A Lei Está a Favor Dos Caloteiros – Júlio Silva

A lei, e os tribunais, estão a favor dos caloteiros. É a ideia com que eu fiquei, e muitos Portugueses ficaram depois de lerem esta história. História esta, que de história não tem nada, uma vez que é um caso verídico.

Aconteceu aqui no concelho da Murtosa, com pessoas que ao princípio não precisariam de fazerem o que fizeram, não fosse a síndroma da vaidade e do fazer ver aos vizinhos e familiares, um modo de vida que na realidade essas pessoas não possuem.

Esta história tem início no Luxemburgo, e bem terminar no Tribunal da Comarca do Baixo Vouga.
Terá para aí uns 8 ou 9 anos, que um jovem Natural da Murtosa emigrou para o Luxemburgo. Nada de anormal, uma vez que já nessa altura os sintomas de crise, já se começava a notar num Concelho Minúsculo como o da Murtosa.

Sendo assim este jovem resolve tentar a sorte nesse país, ao chegar ao Luxemburgo e passados algumas semanas, conhece uma miúda Portuguesa. Começam a namorar, alguns meses mais tarde, resolvem ajuntar os trapinhos e começam a viver juntos. Para descargo de consciência dos pais da moça, alugam um estúdio, e é aqui que começa o desvario deste jovem. Estando ele sem trabalho fixo, uma vez que trabalhava por intermédio de uma Agência de ínterim. Trabalhando uma semana num lado, 15 dias em outro, parando em seguida 2, 3 ou 4 semanas até que a agência lhe arranjem outro contrato. Mete-se num empréstimo rápido, (tipo Cete leme) num dos muitos intermediários bancários que existem na Bélgica. Pagando uma mensalidade com uma taxa de juro desproporcionadamente alta em relação às cobradas nos Bancos Luxemburgueses. No entanto, faz ver aos futuros sogros que apesar de estar à pouco tempo emigrado está bem na vida. E para o confirmar, compra tudo do bom e do melhor para mobilar o estúdio. Sobra-lhe ainda dinheiro para comprar um carrito, em ocasião para vir de férias a Portugal, logo no mês de Agosto a seguir.


Os pais, em Portugal, radiantes do sucesso do filho por terras do Grão Duque do Luxemburgo, gabam-lhe a sorte, e espalham por tudo quanto é sítio a sorte que o filho tem naquele país. Ora numa terra pequena como esta, as novidades sabem-se logo no dia seguinte, e quando este jovem chega à Murtosa em Agosto, é olhado com admiração. Pois com tão pouco tempo de emigrado, vem visitar os pais acompanhado de uma jovem girinha, moderna até demais para os pais deste, se não fossem os piercings a mais que esta tinha, até que estaria o quadro perfeito de acordo com toda a família. Mas era ao gosto do filho, e acabaram por nada dizer, o mês de Agosto passou-se e o casal lá regressou ao Luxemburgo. Ao regressarem, depois de passarem três semanas faustosas em Portugal. Emitando, aqueles verdadeiros emigrantes, que já têm uma vida constituída passam, o que não era o caso destes. Deparam-se, com um amontoado de faturas para pagar, mais a renda do Estúdio mais a prestação do tal crédito, e ainda as faturas corriqueiras que aparecem todos os meses. Do pouco que sobrou do crédito, vão pagando as mais atrasadas, o crédito vai ficando para trás acumulando juros, mas o jovem apesar das dívidas, não deixa de amostrar uma vida faustosa, para quem o acompanha no dia-a-dia. Como tal, convida os pais dele a irem visita-lo no mês de Dezembro. Aproveitando assim desta forma, a os pais assistirem ao seu casamento pelo civil nessa altura. Os pais em Portugal, mais uma vez radiantes com o convite do filho, preparam a viagem ao Luxemburgo. No entanto, através de um Telefonema, ficam a saber que o querido filho adoeceu, e que tem que fazer uma cirurgia num Hospital do Luxemburgo. O convite, para os pais irem ao Luxemburgo mantêm-se, só que os pais, tem que arranjar uma certa quantia, e envia-la para o filho para pagar a tal dita operação no Luxemburgo. Os pais, solícitos embora não tendo essa quantia, tratam logo de pedir emprestado o que conseguem, e enviam para o filho enfermo. O filho recebe lá o dinheiro enviado pelos pais, isto sem se preocupar se é deles, se foi emprestado ou até roubado. O importante, é que já tinha dinheiro, para pagar a estadia dos pais e o casamento. O resto logo se via, nem se quer se preocupou que os pais poderiam descobrir que no Luxemburgo, a assistência Médica é uma das melhores da Europa. Onde, se desconta bastante no final de cada mês, mas que depois nada se paga, quando precisamos de tratamento médico. Passa-se o Natal, os pais regressam a Portugal e o prato do dia, é a riqueza daquele país e a boa vida que o filho lá tem. Os meses vão-se passando, e as pessoas que lhes emprestaram o dinheiro, estão a arder sem ele, do filho não chega nem um cêntimo de euro, para abater a dívida. Os pais deste, e sobre a pressão de quem lhe emprestou o dinheiro, lá conseguem liquidar a dívida.

