Uma questão de “timing”

Quando o Verão, de todos os anos pares, se começa a aproximar, todo nós começamos a ficar com um friozinho na barriga de ansiedade à espera de um evento marcante, não, não é o Festival do Caracol em Loures, é uma competição de seleções. Este ano, 2014, é ano de Mundial, e esta semana a Federação Portuguesa decidiu fazer um anúnico: a renovação de Paulo Bento até 2016.

Com a renovação de contrato, Paulo Bento tem a certeza de que, faça o que fizer, o seu lugar como selecionador português estará sempre assegurado no final do Mundial. Que implicações tem isto numa seleção que veio de um apuramento sofridíssimo num grupo facílimo? Diversas. O facto é que, querendo-se ou não, o selecionador português vê agora muito peso retirado dos seus ombros e um alívio extremo em relação ao seu futuro. Tudo errado.

Seja em que circunstância for, exerça-se a profissão que se execer, a pressão é essencial. Quer para um melhor aproveitamento do trabalho, quer para uma maior motivação ou mesmo para fazer com que não se descanse “à sombra da bananeira”. Paulo Bento não tem nada disso. Tem pela frente um grupo complicado na maior e mais importante competição de seleções de futebol do mundo e vai enfrentá-la com a maior “tranquilidade” de sempre. E nós, adeptos, ficamos de coração nas mãos, tanto por não termos total confiança nas suas escolhas, como por sabermos que a almofada que tem fará o nosso chão ainda mais duro.

Neste caso em particular não se trata da qualidade do treinador, o que se discute é o timing. Seja bom ou mau, ninguém pode ter o seu futuro definido antes de um teste gigantesco às suas capacidades. Fazendo uma alusão ao ensino, é como se tivesse sempre, pelo menos, 10 valores e nunca tivesse ido a um teste. É um saltar de etapas e um benefício que só está ao alcance de alguém que tem por trás uma estrutura frágil. Como se sentirão os jogadores ao saberem que, se errarem, tem o seu futuro em risco, mas que o seu selecionador mesmo que falhe ganhará sempre? Sentir-se-ão desanimados e com razão.

Não cabe na cabeça de ninguém renovar antes de uma competição. Por mais confiança que se tenha, não se faz. O desastre no Mundial não está acautelado, continua a ser um cenário possível, a única coisa que mudou foi a maneira de olharmos para o mesmo. Se falharmos redondamente e nem passarmos dos grupos, todos pedirão a cabeça de Paulo Bento e o próprio continuará a rir-se, quer com os bolsos mais cheios, quer com o seu emprego seguro. Tudo isto se deve a uma jogada de “mestre” da Federação Portuguesa de Futebol. Quanto a nós, vamos aguardando até ao dia em que se deixem de dar tiros nos pés e se comece a pensar com coerência  no futuro.

AntónioBarradasLogoCrónica de António Barradas
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