25 de Abril de 1974 – Um dia histórico para Portugal

Nasci em 1990, a última década do Século XX. Quando eu nasci, o mundo que até então estava dividido entre o Bloco Ocidental e o Bloco do Leste (a Guerra Fria), chegava ao fim com a queda do Muro de Berlim. Quando eu nasci, já tinham passado 16 anos desde a Revolução dos Cravos e já a Liberdade era um direito adquirido no meu País. Não vivi o Estado Novo nem a transição para a Democracia. Pode-se dizer que tudo o que sei a respeito desse período provém de várias fontes: o que aprendi na Escola, o que aprofundei enquanto estudante universitária, os testemunhos que fui recolhendo de quem viveu sob a égide do Regime de Salazar e, claro, a minha curiosidade diletante e inesgotável pela História. Para os meus pais e tios, a lembrança do Estado Novo é já uma memória distante. Recordam-se de terem pertencido à Mocidade Portuguesa e da figura de um Professor enquanto autoridade máxima. Para os defensores, António de Oliveira Salazar era um ídolo, símbolo de uma época de ouro recordada com saudade. Para os opositores, odiado e símbolo da estagnação e do atraso português. Eu tenho a minha própria perspetiva.

Salazar foi um homem do seu tempo, que se moldou ao panorama mundial, mantendo a salvaguarda nacional através da instauração da censura e propaganda. A Constituição corporativa, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE, mais tarde PIDE) e o Secretariado da Propaganda Nacional, foram alguns dos alicerces que sustentaram o regime conhecido por Estado Novo ou Salazarismo, desde 1933 a 1974. Em 1968, com Salazar debilitado, Marcello Caetano assume a sucessão e continuidade do regime, embora com algumas tentativas de liberalização. Mas era impossível continuar com um regime gasto e que já não acompanhava os ventos de mudança. O descontentamento social era grande e tinha a sua expressão máxima no seio do ambiente académico e, sobretudo, militar. Foram, pois, os militares os pioneiros da revolução.

Em 1973 realizam-se as primeiras reuniões para o golpe de Estado. Uma dessas reuniões, que decorreu em 9 de setembro de 1973 foi a génese do Movimento das Forças Armadas, composto, na sua grande maioria, por capitães. No dia 5 de março, é criado o primeiro documento que lança as bases desse mesmo Movimento, intitulado “Movimento, Forças Armadas e Nação”.

Otelo Saraiva de Carvalho

O major Otelo Saraiva de Carvalho foi o oficial escolhido pelo MFA para coordenar o plano operacional que resultaria no derrube do regime, através de mensagens em envelopes entregues aos capitães, contendo as ações a desencadear na noite de 24 para 25 de abril. Nessa transição são transmitidas, pelas Emissoras Nacionais, duas músicas que se tornaram indissociáveis do golpe de estado: “E depois do Adeus” de Paulo de Carvalho e “Grândola Vila Morena” de José Afonso (o Zeca), que foram o sinal para colocar as operações em marcha. Os momentos culminantes do dia 25 ficariam para sempre ligados à História, protagonizados sobretudo pelo capitão Salgueiro Maia, comandante da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, que conduziu no Terreiro do Paço a ofensiva anti-regime face a uma contra-ofensiva do regime de Marcello Caetano, seguidamente, cercou o Quartel do Carmo até obter a rendição do Presidente do Conselho, Marcello Caetano. Nas ruas de Lisboa, e mais tarde pelo País inteiro, até às colónias, espalharam-se gritos de liberdade e distribuíram-se cravos vermelhos, a flor que se tornou o símbolo da revolução.

O período imediato foi uma faca de dois gumes. Foi um período marcado por uma grande dinâmica social, aprendizagem democrática e coletiva, abertura ao mundo exterior, confronto de ideias, questionamento de valores, mudanças de padrões estéticos e alteração do quotidiano. Mas também se caracterizou por conturbações. Seguiu-se uma Junta de Salvação Nacional, 5 Governos Provisórios, uma instabilidade que quase conduziu Portugal a uma guerra civil e uma Constituição aprovada em 1976, a mesma que vigora até hoje. Os anos que se seguiram foram de reconciliação nacional, caracterizada pelo esforço dos governos constitucionais em conseguirem manter o equilíbrio entre o económico e o social. Tudo isto para alcançar um único objetivo: a Liberdade. Militares, políticos, estudantes universitários e os chamados “retornados” foram, ainda que de formas diferentes, agentes de mudança numa sociedade exaustivamente presa às correntes de um regime que já não conseguia manter a sua credibilidade.

O período imediato foi uma faca de dois gumes. Foi um período marcado por uma grande dinâmica social, aprendizagem democrática e coletiva, abertura ao mundo exterior, confronto de ideias, questionamento de valores, mudanças de padrões estéticos e alteração do quotidiano. Mas também se caracterizou por conturbações. Seguiu-se uma Junta de Salvação Nacional, 5 Governos Provisórios, uma instabilidade que quase conduziu Portugal a uma guerra civil e uma Constituição aprovada em 1976, a mesma que vigora até hoje.

Os anos que se seguiram foram de reconciliação nacional, caracterizada pelo esforço dos governos constitucionais em conseguirem manter o equilíbrio entre o económico e o social. Tudo isto para alcançar um único objetivo: a Liberdade. Militares, políticos, estudantes universitários e os chamados “retornados” foram, ainda que de formas diferentes, agentes de mudança numa sociedade exaustivamente presa às correntes de um regime que já não conseguia manter a sua credibilidade.

Fonte: Sapo

Mas afinal de contas o que é a Liberdade? Cada um de nós tem um conceito diferente desta simples palavra carregada de um significado tão forte. Para mim Liberdade é isto: é poder dizer o que penso e dar a possibilidade aos outros de fazerem o mesmo. É fazer escolhas, é tomar decisões e acarretar as consequências das mesmas. É defender convicções. Liberdade é responsabilidade. Liberdade é compromisso. Liberdade é respeitar a liberdade dos outros. Quando isso não acontece, a Liberdade confunde-se com Libertinagem que se traduz tantas vezes na ausência de civismo e bom senso. E contrariar isso depende de cada um de nós. Depende da educação que os pais dão aos filhos. Depende dos ensinamentos que os professores transmitem aos alunos. Depende dos militares e dos polícias que através da ordem asseguram que a liberdade no dia-a-dia não seja comprometida.

Faço parte de uma geração a quem não compete julgar um passado que não viveu. Apenas percebê-lo para que o presente e o futuro possam ser melhorados a cada dia. É tão importante que cada um de nós trabalhe para o seu próprio aperfeiçoamento individual como para a construção da responsabilidade coletiva. E isso não é um trabalho que se faça do dia para a noite, mas sim de forma contínua e colaborante. Tanto hoje como nas próximas gerações, colhemos o que cultivamos.

“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a Liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.” Assim o disse Simone de Beauvoir, filósofa do século XX. Não poderia estar mais de acordo. Viva a Liberdade!