Verão, bombeiros e protecção civil – João Cerveira

Bombeiro portugues-foto ReutersTodos os anos é a mesma coisa. Mas o Ministro da Administração Interna afirmou que, desta vez – leia-se “este ano” – o Governo forneceu todos os meios que foram solicitados, tendo os meios disponíveis aumentado substancialmente em relação à mesma época em 2012. A Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) confirma. Vamos, então, acreditar que é verdade.

A Policia Judiciária informou que já deteve mais de 30 suspeitos de atearem fogo às nossas florestas.

Mas se assim é, porque continuam os bombeiros a combater os incêndios até à exaustão, pondo em causa as suas próprias vidas? E, infelizmente, muitas vezes, perdendo a vida no combate ao fogo? Porque há viaturas que ficam sem combustível a caminho do teatro de operações? Porque há bombeiros sem meios de protecção a combater o fogo? Porque é que há aldeias, com o fogo a rondar as casas, com populares a combater incêndios, com os militares dos postos territoriais/locais da GNR a tentar ajudar a população, sem bombeiros por perto (neste exemplo, um conjunto de bombeiros do corpo da Força Especial de Bombeiros só chegou 1 hora depois de terem sido chamados, 1 hora de sufoco para a população e os poucos militares da Guarda que, pelas imagens televisivas, faziam tudo por tudo para o fogo não chegar às casas)?

Haverá, com certeza, muitas e contraditórias respostas e opiniões sobre estas questões. A minha é esta: falta de coordenação. Nós vemos, pelo site da ANPC, que quem, muitas vezes, coordena as operações são os comandantes nacionais e distritais da própria ANPC. E pergunto eu: que conhecimento têm estes comandantes do terreno? Melhor: que conhecimento têm estes comandantes do combate a incêndios? Eu não sei. Mas a experiência leva-me a crer que o conhecimento é muito pouco ou inexistente. Aconteceu o ano passado em Tavira. Este ano está a repetir-se em muitas outras localidades, nomeadamente nos distritos de Viseu e Vila Real. Os bombeiros (entre outros meios) estão mal coordenados, mal distribuídos e a defesa de pessoas e bens, que deveriam ser o principal objectivo da Protecção Civil, fica em causa.
Não esqueço a prevenção, que é muito pouca. Mesmo figurando na Lei, poucos proprietários procedem à limpeza das suas propriedades. Entre os proprietários de que falo está o próprio Estado. E há cada vez mais suspeitas de fogo posto. Mas, apesar disto, continuo a achar que, em muitos casos, os meios de combate aos incêndios parecem, como dizem os antigos, “baratas tontas”, descoordenados, o que piora gravemente a eficácia do combate, desgasta desnecessária e intensamente os operacionais e, quando mais cansados eles estiverem, pior é capacidade de reacção às adversidades e maior a exposição ao risco.

 

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…