Eu é que sou o Mestre das Compras!

Não sei como funciona com os outros comuns mortais, mas fazer compras num supermercado, para mim, por vezes tem uma ciência avassaladora que me assombra de uma forma absurda. Para a minha cônjuge (que bela e atrofiante palavra), tudo parece tão simples e óbvio. Ela sabe quais são os produtos que estão em promoção, como se tivesse uma espécie de bloco de notas mental na cabeça onde vai colocando um visto em produtos da lista, à medida que vagueia por corredores do supermercado. Eu funciono de forma totalmente oposta. Não tenho bloco de notas mental e, mesmo que crie uma lista no telemóvel, acabo sempre por esquecer-me de alguma coisa que, só por azar, costuma ser sempre o que mais fazia falta em casa naquele dia.

Eu sou aquele tipo de pessoa que se arrepende sempre de dizer à sua cônjuge que vai às compras. Tenho sempre a ideia de que ela está sempre à espera que eu diga “amor, olha, vou só ali ao supermercado comprar umas coisinhas que fazem falta”, para que ela disponibilize logo uma lista enorme de coisas para comprar. Ainda eu estou a acabar de enviar a SMS e já ela está a atolar-me o WhatsApp com imagens do folheto da semana, com vários produtos assinalados com círculos vermelhos para eu adquirir — quando eu apenas a informei que ia comprar umas coisinhas que faziam falta. Quando entro no supermercado escolho um cesto e acabo sempre por ter de ir buscar um carrinho de compras para conseguir colocar tudo.

Mesmo com uma data de imagens no telemóvel a informar quais são os produtos a adquirir, acabo sempre por passar a maior parte do tempo ao telefone com ela para acertar naquilo que pretende. E apesar de tentar seguir à risca as suas indicações, acabo sempre por me enganar em algo, ou mesmo esquecer-me de algo, que resulta num diálogo de reprovação à chegada a casa.

“Compraste a manteiga?”

“Sim, comprei.”

“Planta?”

“Não, Becel.”

“Mas a Becel não está em promoção!”

“Sim, eu sei. Mas como tu gostas de Becel, eu optei por comprar…”

“Sim, mas não está em promoção!”

“Eu sei, mas…”

“Só compras quando está em promoção. Nunca acertas…”

“Ok… Da próxima vez não compro…”

No mundo da minha cara-metade existe sempre uma promoção, um cartão de desconto, uma APP qualquer que tem de se usar, porque vai dar desconto ou oferta num produto qualquer que não faz falta nenhuma naquele momento, mas como é grátis, automaticamente passa a ser algo muito urgente. E eu, como já se esperava, nunca opto por promoções e nem mesmo por usar a tal APP maravilha que oferece coisas grátis às pessoas. E porquê? Porque eu sou uma espécie de dinossauro no que às compras diz respeito. Por mim, era trocar um pacote de arroz por um de massa, e a coisa estava sempre bem feita. No mundo actual, não. No mundo actual, se não estivermos munidos de um cartão de desconto, de APP´s que oferecem produtos grátis ou mesmo um folheto de promoções quando vamos às compras, é imediatamente meio caminho andado para se ter um processo de divórcio à perna. Portanto, o moral da história é:

Se um casamento feliz queres ter, tens de ser bom a fazer compras, senão é vê-lo a desaparecer…