A Gaivota é um bicho irritante…

Era uma vez um rapaz que, no alto dos seus trinta e dois anos de idade, acordou com uma vontade enorme de apimentar a longa duração de catorze anos que tinha com a sua cara-metade. Porque ele sabia que esse era um dos segredos para que uma relação se mantenha saudável durante tantos anos, o rapaz sabia que tinha de mimar de vez em quando a sua deusa. Ou será que, afinal, o rapaz apenas queria forrobodó do bom nesse dia?

Então o rapaz elaborou, na sua mente, um pequeno esquema para que, aquele dia em particular, acabasse em forrobodó do bom. O rapaz achou que seria uma brilhante ideia levar a sua deusa a passear. Perto da casa desse rapaz, existia um parque muito grande e belo, onde se podia passear e, ao mesmo tempo, observar uma data de patos, tartarugas, galinhas, gaivotas e outros bichos mais. Era sempre bonito passear por aquele parque, e poder atirar pedaços de pão aos patos, porque eles andavam completamente em liberdade e vinham comer junto das pessoas. Era algo que podia ser considerado como “romântico” — passear pelo parque de mão dada e atirar pão aos fofinhos dos patinhos.

E se assim o elaborou, o rapaz assim o fez. Pegou na sua cara-metade e levou-a ao tal parque belo onde podia passar uma tarde bem romântica. Antes de seguir para o parque, o rapaz de trinta e dois anos passou por uma pastelaria para comprar um pequeno lanche para os dois — um lanche que continha o bolo preferido da sua deusa, só para cair ainda mais na graça dela.

À chegada ao parque belo e romântico, o rapaz tinha a ideia de fazer um pequeno piquenique, mas essa ideia foi imediatamente afastada devido ao excesso de mosquitos que, naquele dia tão especial, abundavam em demasia no parque. Então, o casal acabou por fazer aquele mesmo piquenique dentro do carro, onde podiam ficar protegidos dos insectos irritantes. “Não faz mal, estamos no parque na mesma…”, pensou o rapaz no alto dos seus trinta e dois anos. Na cabeça dele continuava a ser romântico, e a possibilidade da existência de forrobodó do bom continuava em cima da mesa.

A certa altura, uma pequena família — constituída por uma galinha, um galo e oito pequenos pintainhos — aproximou-se do carro. A deusa do rapaz de trinta e dois anos derreteu-se imediatamente com tais minúsculos bichos a correrem atrás da sua mãe galinha. E, num acto de bondade, decidiu atirar um pouco de bolo para eles comerem. O rapaz de trinta e dois anos achou uma boa ideia acompanhar a sua cara-metade naquele puro acto de bondade, para que nada de mal acontecesse e para que aquele dia acabasse da forma como ele queria — em forrobodó do bom. E também ele atirou um pouco de bolo.

Mas… não foram os pequenos pintainhos a usufruírem do pedaço de bolo, mas sim uma irritante gaivota que surgiu dos céus. A deusa do rapaz de trinta e dois anos continuou a atirar pedaços de bolo, e cada vez mais gaivotas surgiam e rapinavam todos os pedaços de bolo. Subitamente, já existiam patos, galinhas, patinhos, gaivotas e uma inúmera quantidade de insectos de volta do carro do casal. Mas as gaivotas ganhavam sempre aos outros animais, e arrefanhavam sempre os pedaços de bolo que ambos atiravam.

Então o rapaz de trinta e dois anos, num acto de desespero — e para mostrar a sua virilidade à sua deusa — saiu do carro e enxotou as gaivotas. Voltou para dentro do carro e passados cincos segundos, uma enorme quantidade de gaivotas chegou e poisaram em cima do capô do carro. Elas estavam bastante irritadas com o que o rapaz de trinta e dois anos tinha acabado de fazer, e desataram a largar quantidades industriais de fezes em cima do carro do casal que, impotente, assistia àquele espectáculo meramente escatológico.

A cara-metade do rapaz de trinta e dois anos ficou, subitamente, bastante incomodada com o que se estava a passar, e o rapaz percebeu que tinha de actuar, se queria acabar a tarde no forrobodó do bom. Encheu-se de coragem, saiu do carro e desatou a enxotar as gaivotas de cima do carro. Elas, zangadas, decidiram vingar-se do rapaz de trinta e dois anos, e encheram-no de fezes da cabeça aos pés, perante uma pequena multidão de pessoas que se tinham juntado perto do carro para assistir àquele espectáculo degradante e vergonhoso para o rapaz de trinta e dois anos.

O rapaz, cheio de vergonha, correu para dentro do carro, ligou o motor e arrancou numa pressa desalmada, fugindo daquele parque belo e que poderia, por vezes, ser bastante romântico. Deixou a cara-metade em casa, e correu para a praia mais próxima e atirou-se à água para não só limpar as fezes que as gaivotas o tinham presenteado, mas também para tentar encontrar as sua virilidade, que ficara algures perdida debaixo daquele amontoado de fezes…

Pode-se dizer que este rapaz tinha, de facto, uma enorme “Vida de Cão”…

(Nota: o autor desta crónica é um rapaz de trinta e dois anos…)