Tua Cantiga

A mais recente canção de Chico Buarque teve o condão de me lembrar de uma coisa: talvez já não me sobrem assim tantos anos de vida pela frente, que dê tempo de ver aparecer no panorama musical outro artista do seu gabarito.

Sexta-feira dia vinte e oito julho, dia de lançamento de “Tua Cantiga”, primeiro single e música de apresentação do álbum “Caravanas” que o artista vai editar em breve.

Ninguém, que me visse sentado à secretária, sorrindo diante do computador, duvidaria que, nalguma sala de chat privada, era de uma mulher interessada na minha companhia que estava recebendo, naquele momento, um convite para encontro urgente de cariz sexual.

Porém, o que observo não tem a ver com a concretização de um ato sexual. No deleite de escutar uma canção que me fala ao ouvido, olho embevecido para um homem de mais de setenta anos, cantando de pé rodeado de músicos, num estúdio de gravação local, uma canção que a meu ver vale por todas as que ouvi, desde que há anos ele nos apresentara as que traziam o seu último disco.

Com letra da autoria de Chico Buarque, “Tua Cantiga”, tema em destaque na apresentação do álbum, fala de amor e descreve detalhes do relacionamento entre um casal, em que mais do que por bonita, a mulher a quem ele dedica os versos, se sente orgulhosa de tão inspirado artista ter decidido escrever-lhe escrito uma canção.

Já sem o fulgor físico dos primeiros anos de carreira, que conta com mais de cinquenta anos, o compositor carioca mantem a identidade, continuando a deliciar-nos com a escolha requintada das palavras e a ensinar-nos que é possível falar de amor sem ser pondo, de modo brejeiro, paixão a rimar com sexo e amor com cama, embora todos saibamos que esse é o lugar onde, duas pessoas que se amam, mais tarde ou mais cedo, vão naturalmente parar.

Parafraseando os seus versos, dou-lhe razão “ … se um desalmado te faz chorar, deixa cair um lenço, que eu te alcanço, em qualquer lugar.”. E se só ao alcance de quem ama, está o sentido desta quadra, não admira que também só entenda que é possível gostar tanto de uma mulher, quem por amor gostasse de compor uma canção e, se possível, que começasse de forma perfeita: “ Quando te der saudade de mim, quando tua garganta apertar, basta dar um suspiro, que eu vou ligeiro te consolar.”.