Para quem leu a minha crónica da passada semana, até poderia parecer que vou falar na virgindade, mas sendo a minha rubrica das crónicas a “Ultima Etapa” só o poderia fazer se já estivesse nessa mesma Etapa, o que não… de todo! Prometo que quando lá chegar, se ainda escrever crónicas, falarei sobre isso na minha pessoa!
Assim falarei então na primeira vez que entrei num Lar de idosos…Lar (casa de idosos com problemas crónicos de saúde), uma resposta social ou Lar (casa de velhos) onde tudo é deprimente, onde o cheiro incomoda, onde todos nos parecem tolinhos, chatos, surdos, irritantes e tantas outras coisas de que os velhinhos são intitulados?
Pois bem, sei que o conceito é esse e na verdade a primeira impressão que fica é mesmo essa, uma visão de um ambiente físico com velhos deprimentes, tristes e revoltados por lhe terem tirado o seu próprio lar, a sua casa onde gostariam de envelhecer.
Há momentos pela vida fora que nos marcam, mas uma entrevista para um emprego num Lar é algo que não conseguimos descrever por palavras, pelo misto de sensações e medo que nos causa.
Eu pensei nesse dia…meu Deus…isto é mesmo triste! Eu que até tenho “jeito” para velhinhos (pela experiência que tive com os avós), será que me vou adaptar a isto!
Olhei ao meu redor enquanto esperava e só via cadeiras de rodas, numa delas estava um idoso que me chamou atenção, acho que houve uma empatia de imediato pela cara de felicidade que tinha comparada com muitas que ali estavam, mas de repente ele começa…pêras, pêras, pêras…cintos, cintos, cintos… reinucos, reinucos, reinucos…sapatos, sapatos, sapatos…isto sucessivamente e num tom alto, tão alto que ecoava e entrava nos meus ouvidos sem querer sair. Pensei, isto é de loucos! O senhor não se cala, é preciso ter paciência! Olho para o lado e vejo uma senhora muito pequena, não me parecia muito idosa! Falava sozinha, perguntava e respondia, espectáculo digo eu! Não dizia nada com sentido e a palavra que mais se ouvia era…combinações, combinações! Imaginem a minha cara, já não eram só os cintos os sapatos agora também combinações! A cada momento tudo me parecia cada vez mais difícil ter que lidar com isto diariamente, comecei a sentir algum desconforto confesso, provocado por aquele cenário tão diferente e com uma visão diferente da que tinha dos meus avós.
Passados alguns anos, escrevo com muito orgulho que a opinião de um Lar não é a que fica da primeira impressão…jamais! Um Lar é algo que se aprende a gostar, a conquistar diariamente, porque para as pessoas que lá vivem (idosos) esta é a sua própria casa, casa que não escolheram (pelo menos a maior parte) para passar os seus dias até ao final da sua vida.
Também eles de uma forma mais violenta tiveram um dia que encarar esta primeira vez, sabem eles como! Já alguém imaginou este dia na sua vida, se acontecer claro! O dia em que deixamos o nosso ambiente físico, o nosso espaço, os nossos objetos, a nossa comodidade, a nossa família, os nossos vizinhos…a nossa história até então!
Haverá muito para falar sobre isto nas próximas crónicas!
Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa
Minha nossa, ja ouvi tanto falar destes velhinhos, e ja me ri tanto a custa das suas historias.
Cada cronica tua me relembra coisas boas, as vezes revoltam-me um pouco pois sei que os velhinhos nao sao tratados como merecem,nao por ti mas pelamaior parte das pessoas.
Mas gosto sempre de ouvir as suas experiencias
E ve-se tao bem a alegria estampada no rosto deles quando nos lhe damos um pouquinho da nossa atencao, e nos interessamos pelas suas conversas
Nao custa nada fazer-mos bem aos velhinhos…… E vamos todos pra la
Ainda bem que a tua impressao mudou e te fez ser esta pessoa maravilhosa pos teus velhinhos
Bela, realmente qualquer destas experiencias não é novidade, nem o contexto em que as insiro, pois as minhas crónicas são a transparencia da minha pessoa no dia a dia quer profissional quer pessoal…quantas vezes temos momentos muito agradaveis a contar estas tão maravilhosas situações!
para que melhor te lembres….”Não há toalhas car………….alho?”
Uma justa e bela homenagem ao senhor que dizia… pêras, pêras, pêras…cintos, cintos, cintos… reinucos, reinucos, reinucos…sapatos, sapatos, sapatos de quem com tanto carinho sempre falas-te dele 🙂
Uma primeira vez difici !! felizmente o tempo tudo suaviza!
Beijocas…. pêras, pêras, pêras…
História interessante, sim senhora.
Algumas pessoas sentiram o chão a escapar-se-lhes dos pés ao ir para um lar, acredito. Mas também acredito que outras, sentiram um conforto que há muito tempo não tinham e não sentiam, pois estavam sozinhas e desamparadas.
Enfim, mas tudo o que é a primeira vez, torna-nos ansiosos e receosos….concordo.
Bjs e gostei muito da tua crónica.
Conselho: continua…..
Muito bem!!! Conseguiste tocar na parte sensível de cada um com um tema tão delicado! Esta foi a tua crônica mais triste que li até hoje, que não passa de mais um retrato da realidade. Está ótima a crônica!!
São, as cronicas tal como a vida são compostas de frases lindas…menos lindas… histórias encantadas, de amor ou de tristeza…mas relatam algo que deve servir para expressarmos o que nos vai na alma.
Este tema deixa-nos a pensar como agir perante esta realidade, é esse o meu desejo que todos cheguem lá…”a uma primeira vez em idade avançada”!!!
beijinhos
Como diria a nossa mãe…”que engraçadinha”…o tempo tudo suaviza sim!!!(mentes perversas).Pensavas algum dia voltar a ouvir falar nas pêras!!!pois bem este idoso era inevitavel no historial da ultima etapa!Beijos Fernanda Fernandes
Claudia, concordo na totalidade com o que dizes,pena que muita gente não tenha sequer dinheiro para ir para um lar,porque sem duvida não haveria tanta pobreza, solidão ou abandono. Claro que custa aceitar esta realidade nas que é a resposta a muitas necessidades básicas, disso não devemos ter duvidas,
beijinhos e gostei da tua opinião, aliás, gostamos…eu, o mais opinião e todos os leitores, porque uma cronica serve para isto mesmo, podermos contar com diversas opiniões.