos é clara: existe um internacionalismo nacionalista, com teor xenófobo e nalguns casos racista. A sua tendência é para crescer, assim como a incerteza quanto ao futuro da UE, do Euro, da Nato e da própria ONU. A resistência não bastará; terá de haver acção de todos os defensores do mundo livre para gerar um novo “trust”, uma alternativa a Trump e companhia.

Nisto tudo, bem vistas as coisas, o Partido Democrata tem culpas no “cartório”: a esquerda democrática norte americana terá, necessariamente, de se “deitar no divã”; há que perceber as razões profundas da falta de adesão dos cidadãos dos EUA ao projecto do Partido Democrata, dos ideais e valores liberais e sociais-democratas, de solidariedade e igualdade de direitos e oportunidades, assim como do direito à manifestação e demais liberdades, que poderão muito provavelmente ser alvo de repressão.