Um irrevogável novo governo – Nuno Araújo

Os elementos do novo governo, formado por PSD e CDS, tomaram posse na semana passada, e tiveram a “benção política” de Cavaco Silva, o Presidente da República. Depois da crise política que durou quase três semanas, e que gerou “consideráveis incertezas” para os agentes económicos sobreviventes à base de especulação no mundo da finança, assiste-se a “mais do mesmo” em termos de ideário político e “praxis” do governo, mas algumas figuras e cenários merecem destaque.

O primeiro destaque vai, sem surpresas, para Rui Machete como novo Ministro dos Negócios Estrangeiros. Substituindo “irrevogavelmente” Paulo Portas, o “histórico” ministro Rui Machete (repetindo presença em governo depois de ter participado no “Bloco Central”) terá dificuldades em conseguir desvincular-se da sua ligação ao BPN, entidade essa que “assombra” muitos dos ministros dos governos liderados por Cavaco Silva. Valha a Machete a actual “chuva de críticas” sobre a ainda Ministra das Finanças, Maria de Luís Albuquerque.

Um segundo destaque vai para a entrada de António Pires de Lima, dirigente nacional do CDS. Pires de Lima era gestor de uma empresa produtora de cerveja, garantindo boa reputação no mundo empresarial, embora no plano político só agora tenha decidido enveredar pela via ministerial, ele que já recusou convites para participar em governos. Uma palavra para Álvaro Santos Pereira, de saída do governo: será que alguém se despediu dele, por acaso?

Uma terceira nota vai sem dúvida para a decisão “corajosa” de Pedro Passos Coelho em manter a “Miss SWAP” no elenco governamental, porque é preciso ter coragem para manter no governo alguém tão “beliscado” na sua credibilidade em termos políticos e governamentais. Maria Luís Albuquerque, a “Miss SWAP”, é tida publicamente para Passos Coelho e Cavaco Silva como merecedora de confiança política no caso dos “contratos SWAP”; o problema aqui é que a ministra garantiu publicamente ter agido de forma correcta para com o estado português (que somos todos e todas nós), sem ter causado prejuízos ao erário público. Mas a sua versão dos factos invoca não ter conhecimento de determinados dados que o PS afirmou já ter transmitido, logo a lógica da argumentação da ministra em “jurar” que houve demora em descobrir a extensão dos danos causados pelos “contratos SWAP” é por demais insuficiente para não se justificar a demissão de Maria Luís do cargo de Ministra das Finanças. Algo de muito errado se passa em relação à crise política dos “contratos SWAP”, e Portugal merecia outro tipo de explicações por parte de Passos Coelho.

Devo fazer menção à mudança significativa que ocorreu na estrutura orgânica do governo, por ocasião desta remodelação no elenco: há mais ministros no executivo, havendo mais ministérios repartidos e dando fim aos “mega-ministérios”; existem também mais secretários de estado, notando-se igualmente a presença de mais ministros do CDS actualmente do que no período anterior. Por outro lado um ministério (o de Assunção Cristas, do CDS) “emagreceu”, dando lugar à pasta do Ambiente liderada agora pelo social-democrata Jorge Moreira da Silva, vice-presidente do PSD e que já cumpriu funções muitos anos como assessor político de Durão Barroso na Comissão Europeia, para os assuntos das alterações climáticas. Pedro Mota Soares, do CDS, acumula agora a pasta do Emprego com os dossiers da Segurança Social e solidariedade, dos quais já era responsável ministerial.

Curiosamente, e apesar desta crise política criada por Paulo Portas, que ambicionava mais poder dentro da coligação governamental, o PSD continua a ser base do ultraliberalismo político em Portugal, por assegurar os precisamente os ministérios considerados, ideologicamente pelo ultraliberalismo, como essenciais à responsabilidade directa do estado na gestão da soberania nacional: a pasta da justiça (Paula Teixeira da Cruz, PSD), da administração interna (Miguel Macedo, PSD) e a parte militar (José Pedro Aguiar Branco, PSD). Isto significa que por mais vitórias que o CDS de Paulo Portas obtenha em outras tantas “birras políticas” no “recreio de São Bento”, o PSD terá sempre a gestão daquilo que para a sua ala política no poder é mais importante. E aí Portas não chegará “a tocar”, certamente.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana