A visita de Hollande a Cuba, mas a qual Cuba?

A visita efectuada pelo Presidente da República Francesa, François Hollande, nesta semana, constitui a primeira visita de dirigente francês desde a revolução cubana de 1959, e a primeira visita oficial de um líder de um país europeu desde o reatamento de relações entre a República de Cuba e os Estados Unidos da América (EUA).

Para além da intenção das duas partes reforçarem os laços diplomáticos e económicos, os interesses franceses estiveram certamente envolvidos nos encontros formais entre Hollande e os irmãos Castro, nomeadamente no que diz respeito às viaturas francesas da marca Peugeot, incrivelmente dispendiosas em Cuba, e que poderão vir a substituir o parque automóvel cubano ao longo dos próximos anos, país onde a maioria das viaturas data da década de 50. Acordos no plano energético foram igualmente assinados, assim como a simbólica mas importantíssima inauguração de um centro autorizado da Alliance Française, instituição que regula o ensino e divulgação da língua francesa fora de territórios de França.

Não se realizaram encontros entre Hollande e representantes da oposição cubana. Mau para a democracia, mas essencial para uma primeira abordagem nesta nova fase de relações diplomáticas com Cuba. Com efeito, Hollande apenas se visitou uma parte de Cuba, mas não a verdadeira Cuba, a Cuba de precárias condições de vida para os seus concidadãos e que não trouxe os benefícios da revolução socialista dos irmãos Castro a toda a Cuba.

Enquanto que Cuba se “abre” ao mundo exterior ocidental, o seu povo não denota mudanças visíveis na sua vida do quotidiano, pois o tipo de modelo de constante festa vivida no país, que é de resto “vendido” aos turistas ocidentais, não é de todo o sentimento geral partilhado pelos cubanos. Outrora apelidado de “bordel dos EUA” pela oposição democrática cubana, hoje passa a ser “terreno de jogo” de ambições expansionistas económicas ocidentais.

Porém, uma parte da classe mais abastada já usufrui de melhor acesso à internet. Os preços das casas podem ser incrivelmente altos, existindo casas de gama média vendidas a cerca de 900 mil euros. Já os preços das telecomunicações parecem ter sofrido uma baixa considerável, o que foi bastante bem recebido tanto pelo lado americano como pelo lado cubano. Alguns filmes, que anteriormente poderiam ser alvo de censura por parte do regime cubano, podem vir a integrar um festival de cinema em Havana, capital cubana.

Contudo, a mudança tardará para vermos um aumento dos salários actualmente miseráveis. Hoje em dia, um professor cubano ou um engenheiro cubano podem na esplanada da Plaza Vieja, em Havana, provar uma fatia de cheesecake e tomar um capuccino, mas pagarão certamente 22 Cuc, a moeda do país, o que representa cerca de metade dos seus salários mensais, que não chegam a 50 Cuc.

Aos preços exorbitantes do quotidiano, juntemos o facto de apenas existir uma marca de cada produto no supermercado, algo quase impensável para alguém que viva num país ocidental democrático. Com efeito, um regime de partido único, como o cubano, que tem um sistema de saúde desigual para os habitantes de Cuba (que para se ser cidadão é necessário ter mais alguns direitos básicos que o de salário e de cuidados de saúde e educação, e não apenas deveres para com o regime), mas continua a ser aplaudido em todo o mundo como sendo dos melhores sistemas de saúde públicos. Tomara que chegasse e bem a todos e de forma igual…