3 Filmes famosos que afinal não são originais

Seja no cinema ou em casa ver um belo filme continua a ser um dos melhores programas para qualquer altura do dia. Sozinho, a dois ou na companhia de amigos/familiares é certo que animará tudo e todos. Quer dizer, animará…dependendo do estilo de filme que escolherem, obviamente. Mas com tantos filmes e séries começa a ser difícil algo ser totalmente original, certo? O “Desnecessariamente Complicado” desta semana vai desferir três duros golpes nos fãs de cinema (em particular num determinado filme de animação). Preparem-se para três exemplos de filmes que afinal limitaram-se a copiar outros menos conhecidos!

3 – Filme de Classe B + Filme de Classe B = Alien

Alien conseguiu copiar não um, mas dois filmes de uma só vez. Neste caso específico dois filmes de que ninguém se lembra: “It! The Terror from Beyond Space” (de 1958) e “Planet of the Vampires” (de 1965). Mas vamos por partes.

Em 1979, “Alien”, de Ridley Scott, reinventou o mundo do cinema. Uma das suas grandes conquistas foi a refrescante dose de realismo dada aos cenários futuristas. Numa das situações é inclusivamente mostrada a tripulação descontraidamente à mesa (como, de resto, podem ver na imagem imediatamente abaixo).

Pensam que esta cena é original? Pois…lamento desiludir-vos, mas vejam só esta cena retirada de “It (sim, é uma abreviatura)” e retirem as vossas próprias conclusões.

Mas estou a adiantar-me demasiado, dado que a primeira metade de Alien se assemelha a um outro filme: “Vampires” (sim, abreviei novamente o nome, para facilitar) de 1965. Em ambos os casos conhecemos a história da tripulação de uma nave espacial que é forçada a pousar num planeta isolado. Pode ser coincidência? Pois, poder pode…mas não é dado que em ambos os filmes a tripulação sai para explorar o planeta, depara-se com os restos de uma outra nave espacial e…encontra lá dentro um misterioso cadáver de algum tipo de extraterrestre gigante.

O planeta em si é escuro e nublado, tal como o de Alien, e até a nave espacial encalhada que encontram é, em tudo, semelhante.

Em “Vampires”, a tripulação está presa no dito planeta durante a maior parte do filme. Em “Alien” eles conseguem escapar, sem no entanto saber que, acidentalmente, recolheram um extraterrestre que vai matá-los um a um. O que é, aliás, exactamente a premissa do “It!”: em ambos os filmes a criatura esconde-se nos poços de ventilação cilíndricos da nave, matando o pobre coitado que vai atrás dela.

Ambas as tripulações tentam matar os respectivos extraterrestres prendendo-os numa divisão específica tentando sufocá-lo. No “It!” o plano funciona, contudo em “Alien” o monstro consegue respirar no espaço.

Como já podem adivinhar, o que destinge “Alien” dos dois outros filmes mencionados é…o alien em si. Vamos ser sinceros: em “It” o mostro é apenas um homem num fato de borracha enquanto que em “Vampires” não chegamos a ver nenhum monstro (dado que a tripulação tem de lutar contra os seus próprios amigos mortos possuídos por espíritos malignos do espaço, ou seja, algo muito próximo da actual histeria com os zombies).Visualmente está muito próximo de um zombie a escapar de um saco de plástico:

Conclusão: Sim, Ridley Scott revolucionou os filmes de terror com a introdução de uma forte componente psicológica. Mas também com o facto de nos dar a sensação de que tinha gasto mais do que, €30 no filme.

2 – Os Salteadores…dos Incas

Certas palavras são especiais. Podem não valer mais do que tantas outras mas acabamos por utilizá-las em ocasiões muito particulares. E na língua portuguesa “salteadores” é uma dessas palavras. Quando a ouvimos existe uma probabilidade de 99% de o contexto ser o mítico filme “Os Salteadores da Arca Perdida”. E aqui não é excepção. Mas esta referência não é, de todo, por bons motivos. E se eu lhe dissesse que esse lendário filme não passa, afinal, de uma cópia de um outro praticamente desconhecido? Quer provas? Vamos a elas!

George Lucas e Steven Spielberg sempre foram frontais sobre o facto de a saga Indiana Jones ter sido inspirada pelos anos 30 e 40. E até aqui tudo bem dado que a personagem principal (de seu nome Indy, para os mais despistados) é uma criação original. Não é como se eles tivessem simplesmente pegado numa personagem de outro filme e a tivessem transformado num dos heróis de acção mais emblemáticos de todos os tempos, certo? Pois…

O Filme Original – “Secret of the Incas” (1954)

Aqui está um jovem Charlton Heston como aventureiro arrogante Harry Steele no pouco conhecido filme de 1954 “Secret of the Incas”:

Bem…é justo dizer que se parece muito com Indiana Jones, certo? Será coincidência? Não se tivermos em conta a mulher que projectou “Indy” no seu primeiro filme (“Os Salteadores da Arca Perdida”). Numa entrevista à imprensa há alguns anos atrás ela admitiu que a equipa de produção do filme visualizou várias vezes “Secret of the Incas” admitindo ficar surpreendida por Lucas e Spielberg não colocarem o filme nos créditos finais.

