Um gato com o cio – Sandra Castro

Na semana passada o meu gato estava com o cio.

Eu não costumo prestar muita atenção nestas actividades felinas mas nesse dia estava particularmente atenta aos pormenores animalescos.

Mas para perceberem o porquê dos leitores perderem o vosso tempo a ler uma crónica sobre o cio dos gatos, tenho de contar esta história desde o início (sem que se torne enfadonha, claro).

O meu gato, Mr.Jerry, é um gato cheio de pinta, novinho, coitado, por isso, como qualquer macho, tem a mania que é bom!

Quando a minha gata, menina Caramela, veio para minha casa com três meses o meu gato não gostou dela! Mas, a verdade é que eu trouxe-a porque ele estava a brincar com ela na rua, e eu pensei que ela seria uma bela companhia para o meu gato solteirão. Já se conheciam, estavam a dar-se bem, não iria ter qualquer problema.

Mas enganei-me redondamente! Mal a bicha meteu as patitas dentro de casa o meu gato ficou com uns ciúmes doidos, com medo que ela lhe roubasse o lugar de rei. Ora julgam-se machos-alfa das suas casas e nós, fêmeas inteligentes, deixamos os iludidos e felizes.

Os meses passaram e o Mr. Jerry continuava sem passar cartão à menina Caramela. Ela tentava brincar com ele, dava-lhe beijinhos no focinho e no pêlo, deitava-se à beira dele, na cama, no sofá…onde ele estivesse ela ia atrás suplicando-lhe um pouco da sua atenção! Mas o felino não queria saber dela para nada, a sua presença incomodava-o! Quando ela entrava, ele saía porque não a suportava! E lá ficava a bichana triste, muito triste, porque o seu suposto companheiro fazia-a sofrer.

Mas a gatinha cresceu e tornou-se numa gatona!uh lá lá! Com o seu pêlo malhado, porte elegante, olhos amarelos e orelhas espetadas, não há gato que lhe resista! E o meu gato também não resistiu…quando ela chegou das mini-férias de não-faço-a-mínima-ideia-de-onde-ela-andou, ele ficou de boca aberta, ou melhor, caiu-lhe o focinho ao chão quando a viu! E não a largou mais! Anda atrás dela em todos os cantos da casa, a miar feito um louco, a tentar  colocar-lhe a pata em cima e amarfanha-la no meio da sala sem dó nem piedade.

Só que a Mrs. Caramela já está adulta e tornou-se numa gata selectiva e exigente (como qualquer mulher adulta) e já não é qualquer merda, desculpem, qualquer gato que lhe serve! E ela constatou que é areia de mais para o camiãozinho do Mr Jerry e tem fugido a sete pés dele, exactamente como ele fugia há alguns meses atrás. Irónico, não concordam?


Ela não quer ter um caso com ele! Não quer e prontos! Não há miado, por mais sonoro que seja, que a convença!

E finalizo esta linda história de amor felina, como tantas outras histórias sobre sentimentos e acções humanas com um provérbio popular que define um dos nossos maiores defeitos:

“Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca”.

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense