A ditadura da austeridade – Nuno Araújo

Se o dia 2 de Maio foi um dos dias mais felizes para 6 milhões de portugueses, devido à vitória do Benfica que assim vai à final da Liga Europa, o dia 3 de Maio ficará como o dia do princípio do fim do estado social em Portugal. A não ser que aconteça algum momento catártico, ao bom jeito de um conto popular. Esse momento catártico só pode ser a queda de Passos Coelho e do seu governo.

Nunca um governo foi tão longe na austeridade imposta aos portugueses. Nunca um governo teve tamanho descaramento em espoliar os portugueses de partes significativas do seu salário, pensão ou subsídio. O neoliberalismo do governo está cada vez mais refinado, apostando em destruir o estado social, fazendo jus aos primórdios teóricos dessa corrente de pensamento, a do neoliberalismo, em que o Estado apenas se deve ocupar da gestão da administração interna, defesa e justiça. Parece, pois, que Passos Coelho e Vitor Gaspar estão “no bom caminho”, em direcção ao seu objectivo: a derrocada final de Portugal.

Pergunto: Quantas vidas valem 4700 milhões de euros em cortes?

Com mais austeridade, gerar-se-á menos riqueza no país. Com despedimentos e rescisões na função pública, os gastos com essas mesmas rescisões e a ausência de contribuições para a segurança social farão com que o sistema “rebente”, pois a forma como o governo actualizou a idade para uma reforma sem penalizações só fará com que ela aumente progressivamente. O factor de sustentabilidade da segurança social, associado ao aumento da esperança média de vida, poderá fazer com que, daqui a poucos meses, alguém só se possa reformar sem penalizações na sua pensão quando fizer 67 anos de idade. É uma injustiça de todo o tamanho!

É o que o país tem: votou massivamente num presidente que obriga o seu povo a encolher-se perante a ditadura da austeridade. Tantos sacrifícios para quê? Não há resultados bons sequer, Gaspar falha todo e qualquer prognóstico económico, já é penoso até escutar o rol de inverdades proferidas pelo ministro das finanças.

Perante estas peripécias do pior governo português em mais de 39 anos de democracia, o Portugal poderá aguardar com receio o desenrolar de um verão “quente”, pois o país entrará decerto num “abismo” económico, onde o desemprego irá aumentar a “olhos vistos”, e assim favorecendo o crescimento da economia paralela e criminalidade associada a essa faceta do país que temos, actualmente.

É com tristeza que observo estes acontecimentos, e questiono se haverá algum pingo de vergonha na cara do CDS de Paulo Portas, que parece que não pertence ao governo que é o autêntico “coveiro” do nosso país, que conta com mais de um milhão de desempregados, dois milhões de trabalhadores precários, mais de dois milhões e meio de pobres, e com um aumento do abandono escolar sobretudo desde a chegada de Passos Coelho ao governo.

Passos Coelho disse também que não se iria demitir, ao jeito de um bom líder da “ditadura da austeridade”. Ora disto é que não precisamos, pois só Passos Coelho nos pode dar a última réstia de esperança, caso perca as autárquicas: a sua própria demissão e a do governo.

PELOURINHOS EM ELEIÇÕES 2013

Gaia

Guilherme Aguiar anunciou a sua candidatura como independente a presidente da Câmara Municipal de Gaia. Aguiar foi até à Quinta-feira passada militante do PSD, tendo sido ainda vereador eleito pelo mesmo partido na autarquia de Gaia.

Aguiar não é “bem visto” dentro do PSD/Gaia, desde a altura em que foi candidato nas eleições autárquicas de 2009 em Matosinhos, na sequência das quais perdeu a “confiança política” do seu partido, após ter feito um acordo em 2010, com o socialista Guilherme Pinto, presidente da autarquia.

Guilherme Aguiar tem todo o direito e legitimidade a concorrer às eleições autárquicas. Luís Filipe Menezes, ao “sair” de Gaia, retirou a influência que possuía junto do círculo gaiense, e assim não “protegeu” a posição política de Aguiar, recomendando-lhe até que não se “aventurasse” em candidaturas independentes.

A verdade é que Guilherme Aguiar foi eleito numa primeira votação secreta, em eleições interna do PSD/Gaia, mas tendo havido um empate na votação dos “sins” e dos “nãos” inscritos nos boletins de voto, Menezes “inventou” possuir um voto de qualidade por ser presidente da concelhia; esta “manobra” de Menezes acabou por sair mal, e Firmino Pereira, da concelhia, também não conseguiu uma “vitória” inequívoca. Carlos Abreu Amorim, actual deputado independente pelo PSD na Assembleia da República, será o candidato do PSD a Gaia.

No entanto, os cidadãos poderão sempre “punir” Amorim, por apoiar no parlamento o governo PSD-CDS, e votar por Aguiar nas eleições autárquicas. Esta é certamente uma oportunidade histórica para o PS e Eduardo Vítor vencerem as eleições deste ano.

Oeiras

Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras foi preso, Paulo Vistas assumiu a presidência da autarquia, visto ser o vie-presidente. Até aqui nada de estranho. Porém, os vereadores do PSD abandonaram os seus pelouros (muito mal geridos), e com isso criaram um grande problema a Paulo Vistas e à AOMAF (Associação Oeiras Mais À Frente), que assim terão muito mais trabalho para fazer até às eleições.

Trabalho para fazer, aliás, será muito mesmo. A questão, aliás, prende-se não com o (pouco) que já foi feito, mas antes com aquilo que ficou por fazer. Talvez por isso, Francisco Moita Flores tenha acedido ao convite para disputar eleitorado directamente com Paulo Vistas.

Apesar de o PSD/Oeiras estar ligado “espiritualmente” à AOMAF, esta luta das “direitas” só fragiliza a própria ala direita da cena política oeirense, sobretudo porque o alcance das políticas idealizadas por PSD e AOMFA fica bastante mais reduzido.

O PS, liderado por Marcos Sá, aposta forte em lucrar com uma campanha mal desenhada de Paulo Vistas, e uma outra, a de Moita Flores, já “sabotada” internamente pelo PSD local, segundo se vai dizendo. A candidatura socialista está a ser arquitectada com base na proximidade das populações, e a pouco e pouco poderá lucrar com a perda de fulgor das políticas baseadas em construção de parques municipais e centros de congressos. Aliás, os vários “mamarrachos” e outros gigantes de betão cuja construção ficou por acabar são a marca da governação de Isaltino e de Paulo Vistas, no último mandato em Oeiras.

Transparência precisa-se. É necessária uma coligação com os munícipes, pois o tempo urge em evitar um declínio mais acentuado da realidade oeirense.

 

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana