Foto de Hugo Conceição

Cheias em Coimbra: quem é o culpado?

Todos os anos acontece: quando há mais precipitação, o Mondego galga as margens e inunda o chamado leito de cheia. Todavia, este ano, a quantidade de água foi muito superior à habitual.

Há evidencias intransponíveis: quem construiu, possui imóveis e/ou negócio no chamado leite de cheia, tem de ter a consciência que está sujeito a ver a sua propriedade inundada pelo rio quando há maior precipitação.

Dito isto, e depois de ler e ouvir várias opiniões na comunicação social e web sobre o assunto, ninguém me conseguiu convencer que, com uma acção concertada entre a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e a colaboração da EDP, a situação não teria sido tão grave.

Se a ANPC e a APA, a partir dos alertas de precipitação do IPMA, chamaram à atenção para a possibilidade de ocorrência de cheias, deveriam estar em condições de, perante uma subida do nível de água na albufeira da barragem da Aguieira, solicitar à EDP que fizesse descargas (que eu chamaria) de manutenção.
Mas o que aconteceu foi que deixaram chegar o nível da água ao máximo suportado pela albufeira e depois foram obrigados à descarga de quantidades enormes de m³ de água, que inundou a zona do baixo Mondego, muito mais do que seria normal.
Vi na web uma opinião de uma especialista da UC que diz que o rio Ceira também contribuiu para a enchente. Para mim é mais uma razão para a APA, que deve monitorizar os caudais dos rios em território nacional, alertar para a necessidade de controlar o que pode ser controlado – o Mondego, porque o Ceira não tem barragens ou açude.

Em suma, houve alertas, a Protecção Civil tentou acautelar a situação no terreno, mas não houve acção atempada para evitar o que aconteceu. Se nós não tivermos a capacidade de reagir em conjunto nestes casos, de colmatar a acção da natureza, de forma a minimizar os estragos, não sei para que precisamos de tantas autoridades (e institutos) na matéria.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990