USA, Utah, Salt Lake City, Homeless man sitting on sidewalk

Um poema para reflexão: “A muito rica pobreza”

Hoje escrevo apenas um poema…
É uma crónica, sim…
Foi o que vi e senti, caminhando em alguns lugares…
Partilho hoje, aqui convosco, sob a forma de poesia, que expressa por vezes bem mais do que um texto em prosa sobre este tema em concreto… Sobre a Pobreza, e a imensa riqueza humana dos afetos…
Deixo-vos por hoje, com este poema, para reflexão, talvez…
Com o carinho de sempre, desejo a todos e a todas vós uma excelente semana…

“A muito rica pobreza”

Hoje percorria as ruas,
olhando o Outono que chega,
quando reparei nele,
na rua daquela Igreja…

Tropeçava, caminhando,
lentamente a coxear,
e espreitava nos caixotes,
para comida arranjar…

Escondi a minha vergonha,
de não o poder ajudar,
de ter comida na mesa,
de sempre poder jantar…

Fui à pressa arranjar,
umas bolachas e pão,
comprei ali, a correr,
e sempre a olhar para o chão…

Depois cheguei de mansinho,
lá fui deixar o saquinho,
disfarcei-o bem de lixo,
deixei-o no chão sozinho…

O senhor passou ao lado,
escondi-me atrás de um banco,
e esperei que lá voltasse…
Voltou, e abriu o saquinho,

Vi-lhe a lágrima, ao cantinho,
dos olhos de bondade feitos…
Meti-me no carro, arranquei,
e mais à frente encostei…

Ali em silêncio chorei…
Mas que vergonha senti…
Por fazer parte do mundo…
Onde há pobreza sem fim…

Não queria dar esmola, (isso não),
já humilha a mendicidade…
num mundo onde há fome e dor,
para quem tem rosto de amor…

Quem nada tem, de verdade…
se a vida lhe levou tudo,
não lhe levou a bondade,
nem levou a gratidão…

Então sorri… Somos gente!
Nós, o senhor, e o seu cão,
com quem partilhou o que achou:
o Amor e o seu Pão…