Carta a los Españoles!

Durante quase mil anos fomos invadidos, e invadidos, e invadidos, e invadidos por aqueles a quem tratamos por “nuestros hermanos”, por vós. Queriam que nós fossemos espanhóis. O que é estranho, porque afinal de contas, nem vocês querem ser espanhóis. Pelos vistos agora, mais de metade de “vosotros” querem ser portugueses. O que é estranho, porque nem os portugueses querem ser portugueses.

Confuso? Passo à explicação: Lá por terras de vossa majestade Rei Filipe VI – sim porque os reis vêm com numeração romana, o que diz muito da velharia que é o regime que vos opera – todos os dias sai em manchete a solução “à Costa” – não confundir com a antiga glória do Sporting. Querem também, o que o deputado Paulo Portas, chamou de geringonça. Querem também uma solução portuguesa. Compreensível se analisarmos isto politicamente, visto que nem o PSOE, nem o PP, nem o Podemos ou o Cidadãos, têm condições de governar estavelmente, e ao que parece não querem ser a nova Bélgica, que teve um ano sem governo. Mas o que ainda não perceberam é que também não querem ser dos nossos, visto que uma “geringonça” também não é nada estável.

Na seguinte carta vou-vos contar uma história para que vocês percebam melhor do que se trata. Chamo a este conto “O ratatouille português”:

           Era uma vez, um Orçamento de Estado, que antes de ser aprovado pela Comissão Europeia, teve de ser aprovado pelo PCP, Verdes e Bloco – membros da geringonça. Quando veio da Comissão Europeia, PCP, Verdes e Bloco dizem “Não era isto que eu queria! Eu queria Bacalhau Espiritual, não era com Natas!” O que estes partidos, a quem carinhosamente vou tratar como radicais, não percebem é que o facto de já termos bacalhau é uma sorte! Com o antigo Governo no máximo comíamos paloco! Mas estes senhores e as “meninas engraçadinhas”, estão habituados ao bom e ao melhor.

           Quando chegou a ementa à UE, os Alemães puseram as mãos à cabeça. Pelos vistos, o preço ao qual o Governo Português queria vender o prato gourmet, que os seus amigos radicais escolheram, não chegava para pagar a conta da luz, do tempo que o tabuleiro vai ao forno. Deram então ao nosso Governo a oportunidade de mudar de ementa, ou aumentar o preço.

(Nota: o Governo Alemão também já se podia controlar um pouco mais. Sabem aquelas “tias” snobes, que quando vêm um sem abrigo evocam as míticas palavras “Não tem vergonha de andar a pedir?!” Pois assim estão os alemães. É que esta gente não pode olhar para nós, como aqueles que comerem paloco já é bom. Eu sei que a inveja é um defeito muito feio, mas a verdade é que quando eles têm um problema na banca, culpam-nos a nós, e quando nós cá temos um problema na banca, também! “Amor viste o que fizeste?!”, responde o marido, “O quê?”, “Por tua culpa parti uma unha, se tivesses sido tu a apertar-me o sutiã, nada disto acontecia!” Meus amigos, é disto que se trata. Cada um limpa o seu próprio rabo. E eles não têm o direito de nos culpar, quando não o limpam bem!)

            No meio disto tudo, ficou então o desgraçado do cheff Mário Centeno, que nem uma barata tonta, a tentar perceber afinal que receita é que querem que ele cozinhe. Com a mesa a reclamar pelo Bacalhau Espiritual, e o patrão a dizer que disso já não há.

            Fez então o que qualquer bom português sabe fazer, desenrascou. Pegou em 400 gr de paloco, 300 gr de cenouras, já quase murchas, 100 gr. de óleo vegetal, que escreveu por cima do rótulo “AZEITE”, 100 gr de pão do dia anterior, 200 gr de cebolas que pediu à vizinha, foi ao LIDL e pôs debaixo da “sweat” um pacote de batatas palha e num pacote de natas da Auchan; pôs tudo na Bimby durante 3 minutos, em colher inversa, temperatura varoma e levou ao forno, onde deixou gratinar durante 12 minutos a 180 graus. Quando o preparado já estava pronto, apresentou as contas ao chefe, do quão barato a aventura saiu, e por fim levou à mesa para o pessoal provar.

            A criança da mesa, a menina Catarina disse “Não está mau, mas aquele que provamos no outro dia era melhor!”, o avô Jerónimo reclamou “Hummmm… Portanto… Hummmm… Jogatanas…. Hummmm… Come-se!”, já a mãe Heloísa percebeu bem do que se tratava aquilo, mas preferiu lembrar que a cozinheira que lá estava antes fazia pior. E que pelo menos este cozinheiro reciclava as embalagens.

            Por sua vez, o patrão fica satisfeito, porque consegue levar a sua avante, sem ter de ouvir os berros do costume. A chamada K7. Mesmo assim, fez questão de gritar com o coitado do cozinheiro, em frente ao restaurante inteiro, ralhando com o pobre o moço que “As regras são para cumprir! Não te esqueças que só podias por 200 gr de bacalhau!”, estando ele farto de saber que nem bacalhau era.

            Estando já a ementa escolhida, hora então de levar ao Parlamento, para ver o que os outros acham do assunto, sabendo desde já que nem uns ovos mexidos feitos pelo José Avillez serviriam. Ouviram-se vozes de que aquilo nem bacalhau era, de que não tinha sido isso prometido aos portugueses, e de que ia ser feita a sobremesa, porque tal como tinha sido dito, caso necessário, haveria já para abril, uma sobremesa para compensar possíveis mal-estares, fruto do paloco.

            Defendido em copas, o Primeiro ministro, que vocês gostavam de pelos vistos, também ter, veio a terreiro com as críticas que eram feitas à antiga cozinheira, que invariavelmente eram similiares, tendo em conta que o prato era pouco diferente deste. Dizendo ainda que confia em pleno no Chefe em causa e na sua arte, e que por isso nada havia a temer com possíveis problemas de azia ou enfartamento, e que mesmo que isso acontecesse, que tinham um Gaviscon mesmo à mão.

Por isso, caros compinchas de Península, percebam que a solução portuguesa foi aquela que por cá se arranjou. Ninguém considera isto óptimo, a não ser “vosotros”. Por cá muitos reclamam que isto não foi o que o Povo escolheu, que este acordo parlamentar não dura até ao fim do mandato, e que vai caber a Marcelo Rebelo de Sousa dissolver a Assembleia, mais cedo ou mais tarde. O vosso chefe de Estado, por não ser eleito, pode fazer isso já. Pode dar-vos a oportunidade de irem a eleições com todas as possibilidades em aberto.

Quanto ao nosso OE, bem isso é um história que ainda não sabemos bem como vai resultar. Sei porém que felizmente esta carta vai via eletrónica e que por isso, os seus custos não vão ser agravados pelo aumento no IVA dos combustíveis.

Ficam os comprimentos de quem não vos quer bem, mas também não quer que passem tão mal quanto isso. Ficam os comprimentos de quem não se esquece do golo do David Villa, em fora de jogo, que nos eliminou do Euro à uns anos, mas que mesmo assim, não vos odeia o suficiente para vos querer ver cair em desgraça. Ficam os cumprimentos, de alguém que acima de tudo gostava de perceber porque é que as raparigas da zona de Barcelona e Valência, com 13 anos já parecem ter 20 – pelo menos têm seios disso.

Fica o cumprimento do vuestro hermano,
Eduardo Jerónimo, 17 de Fevereiro de 2016.