#Somos todos Macacos e os mais recentes casos de racismo

Quando achava que o racismo estava quase que erradicado do planeta Terra não é que surgem no mesmo mês, Abril de 2014, três acontecimentos com carácter vincadamente racista?! Vergonhosos e abomináveis para a espécie humana, a dita de racional e inteligente?! Chame-me de ingénua, mas tendo em conta que estamos no século XXI e que a espécie humana é evolutiva, por mais desenhos que me façam, não consigo compreender o porquê de se ser racista. Em plena era caracterizada pelo fácil acesso à informação, que brota por todo o lado, não compreendo como ainda ocorrem situações dessas. Passo a relatar.

Dia 19, Portugal, Lisboa, o medalhado Nelson Évora, com pré-reservas feitas, dirige-se à discoteca Urban Beach com o grupo de amigos que o acompanhava, entre os quais, atletas que representam Portugal internacionalmente, como Francis Obikwelu, Naide Gomes, Carla Tavares, Susana Costa e Rasul Dabó, e são surpreendidos pelos responsáveis daquele espaço público. Porquê? ‘Demasiados pretos no grupo!!!’”, publicou o campeão olímpico de triplo salto na sua página do Facebook, juntamente com uma fotografia na qual segurava uma banana, já um símbolo do combate ao racismo na sequência da campanha #somostodosmacacos. Campanha essa lançada por Neymar no Twitter a respeito do episódio que envolveu Daniel Alves, jogador de futebol brasileiro que actualmente joga pelo Barcelona.

Já vamos lá.

evora_5Voltando a essa frase de uma infelicidade imensa pergunto-me se naquele espaço existem cotas consoante a raça, conforme o credo ou outra variável qualquer.

Por exemplo, um grupo 100% constituído por muçulmanos seria barrado à entrada? E se, 40% desses 100% fossem católicos?

Entrariam todos? Com ou sem cartão de consumo mínimo obrigatório? Com ou sem lugar reservado?

Por favor!

A Urban Beach que se prepare para dar formação ao pessoal, sim, sobre o tema racismo, é que ter ignorantes a receber os clientes é mau para o negócio. Fica aqui o aviso à gerência.

Dia 26, EUA, L.A. o site TMZ apresentou um excerto de uma conversa telefónica no qual Donald Sterling, o proprietário da equipa de basquetebol Los Angeles Clippers repreende a sua namorada, V. Stiviano, por publicar fotografias na rede social Instagram ao lado de Magic Johnson ex-jogador negro de basquete, “Incomoda-me muito que apareças ao lado de pessoas negras. Por que é que fizeste isso? Até podes dormir com negros, podes fazer o que quiseres com eles. A única coisa que eu peço é que não o divulgues. E não os tragas para os meus jogos”.

O que prova que num relacionamento amoroso Sterling não valoriza a fidelidade.

V.-Stiviano-Donald-SterlingNão lhe interessa nada, nem o género sexual, cadastro ou grau de parentesco do amante da pequena, nada.

O que o preocupa, mesmo, é se o adultério se dá com um negro. Nesse caso há uma regra a cumprir e não é o uso do preservativo. Mesmo sabendo que a menina pode estar à sua livre e espontânea vontade, que até tem a sua permissão, terá que ser meticulosamente muito, muito discreta. É a única condição que lhe impõe, discrição.

Isto é, se o amante for negro, importa manter o caso abafado do público, de resto para Sterling está tudo bem. Ou seja, se calha do amante ser negro o que pesa para Donald Sterling não é propriamente a traição, mas o que os outros pensam.

Que namorada, actualmente ex, tão mal amada e que cérebro tão pequeno tem esse Sterling, vai uma aposta?

Obviamente, a repercussão foi extremamente negativa. Barack Obama, presidente negro dos Estados Unidos fez um comunicado onde dizia: “Quando pessoas ignorantes querem anunciar a sua ignorância, realmente não temos que fazer nada, é só deixá-las falar. Foi o que aconteceu aqui. Os vestígios de discriminação ainda estão presentes”.

Como consequência, apenas três dias depois de proferir as tais declarações racistas Sterling foi expulso da National Basketball League (NBA). Ora, tome!

Dia 27, Espanha, Barcelona, durante o jogo Villarreal-Barcelona, Daniel Alves, internacional brasileiro, viu ser- lhe lançada uma banana, quando ia marcar um pontapé de canto. O gesto de Daniel Alves foi a mais inteligente e desarmante resposta ao racismo, em vez de dar importância ao facto, pegou nela, comeu-a, ingeriu potássio e magnésio o que lhe deu vantagem face aos seus colegas de campo e continuou como se nada tivesse acontecido.

daniel-alves

A atitude de Daniel Alves tem sido bastante elogiada e nas redes sociais sucedem-se demonstrações de solidariedade a nível internacional, sob a hashtag #somostodosmacacos.

Após a partida, o seu colega de selecção Neymar ironizou o episódio publicando uma fotografia dele com o filho e uma banana, que imediatamente mobilizou as redes sociais e se tornou viral.

O racismo é uma maneira de discriminar as pessoas baseada em motivos raciais, cor da pele ou outras características físicas, de tal forma que umas se consideram superiores a outras. Portanto, o racismo tem como finalidade intencional a diminuição ou a anulação dos direitos humanos das pessoas discriminadas. Feio, muito feio!

A mais pura e simples realidade é que de facto somos todos iguais, somos todos feitos da mesma matéria. E somos mesmo, independentemente da cor da pele, do credo, raça, nacionalidade, classe social, escolha politica, condição ou cultura. Não há cá lugar a uns terem mais direitos, ou serem melhores, mais civilizados ou mais bonzinhos do que outros, só pelas suas características físicas ou por pertencerem a determinada bolha social. Eu tenho os mesmos direitos que o leitor e o leitor tem os mesmos direitos que eu. Simples. Sem truques, nem algoritmos complexos. Preto no branco ou amarelo no preto, como quiser, só não dá para discutir. É um facto, custe a quem custar.

racismoImporta sublinhar que ninguém nasce racista. O racismo aprende-se no seio da família ou na comunidade desnorteada. Atrás do racismo há um complexo de inferioridade, uma certa dor de cotovelo, uma dose maléfica de inveja. Ser racista é ser- se preconceituoso, é acreditar-se à partida que o outro assim a olho nu, e cego, é diferente, é inferior, para justificar-se que se lhe é superior em determinada característica escolhida e consoante a bitola empregada.

O racista é um ser estúpido e pouco esperto. Pouco esperto porque há medida que cresce faz a sua própria escolha de valores que lhe foram ensinados ou aprendidos ao longo da vida e das experiencias que esta traz, assim como o seu antónimo, inteligente e compreensivo o faz.

A Mãe Natureza agraciou o ser humano de inteligência e o ser humano facultou a si próprio informação elevada a “n”. Nos dias de hoje não há desculpa para se ser racista, para se ser ignorante. É claro que somos todos humanos, é claro que temos todos os mesmos direitos.

Ser racista é uma opção individual. Eu escolho não o ser, e o leitor?

Artigo de Ana Reboredo