A minha vida dava uma crónica – Humor negro

“Com isso não se brinca”; ”Foi de mau gosto”; ”O humor tem limites”; “João, és bem bonito”. Vou-me habituando a ouvir estas frases sem esboçar qualquer reacção.De facto, defender o humor de uma forma séria é um tarefa mais difícil e bastante menos inteligente do que defender posições sérias utilizando o humor.

O humor negro nasceu quando um senhor que se chama Eddy Murphy se iniciou nas lides do stand up comedy. Numa época onde reinava a intolerancia racial era frequente ele ouvir: “faz humor, negro”. Irado com o tratamento que lhe estava a ser dado Eddy começou a fazer piadas sobre os espectadores que o interpelavam nos modos referidos, piadas que incomodavam e que ficaram com essa designação porque quando alguém lhe dizia “faz humor, negro” ele vingava-se e as pessoas já sabiam que podiam esperar o pior. O que distingue o humor negro do humor normal é que o negro tem quase sempre uma “punchline” muito maior.

É impossível falar de humor negro sem abordar a problemática:O humor tem limites?Sem dúvida.Para mim tem desde logo um grande limite.Não se deve brincar com a morte.
Não se deve fazer piadas depois de morrer porque em primeiro lugar é macabro e em segundo parecendo que não pode assustar as pessoas. Fica desde já a promessa:Depois de morto comprometo-me a não dizer mais piadas.
Diz o estimado leitor, “já em vida nunca te vi a dizer nenhuma piada,tb ninguém espera que o faças depois de morto”.
Respondo eu ao estimado leitor “Tudo bem….Não vou dizer piadas depois de morrer mas garanto-te que nessa altura vais ter sérias dificuldades em adormecer ….”. No inicio do presente ano fiz um comentário na rede social da moda que versava assim:O FBI deu o caso da misteriosa morte, antecedida de castramento, de Carlos Castro como resolvida.Afinal foi algo consentido.O individuo entrou no quarto dele e perguntou:Carlos Castro?Ao que ele respondeu: Sim… Não faltei ao respeito à vitima, não faltei ao respeito ao senhor assassino e nem sequer faltei ao respeito a quem eventualmente o mereceria mais, ao saca-rolhas mas só o facto de ter tocado e brincado com esse tema fez com que as pessoas se referissem a mim como um humorista de mau gosto.Que absurdo…o que passa pela cabeça dessa gente?Desde quando eu sou um humorista? Elas a querer colocar limites ao meu humor e eu a querer colocar limites à falta de humor delas.Neste ping-pong argumentativo disse-lhes que estão à vontade para parodiarem a minha morte como muito bem entenderem e disse-lhes ainda que tudo deve ser encarado com humor nesta vida pois é a melhor forma de ultrapassarmos as tristezas.Riram-se de mim e disseram que era parvo.Reflecti e disse-lhes que quem falou isso não fui eu mas o Marcelo Rebelo de Sousa um destes domingos na tvi e eles disseram que tinha toda a razão,o humor não deve conhecer tabus. Infelizmente a realidade é bem diferente.É muito complicado fazer humor negro sobre a actualidade. Se alguém mandar uma graçola sobre o terremoto de Lisboa de 1755 é humor inteligente que revela cultura e sapiência , mas se eu disser que uma onda de metro e meio para os japoneses já é um tsunami ou que com a radioactividade a que os japoneses estão expostos arriscam-se a que daqui a 2 gerações nascam pessoas bem diferentes como, por exemplo, japonesas giras já sou uma grande besta que não respeita as pessoas e o sofrimento alheio. É complicado e é ténue a fronteira entre o humor que faz rir e o humor que me pode fazer chorar por causa de reacções menos próprias. Um exemplo:Um dos temas proibidos para quem faz humor convencional é fazer humor com crianças.Outro é brincar com a situação de pessoas que desapareceram. Juntemos o melhor destes dois mundos: No que concerne a crianças desaparecidas quero acreditar que há um lugar mágico e lindo onde elas estão todas. Esse lugar será para o comum humorista um campo verdejante onde elas brincam,correm, saltam e jogam futebol com outros meninos entre os quais o Freddy Adu .Para um humorista fã do humor negro esse lugar tem um outro nome: Fundo do mar. O humor negro é temido, não poupa quem se atravessa no seu caminho.É um humor arrogante que se julga sempre melhor do que os outros.É um humor que encanta as mulheres por ser “mauzão” mas este tipo de humor acaba por dar toda a sua atenção a alguém feio que tem de ter muita paciência para o ouvir.Chamam também por isso a este tipo de humor, o humourinho negro.

Crónica de João Pinto Costa
A minha vida dava uma crónica