50 anos de Sarah

Carrie Bradshaw.

Ela fez 50 anos.

Está que nem uma Diva e continua a melhor referência feminina que alguma vez vi.

Eu era adolescente; queria tudo para mim e os seus Martinis enchiam-me a memória de coisas que ainda não tinham lugar na minha vida, mas que eu sabia que um dia viveria. Efectivamente adoro Martini.

Ela sofria de convulsões febris que a levavam a comprar sapatos excentricamente caros…eu adoro lenços e echarpes e a minha resistência à compra é nula.

Passei por fases em que as frases dela colmatavam a minha forma de estar, desprendida de responsabilidades e dada ao futuro próximo das horas seguintes, sem medo das desilusões, sem medo do tombo.

A idade faz-nos espertas; hoje penso duas vezes, ainda que me sinta contrariada na minha própria vontade de fazer tudo “em cima do joelho” ;sabe tão bem não pensar…

“I like my Money where I can see it, hanged in my closet”. Distorcendo o sentido dos episódios cheios de glamour e amores com a duração de piscares de olhos, eu vendi a minha tralha em prol do básico, de rendas de casa, de comida no frigorífico, de ração para o Fusco.

Sapatos de veludo e vestidos apenas estreados, carteiras Donna Karan e lenços adorados; tudo dos tempos em que tinha fisicamente um pedaço de “Carrie Bradshaw”, em que as unhas estavam impecáveis, a depilação exímia, o cabelo em constante manutenção; maybe our past is like na anchor holding us back…”

Ao longo dos tempos as prioridades mudam e aparecem momentos em que “life is a bitch”.

Criticada por muitos, jantei muitas vezes uma taça de cereais, para que o meu lanche fosse um Mojito, mas um Mojito único. Mojitos com direito a pôr-do-Sol, com direito à presença de pessoas especiais, Mojitos envolvidos em confidências tão secretas que 5 minutos podem sustentar amizades de uma vida. Se me sinto mal? Nada…1000 vezes um Mojito desta intensidade, que ficar em casa com 5€ no bolso.

Sim, são momentos destes que ficam connosco, que suportam as relações humanas, que nos fazem sentir vivos.

Sem esse Mojito não escreveria hoje. Os momentos são tudo.

Voltando à Carrie, ela sim, sabia viver. No entanto sofria como uma menina quando o verdadeiro amor apareceu. Mas hey…ele apareceu mais do que uma vez, constatando aquilo que eu hoje sei e reforço: “maybe our girlfriends are our soulmates, and guys are just people to have fun with”.

Acabando a série passados 7 anos de gravações, aparece o filme. Quem diria que o casamento estaria para a Carrie, assim como o gelado de pistacho está para mim? Como consegue ela “vergar” um homem de liberdades e fugidas claras ao compromisso? Será que o filme foi uma forma irreal de nos manter a sonhar, agora que a série desapareceria e levaria todas as notas importantes que uma solteira deve seguir?

Não esqueçamos que Carrie ficou sozinha no altar, e que, como todas nós teve uma recuperação de merda, com direito ao escuro do quarto, ao choro incessante, às amigas na porta rezando para que um dia ela voltasse a si mesma, sem mazelas associadas. Vem ao cimo o nosso pedaço de Carrie: “Why do I keep doing this to myself?”

Porque até nos partirem o coração de verdade, daquela forma que só algumas conhecem, todas nós buscamos algo forte.

“I´m looking for Love. Ridiculous, inconvenient, consuming, can´t-live-without-each-other-love.”