 Querem exemplos não é? Então vamos a eles. Comecemos com uma cena num autocarro.

Mas calma porque as semelhanças não param por aqui. Lembram – se da sala do mapa nos “Salteadores” (já sabem como isto funciona, certo?) onde o Indy faz o truque da luz reflectida para mostrar o local da arca escondida? Pois agora olhem para a seguinte imagem:

Na mesma cena, em “Incas”, Steele é traído pelo seu parceiro, (que tenta roubar um artefacto valioso) e segundos antes de ser baleado pelo mesmo é salvo pelo ajudante peruano que o acompanha. Em “Salteadores” ambas as personagens foram fundidas numa só dando origem à cena de abertura do filme que, tal como em “Incas” decorre nas profundezas da selva peruana.

Então mas…este filme tem uma das maiores e melhores personagens de sempre naquilo que é, basicamente, uma prequela de Indiana Jones, logo a pergunta que se impõe é: porque não é mais conhecido? Isso pode dever-se ao facto de ambos os filmes pertencerem à Paramont, que nunca se preocupou em lançar “Incas” em DVD.

Muitos fãs, incluindo a figurinista da Indy, acreditam que a Paramount está apenas a tentar esconder a descarada imitação. Se estão, ou não, a tentar esconder a imitação não sei. Mas que as semelhanças são muitas, e óbvias, lá isso são.

1 – Toy “Christmas” Story

Este é, muito provavelmente, o maior ataque de sempre à infância do estimado leitor. Se é fã do eterno clássico “Toy Story” confesso que temo pela sua saúde. Leia os próximos parágrafos calmamente, ok?

Em 1995, Toy Story mudou o mundo da animação através da introdução de uma ferramenta chamada CGI, dando assim início à bem-sucedida carreira da Pixar. Mas para além do avanço técnico, a verdade é que temos também uma grande história. É difícil acreditar que nunca ninguém tinha pensado em fazer um filme em que os brinquedos ganhassem vida quando estão sozinhos…

O Filme Original – “The Christmas Toy” (1986)

Nove anos antes de Toy Story, foi para o ar (na ABC) um programa especial de uma hora chamado “The Christmas Toy”.

Como em Toy Story, o foco recai num grupo de brinquedos que ganham vida quando ninguém está por perto, mas as semelhanças vão muito além disso. Em “The Christmas Toy”, a personagem principal também é um brinquedo inseguro quando percebe que o seu dono está prestes a receber um presente que poderá vir a ocupar o seu ligar como brincado favorito. A única diferença é que em vez do cowboy Woody temos um tigre de pelúcia chamado Rugby.

Mas isto poderia, facilmente, ser coincidência, certo? Bem, então expliquem isto: No “The Christmas Toy”, o brinquedo recém-chegado (e adversário pelo afecto do proprietário) também revela ter um carácter egocêntrico, também vem do espaço e também tem dificuldade em diferenciar a fantasia da realidade, não entendendo que é apenas um brinquedo. A única diferença é mesmo o nome. Aqui é uma menina e dá pelo nome de Meteora, Rainha dos Asteróides.

Outra personagem é uma boneca Barbie que a certo ponto usa uma roupa de “Bo Peep”. Já agora, numa nota aparte: a Pixar queria mesmo incluir uma boneca Barbie no primeiro “Toy Story”, contudo a Mattel recusou a proposta. Dada a recusa da Mattel qual foi o brinquedo que eles usaram em sua substituição? “Bo Peep”, é claro.

Depois, há o desgastada urso com uma bengala que funciona como o sábio líder dos brinquedos e que é o responsável pelos novos brinquedos, mas não há nada como isso no primeiro Toy Story, pois não? Não, mas há uma personagem exactamente igual no “Toy Story 3”.

Agora, vamos lá ser sinceros: ser primeiro nem sempre significa que seja melhor. Em “The Christmas Toy” existia um “subplot” bastante estranho onde se um brinquedo fosse apanhado por um humano ele…ficava congelado para sempre (o que se pensarmos bem se torna bastante perturbante, principalmente se formos crianças). A maior parte do enredo gira em torna das tentativas de “resgate” de Rugby por parte do seu grupo de amigos.

Será que isto tira o mérito da “Toy Story”? Sim e não. Sim porque a ideia deixa de ser totalmente original e porque boa parte das personagens (e da respectiva personalidade/identidade) saiu também do tal filme obscuro. Contudo o que separou o “Toy Story” da obscuridade de “The Christmas Toy” foi a vertente técnica do CGI. Logo esse mérito ninguém pode retirar aos técnicos da Pixar. Mas que tudo isto deixa qualquer um de rasto, lá isso deixa (eu que o diga que quando descobri estes dados fiquei deprimido o resto do dia!).

Como devem imaginar existem muitos mais exemplos, contudo não cabiam todos numa só edição do “Desnecessariamente Complicado”. Quem sabe se no futuro não regresso a este tema para lhe dar mais exemplos de filmes que afinal não são tão originais quanto pensávamos. Despeço-me deixando-lhe o convite para que apoie o cinema nacional, não deixe morrer a sétima arte portuguesa por favor (isto se tiver capacidade financeira para ir ao cinema claro).

Boa semana.
Boas leituras.