Visão Política ou falta dela

Terminadas as tão merecidas férias , o regresso de Passos Coelho à realidade política portuguesa foi mais abrupto do que o próprio esperaria. Ainda em fase de adaptação às difíceis rotinas da vida de Primeiro-Ministro, e já o malfadado Tribunal Constitucional fazia das suas.

No seguimento do envio do diploma por parte do Presidente da República a 23 de Novembro do passado ano, o Tribunal Constitucional chumbou a lei da convergência das pensões, por unanimidade, alegando que viola o princípio da confiança consagrado na Constituição da República Portuguesa.

A medida chumbada pelo Tribunal Constitucional tem uma incidência orçamental em 2014 avaliada em cerca de 370 milhões de euros. Estrategicamente, o Governo já anunciou que com os efeitos da retoma da Economia e um Plano B que tem idealizado, este buraco vai ser coberto.  Ainda assim, Passos e companhia vão querer dramatizar ao máximo este chumbo, argumentando que continua a ser imprescindível levar a cabo a reforma do sistema de pensões dos funcionários públicos.

Para a História fica mais um considerável rombo no orçamento de estado apresentado pelo governo, portanto.

Ainda mal refeito da nega que recebera, e fazendo uso da sua visão política, Passos desafiou os candidatos à liderança do PS, António Costa e António Seguro, para um entendimento tendo em vista uma reforma do actual sistema de segurança social.

Previsivelmente, não quererendo perder sem ir a eleições, ambos os Antónios soltaram um rotundo não à proposta do ainda Primeiro Ministro. Embora a intenção política de Passos Coelho seja comprensível, já que assim não poderá ser acusado de não procurar o sempre bem visto consenso, é também de notar a reduzida margem de manobra que começa agora a ter junto da opinião pública, pois toda e qualquer iniciativa sua parece estar destinada a morrer à nascença. A versão Calimero de Passos Coelho não é levada a sério e ninguém quer um Primeiro-Ministro com um karma destes.

Como se não bastasse o fraco acolhimento que as suas propostas parecem ter junto do Tribunal Constitucional, já nem o PS parece querer dar uma mãozinha.

No plano internacional, o Médio Oriente continua no centro das atenções. O conflito entre Israel e Palestina continua sem fim à vista. Os cessar-fogo são cada vez mais curtos e menos respeitados pelas partes envolvidas, o que é um claro sinal de falta de fé na possibilidade de paz.

As verdadeiras razões para as investidas de Israel continuam a não ser conhecidas, pelo que especular sobre as mesmas é o que nos resta. Se a tentativa é comprometer militarmente o Hamas, parece-me que a estratégia israelita falhou redondamente, pois além do Hamas continuar a deter o efectivo controlo da faixa de Gaza, a sua força militar  e a capacidade para lançar rockets não parecem ter sido muito afectadas. Se foi este o objectivo de Israel, o mesmo não foi alcançado.

Quer o objectivo fosse eliminar a ameaça do Hamas ou eliminar o próprio Hamas,  Israel não foi bem sucedido apesar das semanas de massacre a Gaza.

Caso Israel tenha tentado denegrir a popularidade do Hamas na Palestina e pelo Médio Oriente fora, o falhanço também foi redondo. Em vez de marginalizar o movimento, o que Israel conseguiu foi a vitimização do Hamas.

Também a opinião pública internacional tem cada vez mais simpatia por Gaza e activistas por todo o mundo manifestam-se contra o bloqueio e os raids aéreos. A população elogia a firmeza e resistência do Hamas face aos desproporcionais ataques israelitas. Como se vê, a beligerância israelita só traz vantagem ao Hamas.

O grande motivo de preocupação relativamente à escala deste conflito prende-se precisamente com a declarada ambiguidade dos objectivos de Israel. Os líderes e representantes israelitas não tem, desde há muito, explicado com clareza o que significaria ser bem sucedido, ou sequer o que será necessário para parar a violência.

Ora a visão política ou falta dela dos políticos israelitas para claramente delinear os seus planos advém da crescente pressão do eleitorado e da condenação das suas acções por parte da comunidade internacional, o que faz com que as tropas no terreno passem a ter um peso muito maior, isto porque havendo falta de decisão política quem lidera no terreno passa a ter um peso real ainda maior.

Serão portanto os comandantes das tropas no terreno que eventualmente tomarão a decisão de levar ou não a cabo uma sangrenta invasão terrestre a Gaza, o que não é nada tranquilizante.