Entretanto, está a chegar-se o mês de Agosto, e o jovem emigrante continua sem ter trabalho fixo. Mas a vaidade, continua no seu cerebelo, o amostrar em Portugal o seu sucesso como emigrante faz com que este nem consiga dormir. Estamos mais ou menos, a meio do mês de Junho, faltam uns 45 dias para as desejadas férias em Portugal. O carrito, do ano passado, esse já não aguenta outra viaje de 1.200 km para cada lado, e até nem parecia lá muito bem apresentar-se na Murtosa com aquele velho carro. É então nesta altura, que este jovem decide comunicar aos pais, que este ano e com muita pena dele, não vai poder visita-los no mês de Agosto. Resultado tem de ser de novo internado, e sofrer uma outra cirurgia, só que desta vez o caso é muito mais grave, e precisa que os pais lhe arranjem 35.000.00 €. Os pais, aflitos sem terem tal quantia, com a possível vida do filho a correr perigo, batem a quantas portas se lembram. De muitas em que bateram, e depois de muitas negativas que receberam, lá ouve uma alma caridosa que disse que sim, por acaso um primo direito, também este ex. emigrante mas da Venezuela. Resultado, os pais já com o dinheiro na mão, tratam logo de envia-lo com toda a urgência para o Luxemburgo. Dinheiro este, que chegou mesmo a tempo de fazer milagres. O que é certo, é que no final da primeira semana de Agosto de 2010, este jovem fez uma surpresa aos pais, aparecendo em sua casa na Murtosa milagrosamente cheio de saúde, e com um potente carro novo.


Mais um ano se passou, e os pais aflitos para pagarem as prestações ao Primo que lhes emprestou os 35.000.00€, e que deu esta importância toda de uma vez, mas que ainda não vira um euro de volta. Começa nesta altura, os pedidos de pagamento da dívida, aos pais deste jovem pela parte do seu Primo e benfeitor. Nesta altura do campeonato, estes pedidos já iam acompanhados com injúrias verbais, e com algumas ameaças de invasão da sua casa, com arma caçadeira pela parte do primo.
A mãe, do jovem emigrante não sabe por onde se à de virar nem o que fazer, para saldar a dívida temendo mesmo pela própria vida. Dai, o voltar a bater a outras portas para que lhe emprestem, essa quantia coisa que não consegue de maneira nenhuma. Pois, como as coisas boas, e o sucesso se sabe logo, num meio pequeno embora todo esse sucesso seja falso, as coisas más, as mentiras a riqueza aparente mais depressa ainda se sabe. O que é certo, é que entretanto chega o Agosto de 2011, este jovem chega à Murtosa no seu bólide, anda pelas ruas do Concelho para trás e para a frente, como que não devesse a ninguém, aparentando que ainda lhe devem mas é a ele. Arranja um grupo de amigos, aluga uma carrinha de 9 lugares vão passar uma semana de férias ao Algarve, enquanto a mãe se desdobra em pedidos de ajuda, para que lhe emprestem os 35 mil euros. O filho, esse regressa à Murtosa, pega no seu bólide vai acabar as férias a Rio de Moinhos terra da sua mulher, da dívida nem sequer discute com os pais, não diz nem jus nem mus ao Primo que emprestou o dinheiro.

Este, o Primo, ao ter conhecimento de que o jovem tinha estado aqui na terra, e continuando sem reaver o seu dinheiro, contrata um advogado e mete o caso da dívida em tribunal. Os pais, do jovem emigrante, ao serem convocados para se apresentarem no tribunal, arranjam por sua vez um advogado. O resultado de todo este cenário, saiu há dias pela boca de um Juiz do tribunal do Baixo Vouga, que leu a sentença tornada em decisão. Os pais, deste jovem, têm agora e a partir desta data, 40 anos para saldar a dívida de 35.000.00€ ao Primo. Depois, de lermos toda esta história, o que é que nos apetece dizer? A mim, só me bem uma ideia à cabeça, que é a seguinte” a Justiça Portuguesa ajuda e colabora com os caloteiros”.

Crónica de Júlio Silva
A opinião de Júlio Silva