A Divorciada – Atravessar a ponte

Tenho o prazer único de poder partilhar a história da minha amiga Telma, textos repletos de sátira, textos reveladores de uma profunda tristeza e honestidade, são de facto textos que detalham a vida real e a fase de mudança que a Telma está a vivenciar. Ponderei muito antes de partilhar estas palavras com os leitores mas relembrei o poder transformador que as palavras detém, se o testemunho da Telma ajudar nem que seja uma mulher a sentir-se bem com as suas decisões e escolhas, então, valeu a pena.

A Telma faz terapia. A Telma tornou-se uma pessoa melhor quando iniciou este processo tão especial que intitulamos de autoconhecimento, a terapia tem sido uma excelente aliada para a Telma conseguir lidar com a volubilidade do divórcio, na sua relação com os filhos, na sua visão do mundo e, sobretudo, na relação que tem consigo mesma. É este o ponto de partida de qualquer um de nós: O que é que pensas sobre ti mesma? Gostas de ti? O que é que precisas para mudar o que não gostas em ti? Gostas do que vês ao espelho? E o espelho da tua alma o que te diz? Nascemos e morremos sendo nós, nasci e morrerei sendo eu, a Telma não pode ser a Maria nem a Maria pode ser a Telma, então, mais vale aproveitar a viagem entre o nascer e o morrer com uma tremenda paixoneta por nós próprias.

As sessões terapêuticas, onde a Telma chora e onde a Telma ri às gargalhadas, têm tido um efeito extremamente positivo na personalidade de Telma, e, como consequência nas suas acções e na sua vida. O texto não é sobre terapia, não quero ludibriar os leitores, o texto é, essencialmente, sobre a frase que a terapeuta disse a Telma numa das últimas sessões e que tem feito eco na cabeça de Telma: Tens de atravessar a Ponte.

Os leitores devem estar um pouco confusos, mas Atravessa a Ponte é dos conselhos mais poderosos que podemos ouvir. A Telma perdeu-se, ficou sem saber o que fazer, perdeu-se nos objectivos e sonhos, perdeu o foco e também a fé, deixou de saber que caminho seguir, o da esquerda ou o da direita, seguir o caminho do futuro ou ficar presa no passado, ouvir o seu coração ou dar ouvidos a opiniões alheias ( que são francamente más ), ter pena de si mesma ou encher-se de amor próprio, deter raivas e mágoas ou deixar ir o que não interessa, sentir a tal felicidade ou viver no lugar-comum do vai-se andando, virar a página ou ler sempre as mesmas palavras, vezes e vezes sem conta.

Quando estamos no meio da ponte estamos em sofrimento, ali ficamos, marinadas em dúvidas e frustrações e, se me permitem utilizar esta palavra, tretas mentais, cheias de tretas mentais. Não há problema nenhum em lá ficar algum tempo, crescer é doloroso, obter consciência de quem realmente somos é excruciante, faz parte da existência humana perder o rumo, como escreveu Clarice Lispector “Perder-se também é caminho”, mas, um dia, temos de tomar uma decisão, uma decisão firme e plena de certezas. A Telma está a criar o seu percurso de vida, será este o caminho que lhe estava destinado?

Recordam-se, num dos primeiros textos, a Telma ter escrito que gostava de conhecer alguém especial? Alguém que lhe declamasse poesia, que lesse excertos de livros enquanto lhe acariciava o cabelo, que andassem de mão dada na rua e dessem gargalhadas na cama. Um homem que escrevesse bilhetes românticos e a levasse a ver as estrelas? Pois bem, a Telma encontrou essa pessoa tão especial.

 

“No fim, tudo corre bem. Se ainda não está a correr bem, é porque ainda não é o fim.”

Provérbio Hindu

Próximo capítulo: M42