A minha vida dava uma crónica – Imagine all the people

Confesso.
Quando era novo tinha um amigo imaginário.
Cresci e naturalmente tornei-me uma pessoa adulta e madura.
Que imbecilidade ter um amigo imaginário quando se pode ter uma carrada deles pelo mesmo preço.

Na faculdade conheci o Fábio, o meu companheiro de todas as horas, por quem copiava nos exames.
Um conselho: Nunca copiem por um companheiro, mais vale levar cábulas ou (por estúpido que pareça)até mesmo estudar.
Ah…se fizerem mesmo questão de copiar por um companheiro certifiquem-se que ele não é imaginário como era o Fábio.
Sem nenhuma disciplina feita, fiz-me à vida e fui à procura de emprego.
Consegui que me empregassem numa obra e ainda bem que assim foi pois se não o fizessem nunca teria conhecido o Vasques.
O Vasques era o meu colega imaginário com quem repartia todo o meu trabalho.
Tudo correu bem até ao dia que o meu chefe, um sujeito esquisito que parecia que tinha alucinações, chamou-me ao seu escritório para me dizer que estava despedido por só fazer metade do trabalho que me era ordenado.
Claro que fiquei revoltado…o Vasques fazia bem menos do que eu e continuou a receber seu salário ao fim do mês, além do subsidio de desemprego claro.
A situação seria bem mais grave se não existisse na minha vida a Catarina.
Exactamente. Minha namorada imaginária.
Pensei que ela me poderia sustentar mas o raio da miúda ainda tinha menos dinheiro do que eu.

Definitivamente tenho azar com as companhias que escolho.O Manel, um primo afastado imaginário, com quem estou muitas vezes, aconselhou-me a fazer amigos em redes sociais como o Facebook mas aquilo assusta-me, é tudo tão real que até caras as pessoas têm.
Amargurei na rua por não ter dinheiro para pagar um quarto.
Um dia perdi a cabeça e matei uma pessoa.
Apanhei 18 anos…infelizmente para mim o juiz era bem real.
Ninguém no tribunal compreendeu como tive coragem de assassinar alguém que se limitou a dizer:
“Amigo, nos dias de hoje, só pede dinheiro e passa fome quem quer…nesta vida um pouco de imaginação resolve todos os problemas…”.
Matei-o com uma pedrada na cabeça.
Não foi muito imaginativo pois não?

Crónica de João Pinto Costa
A minha vida dava uma crónica