A famosa sobrevivente eremita – Bruno Neves

A tecnologia faz parte da vida de todos nós. Está em todo o lado, a toda a hora: no telemóvel que está no nosso bolso, no computador que está na secretária, no relógio que já nos dá mil e uma informações e não apenas a hora e a data, e por aí em diante.

E arrisco dizer que poucos de nós conseguiriam viver sem a dita tecnologia. É certo que cada um tem as suas preferências, e aquilo que para mim é indispensável para outra pessoa pode ser completamente banal, mas que a tecnologia é indispensável lá isso é!

Uma das consequências da época que vivemos é a contínua e imparável “sede” por conhecimento e informação. A rapidez com que tudo se espalha pela internet, e especialmente pelas redes sociais, faz com que breves segundos após tudo ter acontecido já nós saibamos até os mais ínfimos todos os detalhes.

Agora pergunto eu: como seriamos nós se não tivéssemos acesso a tudo isto e vivêssemos longe de tudo e todos, isolados numa montanha?

Este cenário parece impossível, irreal, verdadeiramente saído de um filme de ficção científica não parece? Parece, mas não é. Oiçam esta surpreendente história com que me deparei um dia destes numa conhecida revista semanal portuguesa.

Em 1978 um helicóptero sobrevoava a extensa Sibéria em busca de uma clareira onde pudesse aterrar quando se deparou com uma área que parecia estar cultivada. Um grupo de geólogos que estava na Sibéria à procura de minas de ferro deslocou-se ao referido local e nem queriam acreditar no que encontraram. Encontraram a família Lykov e foram recebidos pelo patriarca da família: Karp Likov.

Membro dos Antigos Crentes (grupo que se separou da Igreja Ortodoxa no século XVII em protesto contra as alterações dos rituais tradicionais e que foi perseguido pelos comunistas) vivia ali com os seus quatro filhos.

Tinha fugido em 1937, quando os comunistas lhe mataram um parente, com a mulher Akulina, os dois filhos, Savin e Natália (então com 9 e 2 anos respectivamente) e alguns utensílios: tachos, talheres, roupa, um tear, enxadas e sementes. Depois nasceram Dmitry e Agafia. Quando os geólogos entraram na cabana as duas irmãs ficaram histéricas: nunca tinham sequer visto outras pessoas que não os pais e os irmãos.

Depois de alguns minutos lá acalmaram, sentaram-se, falaram num russo distorcido e pela primeira vez comeram pão. Viviam como na Idade Média. A cabana era negra da fuligem da lareira que acendiam com duas pedras e o chão era de terra, coberto de cascas de batatas. Os tachos, ferrugentos, foram substituídos por tigelas de madeiras e restavam duas facas.

Os Lykov não sabiam da Segunda Guerra Mundial, não acreditaram que alguém fora à Lua e recusaram voltar à aldeia (que ficava a mais de 240 quilómetros de distância). Quando se deslocaram até ao acampamento dos geólogos benzeram-se ao ver uma televisão e só aceitaram levar consigo sal.

Agafia nasceu em 1943, depois de Dmitry, e aprendeu a ler com a Bíblia A família vivia à beira da fome, colhia frutos e plantava batatas, cebolas, centeio e cânhamo (que usava para tecer roupa). Quando Dmitry cresceu começou a caçar animais com armadilhas, mas em 1961 nevou em Junho, o gelo destruiu a seara e a mão morreu de fome.

A história dos Likov foi contada no livro “Lost in the Taiga”, de 1994, quando Agafia já enterrara os irmãos e o pai. Nem assim abandonou a sua cabana perdida nas montanhas siberianas. Hoje em dia há um caçador que lhe leva roupa e comida.

Se isto não é saído de um livro de ficção científica não sei o que será, mas que dá que pensar…lá isso dá.

Boa Semana.
Boas leituras.

 

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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