2012 em retrospectiva, perspectivando 2013 – Nuno Araújo

2012 foi o ano em que Psy conseguiu ter mais de mil milhões de visualizações de “Gangnam Style” no Youtube. Mas também foi o ano em que o Euro quase foi destruído e acabou por ser salvo. Este ano, que termina no dia em que esta crónica é publicada, segunda-feira, não deixará saudades em muitos aspectos, mas marca uma linha entre aquilo que fica para trás e aquilo que está à nossa frente.

Mensagem de Natal de Passos Coelho no Facebook
Antes que o ano de 2012 acabasse, Passos Coelho não podia deixar de nos “brindar” a todos com mais uma das suas já famosas incursões pelo mediatismo fácil. Desta vez juntou uma ida ao Facebook, com uma série de frases feitas e expressões que não foram, uma vez mais, felizes.

Vamos à mensagem do primeiro-ministro. Passos Coelho, que se faz dirigir a “amigos” (quais?), confessa que “este não foi o Natal que merecíamos”. Ora, se há coisa que os portugueses não mereciam era uma mensagem hipócrita que lamenta o esforço feito em vão de milhões de pessoas, para desejar, no final do texto, “festas felizes”. Os portugueses estão cada vez mais pobres, e o estado continua a açambarcar impostos, prosseguindo numa política suicída da economia e das pessoas em Portugal.

O Facebook, definitivamente, não é um meio apropriado para Passos Coelho e Cavaco Silva comunicarem com os portugueses. Essa rede social, qual trincheira, onde Passos e Cavaco “se escondem” dos portugueses, não deveria substituir o “cara a cara”, “olhos nos olhos”, que os mais altos responsáveis políticos do país devem fazer. É dever institucional desses agentes políticos. Mas de deveres institucionais não podemos esperar muito de um primeiro-ministro que ludibria o Tribunal Constitucional e que não cumpre a constituição do seu país.

Portugal: os melhores de 2012
Em 2012, os melhores foram mesmo os portugueses, enquanto colectivo. O país demonstra ter uma enorme capacidade de sofrimento e sacrifício, pois não se deixou vergar face às políticas destruidoras da economia nacional, que puseram o país a saque por parte de inúmeras duvidosas entidades de negócios. Portugal não está à venda, Miguel Relvas que se engane. A TAP, a CP, Carris, Metro, STCP e outras transportadoras de capitais públicos poderão dar lucro até, mas necessitam de boas políticas, ajustadas às necessidades reais dos cidadãos. A EDP foi privatizada, para quê, para prosseguir com aumentos desmesurados das facturas energéticas, desapostando nas energias alternativas (ou não fosse a EDP agora chinesa)? Privatizar a ANA, a meu ver, não foi um acto totalmente desprovido de sentido, pois os gastos com a manutenção dos aeroportos de Portugal Continental são demasiado elevados e a rentabilidade dos espaços não é fácil de conseguir.

As manifestações várias mostraram que os portugueses não estão excluídos do centro decisório nacional. Medidas como a famigerada alteração da Taxa Social Única não passaram, quando um redondo “Não” surgiu pela voz de milhares de manifestantes, do PS em uníssono, assim como da restante esquerda.

Portugal: os piores de 2012
Os anos bissextos, diziam os antigos, que eram maus anos à partida. Logo, Passos Coelho encarregou-se de cumprir esse “oráculo da desgraça”. “Não somos a Grécia”, diz o governo de Passos Coelho. Mas ter sido Portugal não foi fácil, sobretudo enquanto a UE ainda não tinha sido salva por Angela Merkel e Mario Draghi, bem no meio da crise da dívida soberana, só amenizada em meados de Outubro.

Dúvidas? Passos Coelho e o seu governo foram mesmo o pior da vida em Portugal de 2012.



Portugal: o que vem aí?
O ano de 2013 perspectiva menor crescimento do desemprego. Os ventos europeus, ainda que não totalmente favoráveis, já correm mais a favor de Portugal. Será o ano em que as prestações do crédito à habitação atingirão o valor mais baixo, desde 2002. Os reformados terão mais dinheiro ao fim do mês (verão isso a partir de Fevereiro), pois o governo vai devolver, proporcionalmente em cada mês do ano, metade dos subsídios de férias e Natal de 2013. Os combustíveis também vão sofrer descidas de preços, muito por culpa da crise do dólar que já está mais que anunciada, assim como o fim do enriquecimento de diversos países à custa da exportação de petróleo.

