A minha irmã comeu a última bolacha Oreo – Joana Camacho

Após duas semanas da minha ausência, cá me apresento, confiante de que ainda são dotados do conhecimento de que o meu sobrenome se escreve com ch e não com x. Não: não faleci, não emigrei e também não entrei numa depressão após ter descoberto que a minha irmã comeu a última bolacha Oreo. Estabeleci – sim – uma relação conjugal de curta duração que, como diria a minha avó: louvado seja nosso senhor Jesus Cristo, chegou ao fim.

A minha mãe sempre me disse: “Filha, tu tem cuidado com quem te metes. Há muito bandido por aí!” Mas nunca (nem uma única vez) fui avisada relativamente a livros de Matemática e manuais de Geologia com índices potencialmente violadores. Malandros! Não é o género de coisa que se deseje aos nossos descendentes.

Ponhamo-lo desta forma: digamos que fui brutalmente violada por um gang de funções trigonométricas e rochas metamórficas. Mas, calma, já denunciei a ocorrência às autoridades e está tudo bem. Um ano de visitas semanais ao psicólogo, e fica resolvido o assunto. Ou assim espero.

Suponho que tenham ouvido falar na greve dos professores, certo? Ora, que pergunta parva. Quem é que não ouviu? A questão é: podem chamar-lhe de muita coisa mas, para mim, isto não foi mais que uma birrinha para não irem à escola. Tal como há a criançada que diz que está doente só para não ir à escola, há os professores que criam greves. Quase aposto que, grande parte dos professores que fizeram greve, foram – em tempos – daquelas crianças que inventavam febres, varicelas, gripes e pés de atleta, para faltarem às aulas. Não me venham com histórias.

E depois ainda temos os estudantes indignados:

– Ai! Ui! Não fiz o exame de Português porque os professores fizeram greve. Sinto-me injustiçado. O deles foi mais fácil, não é justo. Vou dizer à mamã! E ao papá! E ao padre da Freguesia!

Jovens: ontem fui almoçar ao mesmo restaurante que o meu vizinho, e tenho quase a certeza que o frango que ele comeu estava mais bem cozinhado que o meu. Até as batatas tinham outro aspeto! E, pronto, se calhar até estava. Possivelmente, a malta que pediu frango na hora seguinte ainda teve direito a um frango melhor. Mas vamos armar uma escandaleira por causa do frango? Está claro que não, jovens. Está claro que não. Portanto: contentem-se com o vosso frango mais bem passado, e deixem em paz os que já comeram o frango deles, que os coitados estão na digestão.

Em tom de despedida, queria mandar um beijinho para a minha tia, que me lê na Venezuela e… Mas eu estou a tentar enganar quem? Não tenho nenhuma tia na Venezuela. (Nem nenhuma tia que me leia, esperemos.) Bom… e, já que não tenho nenhuma tia emigrante a quem mandar beijinhos, cumprimento elegantemente a pessoa que me lê. Ora então: tenha um bom dia, caro leitor!

Caras pessoas que me leem: caso, por alguma razão, tencionem subornar a autora deste texto, permitam-me que vos deixe uma sugestão… chocolates. Montes e montes deles.

 

Caras pessoas que me leem: caso, por alguma razão, tencionem subornar a autora deste texto, permitam-me que vos deixe uma sugestão… chocolates. Montes e montes deles.

JoanaCamachoLogoCrónica de Joana Camacho
A parva lá de casa