A Xana Toc Toc tentou destruir a minha vida…

A música é algo que faz parte da humanidade. Não há coisa que nos faça mais feliz ou, na maioria das vezes, simplesmente melancólicos do que a música. Quem nunca fez figuras absurdas no trânsito por causa de música? Quem não tem certas músicas que estão associadas a várias fases — umas felizes e outras menos felizes — da vida? Todos nós temos. Somos seres humanos. Somos frágeis e, ao mesmo tempo, sortudos por termos a possibilidade de conseguirmos registar e interiorizar as mensagens que as canções nos facultam.

Eu, como a maioria dos seres humanos, tenho músicas que me dizem muito. Músicas que me fazem sentir muito bem, mas que, por uma questão — bastante absurda — de comportamento social, decidimos ocultar de toda a gente. São as chamadas “guilty pleasure”. Confesso que tenho imensas canções “guilty pleasure”, mas como perante a sociedade tratam-se de músicas que não se encaixam em nós, opto — como muita gente… — não as partilhar com ninguém. São minhas. São apenas e só minhas e fazem parte de mim. Mas quando surge a paternidade, as coisas tendem a alterar-se um pouco.

Com a paternidade surgem as canções infantis. Canções que servem para entreter os nossos petizes. E para nos dar uma ligeira folga — nem que seja apenas por uns míseros minutos. E que belos e importantes míseros minutos são esses, por Deus!

Com o surgimento das canções infantis na nossa vida, o nosso cérebro tende a confundir-se. As canções que antes invadiam constantemente a nossa mente, tendem a ser substituídas por essas novas canções infantis. O que pode levar a pequenos mal-entendidos na nossa vida. Até com a nossa cara-metade…

Antigamente, eu acordava de manhã com uma certa música na cabeça. Música essa que se tratava de um “guilty pleasure” e que, por isso mesmo, não tinha mal nenhum em revelar à minha cara-metade, entoando a música pela casa ao mesmo tempo que tratava dos meus afazeres matinais. Não havia nenhum problema para além do típico gozo: “Eish! Estás a cantar isso? Tu gostas disso? Pelo amor de Deus!” Mas não há problema quando este tipo de chacota fica entre as quatros paredes na nossa casa.

O pior é quando, durante a noite, nós não ficamos apenas com a música na nossa cabeça e ela passa a ser entoada por nós mesmo a dormir. E até isso pode apenas tratar-se de um momento cómico entre família, mas não quando se canta músicas infantis durante o sono. Porque, primeiro, já é saturante ouvir essas músicas durante quase 12 horas por dia, quanto mais ter alguém ao nosso lado a cantar essas mesmas músicas durante o sono. É desesperante, eu entendo a minha cara-metade.

Mas tratando-se apenas de músicas infantis, a verdade é que a Xana Toc Toc veio arruinar-me o “casamento”. Cantar as músicas da Xana Toc Toc ao mesmo tempo que se está a dormir pode ser muito perigoso para uma relação amorosa.

Uma destas noites, eu não cantei a música da Xana Toc Toc. Mas fiz algo pior e entoei alto, e em bom som, a introdução das músicas da Xana Toc Toc de forma repetitivamente enervante. Diz a minha cara-metade que passei a noite apenas a dizer “Xana Toc Toc Apresenta!” completamente em loop, o que resultou em acordar no dia seguinte com um olho negro, dores nas costelas e com uma insinuação absurda — mas, provavelmente, até muito lógica — de estar apaixonado pela Xana Toc Toc e não pela mãe da minha filha.

Sendo assim, quero aqui deixar um beijinho muito especial à Xana Toc Toc. Ah, e um para a minha cara-metade, claro… Hum.

Isto é que é uma Vida de Cão, hein…