Uma aventura de Páscoa…

Olá, amado e adorado leitor! Sim, adorado… De tal forma que estou, neste preciso momento, vergado de joelhos no chão frio da minha casa, como se estivesse a prestar um tipo de vassalagem a um Deus adorado. Porque é isso que o leitor é para mim: um Deus. Porque, honestamente, só uma pessoa com uma paciência de Deus pode perder tempo a ler as coisas que por aqui vou escrevendo. Agora se me dá licença, caro leitor, vou levantar-me, que estar aqui de joelhos no meio do chão frio da minha casa pode muitíssimo bem resultar em duas tristes situações; ou acabo por dar cabo dos joelhos, ou ainda apanho uma bela de uma constipação.

Bom, no passado fim-de-semana tivemos a Páscoa. Uma data que é sempre recebida de bom grado por todos os portugueses, porque normalmente significa que vai ser um fim-de-semana prolongado derivado ao feriado — e o português adora feriados, não é verdade? Mas se perguntarem à maioria dos portugueses do que se trata a Páscoa, eles responderão: “Ah, a Páscoa? Ah, o feriado? Ah, sim, sim, aquela altura do ano em que a minha mulher se veste de coelhinha da Playboy e nós vamos para um hotel comer quantidades industriais de chocolate enquanto fazemos aquilo que os coelhinhos adoram fazer, estás a ver? Eh, eh!” (Ainda estou para perceber que raio de fetiche é este de ir para um hotel com a mulher vestida de coelhinha da Playboy e passar o resto do serão a comer cenouras. Mas, enfim, cada um sabe de si…)

Eu, tal como tantos outros portugueses, rumei ao Algarve neste fim-de-semana prolongado da Páscoa para aproveitar o sol que a Primavera trouxe, e para tentar descansar um pouco o cérebro e recarregar energias. Mas, normalmente, o plano sai sempre furado. E porquê? Porque, sem excepções, a nossa cara-metade quer sempre ir passear aos centros comerciais que, na Páscoa, estão simplesmente a abarrotar de gente. E, mais propriamente no Algarve, a abarrotar de gente espanhola. Estar em Portimão nesta Páscoa que passou, foi o sinónimo de ter ido passar um fim-de-semana prolongado a Badajoz — e até os caramelos marcaram presença em força!

E como a mulher normalmente leva sempre a dela a avante, chantageando-nos com ameaças bastantes válidas, lá fui eu até ao Aqua Portimão, o centro comercial mais badalado de Portimão que, logo por azar, possui uma loja que é o terror de qualquer homem: a Primark. A Primark é, na verdade, o Inferno. Só que ninguém ainda deu conta desse pormenor. O Diabo é um sacana do pior, e sabe como enganar a malta — especialmente os homens, neste caso em concreto.

Com conhecimento de causa, já sei que, ao entrar numa loja da Primark, não devo seguir a minha cara-metade pelos inúmeros corredores de roupa, correndo o risco de ganhar uma verdadeira aversão ao sexo oposto — e convenhamos, isso não era lá muito agradável. Mas, lá está: aquilo é o Inferno na Terra. Então optei por a deixar na sua vidinha, e optei por dar duas voltas e sair da loja para me juntar ao grupo de homens agarrados ao smartphone que esperavam desesperadamente pelas suas “companheiras”. Mas, assim que estou quase a sair da loja, eis que alguém esbarra em mim, com a violência do embate a fazer-me deixar cair o telemóvel no chão. Imediatamente, sem levantar a cabeça, soltei um “Porra! Tenha lá cuidado por onde anda, caraças!”, e a seguir ouço dois pequenos sons. Mas não foram uns sons quaisquer. Foram uns sons característicos de quem é intolerante à lactose, e que por engano bebeu um copo de leite. A pessoa que se esbarrou em mim, para além de ter tido a capacidade de me atirar o telemóvel ao chão, ainda achou por bem soltar dois flatos, como que, se não o fizesse, o seu trabalho não teria ficado acabado.

Pensei “Que nojo! Só pode ser espanhol!” (Perdoem-me a xenofobia, mas consta que os espanhóis são um povo que não aprecia efectivamente a boa educação…), mas, assim que olho para cima, constato que era um indivíduo de etnia cigana. Soltei um pequeno esgar de nojo (devido ao cheiro fastiento que abundava em meu redor), e preparava-me para sair da loja, quando o indivíduo de etnia cigana disparou a seguinte pergunta: “Olha lá, pá: gostaste?” E eu fiquei atordoado. Por um lado, ainda pensei em colocar-lhe a pergunta “Estás a referir-te ao quê, mais propriamente? Ao facto de me teres quase partido o telemóvel, ou aos dois enormes e nojentos flatos que acabaste de soltar, sua besta?!”, mas ele antecipou-se e voltou a perguntar: “Cheiraram bem?”

Uma pessoa normal pensaria “Vou é pôr-me a milhas!”, mas eu não sou uma pessoa normal. Então, optei por ser educado e responder de uma forma igualmente educada — mas ostentando uma expressão enojada — o seguinte: “Pá, sinceramente… Não! Até digo mais. Parece que almoçaste um gato morto e comeste um rato com ébola como sobremesa. Diz-me que, pelo menos, comeste uma peça de fruta?” Pensei que o indivíduo iria levar a mal a minha resposta, mas ele retrucou de uma forma que eu não estava realmente à espera. Ele disse: “Ai… então não é que aquela gaja tem razão?” Feito parvo, ainda tive a triste ideia de perguntar “Qual gaja?”, ao que ele respondeu: “Aquela gaja, a minha esposa… Ela queixa-se que eu devia comer mais legumes, mas eu não gosto… Ah, raios partam a mulher! Parece que é filha de um sapo! Passa a vida a atormentar-me!”

Não fosse o caso da minha cara-metade ter aparecido naquela altura, e eu de certeza teria desatado a recomendar ao pobre coitado uma data de alimentos ricos em fibra, para ajudar a regular os seus intestinos. Isso, ou então tinha recomendado ele substituir o copo de água às refeições, por um copo de detergente para a roupa. Ao menos os flatos brotariam cheirosos… e em bolinhas de sabão…

Isto é que é uma Vida de Cão, hem…