Mas 2013 também trará mais miséria, por outro lado. Aumenta o preço da água ,gás, electricidade, transportes públicos, etc. Os bancos alimentares estarão em ruptura, devido ao aumento do número de pedidos de ajuda de portugueses em necessidade. O sector imobiliário chegará a níveis ainda piores do que este ano. O sector das exportações também terá dissabores vários. Mas atenção, o comércio interno tem tudo para melhorar, pois as famílias já efectuaram o seu ajustamento financeiro, ou seja, a percentagem de incumprimento poderá até começar a descer, em virtude de acordos entre devedores e credores para pagamento faseado das dívidas por saldar.

O ano de 2013 será o ano de viragem em muitos sentidos. Um bom exemplo é o comércio das lojas chinesas, que será bem mais reduzido, pois fecharão lojas orientais mais pequenas, para abrir lojas maiores, ainda em que em menor número. Apesar de não haver dados, sabemos que em já em 2011 houve 25% das lojas chinesas em solo português a encerrar portas.

Mundo: os melhores de 2012
A UE, laureada com o prémio Nobel da Paz de 2012. Chegar ao final do ano de 2012 e conseguir ter salvo a Grécia do “afogamento”, assim como ter garantido o bom futuro do Euro, é mais do que uma boa razão para recompensar a UE pelos esforços envidados.

O sul-coreano Psy conseguiu mais de mil milhões de visualizações do seu vídeo “Gangnam Style” no Youtube, o que evidencia um tremendo fenómeno de massas. Barack Obama, democrata, venceu as eleições presidenciais norte-americanas, que foram muito marcadas pela divisão ideológica entre Obama e Mitt Romney, republicano derrotado.

 

 Mundo: os piores de 2013
A Síria pode ganhar esse prémio indesejado. A Síria é solo de uma guerra civil iniciada muito por culpa de Assad, ditador que não sai apenas por dominar um protectorado de “terras do Caucaso”. Na Síria, a Al-Qaeda e outras paramilitares terroristas juntaram-se e legitimam a sua posição de defensoras de parte do povo sírio, enquanto o exército fiel ao governo provoca inúmeras chacinas, para isso atacando até populações fronteiriças turcas.

Talvez por a Al-Qaeda se encontrar em terreno sírio a combater o exército governamental, é que Barack Obama ainda não tenha decidido algo mais firme. Evitar a guerra deixando a guerra proliferar não é bom tom para o prémio Nobel da Paz Obama, mas é melhor do que “entornar o barril de pólvora” entretanto feito na Síria.

Num ano em que o navio Costa Concordia se afundou, com mais de 4 mil pessoas a bordo, em que até o capitão do navio fugiu (um crime aos olhos das leis de navegação marítima), Hugo Chavéz na Venezuela viu-se assolado de novo pelo cancro, possível sarcoma, que o tem fustigado na zona do baixo abdómen, mas conseguiu vencer as eleições no seu país.

Uma senhora de 80 anos, em Espanha, conseguiu “retocar” de tal forma uma pintura de valor incalculável para a arte sacra (“Ecce Homo”), que danificou permanentemente o original.

Fernando Lugo, ex-presidente do Paraguai, viu ser-lhe movido um “impeachement”, que levou à sua saída do cargo que ocupava.

Na Rússia, as “punk” Pussy Riot actuaram numa catedral, mas não conseguiram evitar a eleição de Putin para mais um mandato presidencial. O resultado foi a detenção das 3 jovens, e consequente punição com pena efectiva de prisão, ainda que depois amnistiada, depois de até Sir Paul McCartney, dos The Beatles, se ter mostrado indignado com tal veredicto judicial.

 

Mundo: o que vem aí?
Com a crise do Euro já sanada, abre-se espaço a uma crise do dólar. O endividamento americano chegou ao limite, e mesmo que um acordo entre democratas e republicanos aconteça, as praças mundiais já se começam a questionar acerca da mudança, ou não, de divisa de referência, que por enquanto é o dólar.

A partir daqui, a UE vai ter de agir mais concertadamente. A Grécia terá apoio da Alemanha, onde Merkel tem eleições em 2013. A união bancária fará sentido em 2013?

O tratado orçamental europeu entra em vigor a 1 de Janeiro de 2013, dia em que a Croácia passa a ser o 28º membro da UE.

A China militarista vai ver o ritmo do seu crescimento ecnómico abrandar. O Japão também. De resto, toda a Ásia, Índia incluída, vão ter crescimentos muito próximos de valores entre 3-4 %, que indicam estagnação, em países de economias emergentes. O Brasil e a Rússia vão exportar muito menos petróleo, enquanto que a Áfríca do Sul vai diminuir o ritmo de exportação de minérios e platina.

Um mundo em viragem acentuada, é o que vem aí em 2013.

Desejo a todos os meus leitores um óptimo 2013! De preferência, sem este executivo PSD-CDS a governar, pois claro!

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana